1. Com todo o respeito pelos professores e educadores que votaram no Partido Socialista, deve sublinhar-se que a classe docente contribuiu de uma forma decisiva e consciente para que o PS tenha perdido a maioria absoluta e mais de 8% de votos relativamente a 2005. Não tinha outro caminho. Nenhuma classe profissional pode admitir ser enxovalhada e humilhada. Muito menos os professores e educadores pela dignidade e especificidade da missão que a sociedade lhes confere. Seria um péssimo contributo para a sociedade que a classe docente se não tivesse rebelado contra uma equipa ministerial cuja incompetência pedagógica, técnica e política ultrapassou todos os limites, prejudicando gravemente a profissão docente e as escolas. E, porque, como diz o adágio popular, «quem não se sente não é filho de boa gente», os professores e educadores revoltaram-se. E o voto contra o PS de Sócrates foi uma das facetas dessa revolta.
Convém esclarecer que o SPGL e a maioria dos sindicatos não alimentou a campanha do «não votes PS» que percorreu a Internet. Enquanto sindicatos, a nossa função foi denunciar as práticas da equipa ministerial e do governo que teimosamente a sustentou até ao fim. O apelo directo ao voto ou ao não voto é do domínio político-partidário que não deve ser confundido com o domínio sindical. Mas os professores fizeram muito bem em ter contribuído para o fim da maioria absoluta.
Aliás, a revolta dos docentes corporizou a exigência ética da defesa dos valores democráticos. Precisamente porque entendem que a democracia não se esgota no momento da votação, os professores e educadores, nos seus sindicatos e nas suas organizações, cumpriram o dever de denunciar as práticas de arrogância e de abuso de poder, roçando por várias vezes a prática ditatorial, que caracterizou o primeiro mandato de José Sócrates. E retiraram-lhe a maioria absoluta porque ele e a sua equipa a transformaram na prática de um poder absoluto, cego, alheio ao espírito democrático. Os professores cumpriram o seu dever de cidadania.
2. Mas um outro dever se lhes impõe: o de encontrarem solução para o caos em que o governo cessante deixou a Educação. O novo quadro parlamentar poderá ser mais favorável à construção de uma melhor escola e à construção de um novo paradigma da profissão docente. Mas sem o contributo pensado e assumido da classe docente nada de sustentado se poderá fazer. Combater o insucesso escolar sem recurso a facilitismos e a jogos estatísticos, melhorar as aprendizagens, criar um modelo de avaliação que não seja castrador, nem injusto, nem penalizador dos melhores –como o actual é-, repensar a carreira docente, fazer regressar à gestão das escolas o espírito democrático, são apenas alguns dos hercúleos trabalhos que estão à nossa frente. Não há tempo a perder, há que tomar a iniciativa.
3. E é já no próximo dia 5 de Outubro – Dia Mundial do Professor – que vamos iniciar esta longa caminhada. Regressemos um pouco mais cedo do fim de semana prolongado, e marquemos presença, pelas 15,30, na Secundária Camões, em Lisboa. Além da intervenção do secretário geral, António Nóvoa aceitou o convite da Fenprof para se dirigir aos professores. Todos conhecemos o rigor do seu espírito crítico, todos conhecemos a sua paixão racional pela Educação. Ele é a voz mais indicada para o início da caminhada. Contamos consigo!
sábado, 3 de outubro de 2009
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