terça-feira, 30 de novembro de 2010

MOURINHO: DE "SPECIAL ONE" para "SPECIAL FIVE"

Ou como Jesus lhe ficou eternamente agradecido! Só falta agora um APOEL qualquer que mostre ao Mourinho as delícias de um "SPECIAL THREE" para o mundo ser perfeito.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A BARBÁRIE SUÍÇA

Há povos assim: a riqueza e o bem-estar materiais não se fazem acompanhar de um desenvolvimento civilizacional e de cultura de tolerância e de solidariedade. Têm dinheiro, mas são bárbaros. É o mínimo que pode dizer-se sobre o resultado do referendo através do qual a maioria dos suíços decidiu que seriam expulsos do país os emigrantes que sejam condenados por crimes. Que crimes? Parece que todos servem. Portugal já viveu uma situação similar quando os norte-americanos fizeram regressar aos Açores uma série de portugueses açoreanos, alguns há longos anos radicados nos EUA e já sem qualquer ligação ou família na sua terra de origem, que eram acusados de crimes ou estavam há muito tempo desempregados. Esta decisão penaliza duplamente os emigrantes e contraria as normas internacionais. A Suiça tornou-se um estado pária?

domingo, 28 de novembro de 2010

PRIMAVERA #23
















Fotografia de Felizarda Barradas, professora, dirigente do SPGL e fotógrafa.

É A FAVOR DA ADOPÇÃO POR CASAIS HOMOSSEXUAIS?

Isto é pura cretinice. Honesto seria algo do género:

Depois de aprovado o casamento homossexual, independentemente da opinião pessoal, a adopção é inevitável. Porquê não digo, porque me custava votos. Eu sou de outra geração… relativamente a que geração, não digo, porque não quero perder votos. A adopção sempre me pôs mais problemas, mais engulhos do que o resto — sim, porque o resto me punha engulhos, mas achei por bem não perder votos. Não tenho um preconceito, tenho vários, como toda a gente. Inclusivamente o de achar que pensar nas crianças e dizer que elas são muito cruéis é um argumento válido contra a adopção; mas dizer uma barbaridade destas talvez me traga votos daquelas pessoas que até têm um amigo gay. Seja como for, sou pelas liberdades e pela eliminação das discriminações. Porque é uma frase que fica sempre bem, e pode ser que a sociedade mude muito e eu possa assumir, um dia, que estou aqui a dizer, no fundo, que vivo bem com uma discriminação, mas que também assumo que ela existe. Como vê, dá para os dois lados, não deixe de votar em mim.

E não, não estou nada preocupado. Os meus apoiantes não vão criticar o meu discurso, porque estão empenhados, comigo, em semear votos em terra de ninguém.


NOTA: ESTE TEXTO É DA INTEIRA RESPONSABILIDADE DE QUEM O ASSINA, QUE SE CHAMA MARIANA. O PATRONO DESTE BLOGUE DEIXARÁ POR CERTO UM COMENTÁRIO SERENO E INTELIGENTE AÍ EM BAIXO, DEPOIS DE ME TELEFONAR A DEBITAR INSULTOS.


sábado, 27 de novembro de 2010

BASTA AMEAÇAR…

Do ponto de vista da "independência" e da "autonomia" que associamos a um país soberano, batemos no fundo. Basta que o FMI tussa ou a sr.ª Merkel balbucie para Portugal, como aluno bem comportado, corra a satisfazer os seus desejos (de requinte. Bravo, Ambrósio!) Nada de espantar portanto: num dia, os jornais anunciam que os senhores do FMI acham necessário alterar as leis laborais para fragilizar ainda mais a situação do trabalhador. No dia seguinte, na 1.ª página do Público podia ler-se: "Governo reage à pressão e prepara-se para alterar as leis." Estamos conversados! Resta-nos agudizar a luta — esta ditadura dos senhores dos "mercados" (bancos e especuladores financeiros) vai obrigar-nos a reagir. Vai mexer com todos.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O IMPERIALISMO USA O "PAPEL" MAS NÃO É UM TIGRE DE PAPEL

Nos meus tempos de juventude, havia o imperialismo americano e o social-imperialismo russo. De ambos (ou só do americano?) diziam os maoistas que era um tigre de papel. Os jornais de hoje sublinham o ressurgimento de um novo (mais rigorosamente recauchutado) imperialismo — o alemão. Ele prepara-se para nos impor, porque isso lhes convém a ele e a mais uns tantos, a ditadura do FMI — ou seja ainda medidas mais duras contra os trabalhadores. Eles têm "papel", nós não.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

5 ESTRELAS: BISPO DE BRAGA CONSIDERA POUCO 1 DIA DE GREVE

Surpreende, mas deve ser bem entendida a declaração (ouvi-a ontem, dia da GREVE GERAL logo de manhã na rádio) do bispo de Braga, D. José Ortiga. Entende o Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa que os trabalhadores e os portugueses em geram têm de ser muito mais críticos e interventivos no que respeita à política. Manifestando implícita solidariedade com os que ontem estavam em luta, o bispo foi mais longe: é um dever dos cidadãos protestarem. E um dia de greve é pouco, não porque defenda que devam ser 3 ou 4, mas porque é preciso uma intervenção política mais continuada e exigente. Estaremos a assistir ao regresso de uma "nova" igreja católica ?

terça-feira, 23 de novembro de 2010

ESPECTÁCULO DA GREVE MUDOU DE ESPAÇO: É NA PRAÇA DA FIGUEIRA

A Câmara Municipal de Lisboa só ontem se lembrou que já tinha cedido o Rossio para outras iniciativas incompatíveis com a montagem de um espectáculo. Acabou por nos ceder a Praça da Figueira. É lá que nos juntaremos no final do dia da greve geral para saudarmos o que esperamos venha a ser uma grande jornada de luta! É verdade que haverá dificuldades com os transportes — tente uma boleia! O Jorge Palma, o Camané, o José Mário Branco, o João Gil, o Rui Curto, o Paulo Ricardo, e muitos outros lá estarão a lembrar-nos que às vezes a cantiga é uma arma! Viva a Greve Geral!

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

CINISMO OU INCOMPETÊNCIA DE TEIXEIRA DOS SANTOS

Alguns deputados do Partido Socialista parecem sinceramente preocupados com o facto de a PT, ao antecipar para 2010 a distribuição dos dividendos aos principais accionistas (bancos ou grandes investidores) roubar (é esse o termo adequado) 160 milhões de Euros (imposto que deveria ser pago). Deveriam também estar preocupados – e acredito que estejam – com o facto de o governo do seu partido saber há meses do negócio PT-VIVO e não ter tomado qualquer medida que evitasse esta escandalosa (e de facto consentida) fuga aos impostos de uma empresa que já foi empresa pública (nesse tempo não fugiria) e de que faz parte a CGD…
É licito admitir que, para lá do palavreado público, haja acordos lesivos de todos nós entre a administração da PT e o Governo. A menos que Teixeira dos Santos aceite que anda a “dormir na forma”. A quem vai o Estado arrebanhar os 160 milhões que aceitou que a PT não pagasse, é fácil de adivinhar: ao “Zé-Povinho”.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

CAVACO SILVA: A SUA VERDADE

Num momento em que se anunciam pesados cortes para o funcionamento das escolas públicas e em que estas são (compreensivamente) pressionadas para estarem abertas ao fim de semana de modo a que alunos possam comer; num momento em que os dados estatísticos apontam para um aumento de necessidades básicas das crianças e jovens que as escolas públicas, com enormes dificuldades, vão satisfazendo, Cavaco Silva resolve fazer propaganda de mais um colégio para ricos (fala-se em 500 Euros de mensalidade mínima), obviamente ligado à igreja católica (que supostamente deveria estar ao lado dos mais necessitados). Mais grave ainda: Cavaco Silva questionou que o Ministério da Educação corte 20% no apoio ao ensino privado — declaração ignóbil (ou sem sentido?) feita na abertura de um colégio de luxo, mas não disse uma única palavra sobre os cortes que já estão a atingir as escolas públicas. Cavaco é mesmo o candidato da direita reaccionária.

SERÁ QUE TUDO PODE SER COMPRADO?

Há poucos dias, a imprensa escrevia que a empresa alemã que negociou a compra dos célebres submarinos (a Ferrostahl) se prontificava a pagar 4,8 milhões de euros para encerrar a investigação sobre eventuais actos de corrupção no negócio. Não sei se a proposta foi aceite. Ontem o editorial do Público, comentando notícia inserta em outra página, afirmara que o governo inglês estava disposto a pagar milhões de euros para evitar que fossem tornados públicos os documentos sobre as torturas e tratamento de prisioneiros em Guantanamo. Será que tudo está à venda? Perdemos todos os valores?

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

ESPECTÁCULO DA GREVE GERAL :: 17H30, ROSSIO (LISBOA)

MAIS CRISTALINO QUE ÁGUA PURA!

O sr. Trichet, chefe do Banco Central Europeu (BCE) está contra a redução dos salários dos administradores do Banco de Portugal — corte que ameaça a maioria dos trabalhadores da administração pública. Ou seja: podem cortar-se os salários dos porteiros, auxiliares, técnicos do BdP: só nos escandalosos salários dos seus administradores é que não se pode tocar.
O mesmo alega o chefe maior da CGD: não quer cortar salários aos seus quadros com o receio que estes "fujam para o privado". Corte-se no salários de quem nos atende nos balcões, nos salários dos técnicos intermédios, mas lá no topo nem pensar!
São estes mesmos os senhores que nos impingem a necessidade de sacrifícios a suportar por todos de forma justa? O que eles querem é, mais uma vez, pôr-nos a nós a pagar a crise que eles provocaram. O capitalismo no seu melhor!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

PRIMAVERA #22
















Fotografia de Felizarda Barradas, professora, dirigente do SPGL e fotógrafa.

NÚMEROS DRAMÁTICOS

Ouvimos e lemos hoje que o custo do trabalho em Portugal diminuiu 0,5%. Dramático num país que já tinha dos mais baixos salários na UE. Certamente que alguns ficaram entretanto mais ricos, ajudando ao triste título de pais que na UE apresenta maiores desigualdades sociais. Claro, há também os números da dívida…

domingo, 14 de novembro de 2010

ISTO NÃO É NENHUMA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO: EIS O QUE O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO ACABA DE RECONHECER

Quando se cria uma lei ou um modelo e depois se torna necessário acumular excepções para a sua aplicação torna-se evidente que a lei ou o modelo não serve. No caso concreto — o modelo de avaliação de desempenho docente — a situação é ainda mais nítida porque as excepções agora admitidas assentam em barbaridades pedagógicas. Se não, vejamos:
O modelo do ME criou a figura dos relatores a quem compete acompanhar o desempenho dos seus colegas de grupo. Estipula a lei que estes avaliadores devem estar pelo menos no 4.º escalão da carreira e sempre num escalão superior ao do avaliado. Esqueceu o ME que em muitas escolas, face à corrida às aposentações e à proliferação de contratados, há grupos disciplinares (e mesmo departamentos) em que não há professores do quadro no 4º escalão ou acima dele. Resultado: lá veio agora uma circular admitindo — com que fundamento legal? — que nesses casos qualquer professor na carreira pode exercer essas funções. O que, além de caricato,abre novas perplexidades: e se o relator/avaliador estiver no mesmo escalão do avaliado — e portanto em concorrência com ele?
Mais insustentável ainda é admitir que quando não seja possível que o avaliador seja do mesmo grupo disciplinar, possa um professor de qualquer outro grupo desempenhar essas funções, caso em que avaliará apenas a vertente pedagógica! Quem tal escreve — o ME — está indirectamente a dizer que se pode ensinar muito bem ou de forma excelente o que cientificamente não se sabe, ou que, no mínimo isso não é avaliado. Se um professor de Filosofia tiver que ser avaliado por um professor de Português, ou um director de Educação Física tiver que avaliar uma aula de Matemática do 12º ano do coordenador do departamento, poderá o avaliado cometer imprecisões ou mesmo erros crassos: desde que os alunos sejam intervenientes, bem comportados e no final mostrem que aprenderam o que o professor lhes ensinou — mesmo que sejam erros e disparates- terá fortes probabilidades de ter muito bom ou excelente. Este é o triunfo do pior que as pedagogias têm: a desvalorização do que se ensina (ou do que se aprende) face ao modo como se ensina ( ou se aprende).
Muito mais há para dizer sobre este modelo que o ME quer impor às escolas — e há que tornar claros os absurdos que lhe são inerentes. Mas a conclusão só pode ser que "isto" não pretende avaliar o desempenho de ninguém. É apenas um modo de seriar os docentes para o número de vagas que houver para preencher. Tão válido como o sorteio ou o critério da amizade com quem avalia.
Impõe-se separar de vez a avaliação de desempenho da progressão na carreira e atribuir-lhe a dimensão formativa — o que "isto" de facto ignora.

sábado, 13 de novembro de 2010

SOBRE A IDEIA DE UMA GRANDE COLIGAÇÃO

O ministro Luis Amado deu voz pública ao que outros vinham dizendo de forma menos audível: se as políticas do PSD e deste PS de Sócrates são tão semelhantes, porque não se fundem definitivamente – e teríamos enfim a grande estabilidade? Teríamos sobretudo uma clarificação ideológica e política; deixaríamos de ter um PS que se reclama de esquerda com uma política de direita. Talvez seja boa ideia. Tornaria o jogo democrático mais claro.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

PROTEJAMOS OS NOSSOS FILHOS (E OS DOS OUTROS, JÁ AGORA)

Eu sei que não vale propriamente a pena explicar a esta malta que

1. A sexualidade não é como a religião: não escolhemos ou somos educados ou iluminados para sermos seres sexuais. Nascemos assim e por isso mesmo;

2. A educação sexual existe, sempre existiu; que outra coisa é o silêncio, o tabu, que uma educação para a vivência da sexualidade? Os resultados estão à vista;

3. Ninguém é dono de ninguém, nem os pais dos filhos. Vivemos (e bem) numa sociedade que protege as crianças legalmente, atribuindo-lhes direitos. Existe uma coisa chamada escolariedade obrigatória, existem cuidados obrigatórios de saúde, e a tirania dos direitos castiga de facto os pais que não cumprem as suas obrigações;

4. A educação sexual é uma questão de saúde pública, por isso é obrigação do Estado intervir, garantindo nomeadamente o acesso à informação. Todos temos direito a ela, e temos a obrigação de não abdicar desse direito, mais não seja porque grande parte da nossa sexualidade é exercida com outros;

5. Combater a homofobia nas escolas não é sancionar ou deixar de sancionar comportamentos de qualquer espécie. É combater a violência, a discriminação, o medo e o bullying — e o Estado tem de ter princípios claros quanto a isso. Caso contrário, será um atentado à liberdade das "famílias" educar contra o racismo e a xenofobia, por exemplo;

6. Nós, os pais que acham que a educação sexual nas escolas é fundamental para os nossos filhos e para a sociedade que construímos com eles, não abdicamos do nosso dever que abordar, sempre, o assunto. Cada um com as suas ideias sobre temas como a contracepção, a relação com corpo, a castidade, as formas de relacionamento; conhecer não é exercer, mas é fundamental para que se exerça em consciência. Por outras palavras, não é por saberem o que é um preservativo que os adolescentes vão ter relações sexuais; mas se não souberem não deixam de as ter por isso, com o ligeiro detalhe de os bebés não virem de Paris nem os crucifixos serem particularmente eficazes contra as doenças sexualmente transmissíveis. Saber e assumir que somos seres sexuais não é um atentado à virgindade militante, à abstinência, ao sexo para fins meramente reprodutivos, ou ao quer que seja; aliás, garante é que são opções informadas, o que as valorizará por certo para quem as pratica;

6.1 Sim, há pais que não querem ou não sabem ou não estão para educar sobre o assunto. Azar das crianças e de quem se cruzar com elas?

7. Toda a gente se masturba. Desde muito cedo, caso não se lembrem.

Se calhar devíamos ter aproveitado para discutir o assunto mais a fundo quando teciam grandes loas à educação sexual nos debates sobre a IVG.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A VIDA DIFÍCIL DOS EMPRESÁRIOS DO SECTOR TÊXTIL

Em tempos de crise, está visto, aumentam os níveis de lata. Depende de nós saber se aumenta proporcionalmente o nível de paciência-barra-cegueira.
Dizem os empresários do sector têxtil que a procura está a aumentar, e que estão com dificuldades em contratar pessoal para suprir a consequente necessidade laboral, "porque têm dificuldade em competir com os subsídios". É óbvio que há que averiguar, mais uma vez, que tipo de ofertas estão a ser feitas; e que raio de aumento de procura é esse que não vale o investimento em salários dignos e em trabalho com garantias que vão para lá de um subsídio com termo, ao qual grande parte dos desempregados nem sequer tem direito.
Mas, sobretudo, vamos perceber de uma vez por todas que o subsídio de desemprego não é uma benesse, nem um factor de competição no mercado, mas um direito, para o qual quem usufrui dele descontou enquanto esteve a trabalhar, em valores proporcionais ao respectivo rendimento. Grave é que tantos de nós não tenham sequer direito a tal coisa, porque o mesmo vínculo que nos torna descartáveis para o mercado nos veda essa garantia mínima.
E é assim tão estranho e condenável que se recuse um trabalho a termo que garante um salário inferior a um subsídio (que é fruto do trabalho!), quando aceitá-lo se traduz de facto numa redução de rendimento ao fim do mês? Pensem em quem tem crianças pequenas a cargo, sem acesso a creches da rede pública, e sem ter onde os deixar quando os horários não são compatíveis; pensem nas despesas de alimentação e deslocação, por exemplo. Pensem sobretudo que estas coisas contam mesmo quando se vive com menos de 500 euros por mês. Já não basta o emprego ser um privilégio; agora o trabalho também é uma punição para o crime de não ser rico?
Falta muito para percebermos que mudamos o mundo todos os dias, quer queiramos ou não? Se deixamos que nos emprenhem pelos ouvidos e nos convençam que o silêncio é inócuo, não venham depois dizer que foram só os outros que fizeram os dias assim.

CONSELHOS CAVAQUISTAS

1- Não diga nada sobre as "patifarias" do seu patrão: ele pode zangar-se e lá se vai o emprego.
2- Não diga nada sobre o não respeito dos direitos humanos na China: eles podem zangar-se e lá se vai o negócio.
3- Não diga nada sobre a rapinagem dos mercados e dos banqueiros: eles podem zangar-se e sobem ainda mais os juros
4- "Coma e cale." Obedeça e de "bico calado". Assim não irrita ninguém e fará a sua "vidinha"
5- Vote em mim!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

CASSANDRA E O PEQUENO-ALMOÇO

Há uma nova panca nacional: opinar com indignação informada sobre a relação custo/valor nutritivo do pequeno-almoço de quem recebe o Rendimento Social de Inserção. E é como na história da sopa de pedra: o enredo é sempre o mesmo em toda a parte, só ficamos mais informados quanto aos hábitos alimentares do povo em questão — e em Portugal, decididamente, não vamos para lá da bola de berlim/pastel de nata com galão.
Não tenho qualquer dúvida de que são os pasteis de nata que fizeram descabambar isto tudo, e que ser pobre acarreta a obrigação de estar na vanguarda da nutrição: afinal, pão de mistura integral, sumo de laranja natural e compota de abacate no recato do lar são o que garante a erradicação do desemprego, e fazem parte do quotidiano da esmagadora maioria das famílias decentes em Portugal. Como se sabe.
Sabe-se também que há crianças a passar fome nas escolas (porque os pais não abdicam da sua dose diária de gordura hidrogenada, claro), e que os filantropos "mercados" e o FMI vão acabar com isso garantindo que o Estado passe a pagar a empresas privadas idóneas os valores milionários do RSI e dos abonos de família para que disponibilizem cursos de frequência obrigatória sobre poupança e nutrição. Ministrados por técnicos especializados, a recibos verdes e a troco de 300 euros e de uma mão cheia de amêndoas, que são uma excelente fonte de nutrientes.
É este o futuro, sereno e inevitável. Somos contra, mas apoiamo-lo. Porque a política de verdade é a do fingimento, e esses senhores e senhoras a quem gostamos de chamar mercados, que se nutrem das nossas vidas nos seus festins de especulação, têm a garantia constitucional de que ninguém vai querer comentar o que austeramente comem ao pequeno-almoço. Têm direito a isso, porque quem paga, manda.

AVES DE RAPINA

Estranha solidariedade esta: se um país tem dinheiro consegue empréstimos a 2 ou 3 por cento; se está em dificuldades emprestam-lho a 7, 9, 12 por cento. Sim, eu sei: é esta a lógica do capitalismo no seu esplendor. Só agora alguns entendem a apregoada solidariedade que teríamos — garantiam-nos a pés juntos — da (então) CEE, agora UE. Solidariedade na base da rapinagem.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

PRIMAVERA #21














Fotografia de Felizarda Barradas, professora, dirigente do SPGL e fotógrafa.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

EM NOME DA IGUALDADE DE DIREITOS, TAMBÉM QUERO QUE ME SUSPENDANM E ME CONTINUEM A PAGAR O ORDENADO

Parece moda: foi o Vara, mais o Jardim (do BCP), mais uns tantos compinchas do Jardim Gonçalves (que me garantem ser um dos testa-de-ferro da Opus Dei), antes terão sido outros marajás, agora, leio nos jornais, calhou a sorte aos três da REN: já que são arguidos, vão lá para casa descansadinhos que no final do mês lá terão o “volumoso” cheque depositado.
Diz a Constituição que somos todos iguais perante a lei e o princípio (social-democrata) da “igualdade de oportunidades” é aceite por toda a gente. Portanto, peço à sr. ª Ministra da Educação que me “suspenda” mantendo-me o ordenado. E como não sou acusado de nenhuma trafulhice (ao contrário dos anteriormente citados) acho que tenho direito a um suplemento remuneratório por bom comportamento e por não entupir os tribunais.

SERÁ QUE A VERDADE VEM MESMO AO DE CIMA COMO O AZEITE?

A pretensão do governo de Sócrates de que a PT distribua aos accionistas os dividendos após 31 de Dezembro deste ano, de modo a ser “apanhada” pela nova legislação que lhes aumentaria os impostos a pagar pelos lucros, causa-me um sorriso amarelo. Primeiro porque, segundo foi sempre apregoado pelos defensores deste capitalismo de casino, a função de uma administração de uma empresa é zelar pelo interesse dos que nela investiram o seu (grosso!) pecúlio. Seria pois contra todas as regras do capitalismo que uma grande empresa tomasse uma decisão contra os interesses dos seus accionistas. O mais provável é que os accionistas demitissem a administração. Mas sobretudo esta preocupação do governo vem tornar claro que o PCP e o BE têm inteira razão: se a estas grandes negociatas bolsistas tivesse sido, desde sempre, aplicada a justa taxa de imposto, teriam entrado muitos e muitos milhões nos cofres do Estado. Provavelmente não estaríamos em situação tão “apertada” e não seria necessário cortar os salários. Ao menos, que se faça justiça no futuro – os ricos, já que não a pagam, ao menos cumpram a parte que lhes cabe no combate à crise !

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

UMA DECLARAÇÃO HONESTA

Luís Campos Cunha, ex-ministro das Finanças deste governo: "Os rendimentos do trabalho, em particular, os dos funcionários públicos, é que estão a pagar a crise." (Público, 3 de Novembro)

ALGUNS DADOS A NÃO ESQUECER

1. Portugal é um dos países socialmente mais injustos da Europa. Entre nós, o fosso entre os mais ricos e os mais pobres não cessa de se alargar. Será que também isso é culpa da "crise internacional"?

2. Os gestores (privados e públicos) portugueses estão entre os mais bem pagos da Europa. Os trabalhadores portugueses entre os que menos ganham. Será a culpa da "crise internacional"?
A propósito: qual o contributo dos gestores privados para a superação da crise? Não acredito que paguem mais impostos porque eles são peritos nas artimanhas para os não pagarem. No mínimo deviam ser proibidos de virem às televisões insultar quem trabalha e ganha por mês menos do que eles ganham por dia.

3. A propósito de televisões: por que raio temos de ouvir sempre os mesmos economistas — os tais que quando foram ministros nada resolveram, os mesmos que nos apontavam a Irlanda como o modelo que devíamos imitar, os que foram incapazes de prever a crise, etc. …?

terça-feira, 2 de novembro de 2010

NO COMMENTS...

É importante saber, e não esquecer que "… os portugueses comuns (os que têm trabalho) ganham cerca de metade (55%) do que se ganha na zona euro, mas os nossos gestores recebem, em média:

- mais 32% do que os americanos;
- mais 22,5% do que os franceses;
- mais 55% do que os finlandeses;
- mais 56,5% do que os suecos."


(dados de Manuel António Pina, Jornal de Notícias, 24/10/09)

E são estas "inteligências" que clamam para os telejornais que "os portugueses gastam acima das suas possibilidades"…





segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A LÓGICA INSUSTENTÁVEL DA AUTORIDADE RECESSIVA

Por José M. Castro Caldas

As políticas de contenção orçamental acelerada pretendem precisamente gerar efeitos recessivos, aumentar as desigualdades e asfixiar o Estado social.

Dizer da contenção orçamental acelerada que ela encerra o risco de nova recessão, de aumento das desigualdades e de asfixia do estado social, sendo verdade, é uma caracterização enganadora das políticas de austeridade recessiva. A questão não é apenas “o risco” que elas encerram mas antes a sua intenção. As políticas de contenção orçamental acelerada pretendem precisamente gerar efeitos recessivos, aumentar as desigualdades e asfixiar o Estado social. Pretendem e provavelmente conseguem.
Qual é a lógica? Induzir a descida dos salários em termos nominais e reais, para reduzir o consumo, o preço dos bens e serviços de exportação e atrair capitais. Supõem que se isto acontecesse o desequilíbrio da balança de bens e serviços seria corrigido, as necessidades de financiamento externo diminuiriam, obtendo-se deste modo o que a desvalorização cambial que deixou de ser possível permitia alcançar no passado.
A descida dos salários pretendida não é apenas a dos salários da administração pública. Essa descida pode ser obtida por decreto. Já a outra, a do sector privado, é mais difícil. Mas pode ser conseguida com a influência que as decisões salariais na administração pública têm no sector privado, com mais desemprego, uma menor duração e montante das prestações sociais de apoio aos desempregados e a retirada de outros apoios sociais. Com mais desemprego e menos protecção os trabalhadores seriam obrigados a aceitar trabalhar por menos dinheiro. A isto chamam eles com enorme desfaçatez “políticas que tornam o trabalho compensador”.
Para alcançar os seus objectivos a contenção orçamental acelerada deve ao mesmo tempo acentuar as desigualdades. A factura do “ajustamento” orçamental não pode ser paga pelos rendimentos de capital, porque, supõe-se, isso assustaria os capitais que se pretendem seduzir e espantá-los-ia para outras paragens.
Além disso, o Estado social que se supõe insustentável em termos financeiros deve ser emagrecido, sobretudo no sector da saúde e das pensões. A prestação de cuidados de saúde e as pensões devem degradar-se para que floresçam mercados novos e novas oportunidades para os fundos de investimento e as companhias seguradoras em sectores relativamente protegidos da concorrência.
A estranha noção de que a recessão pode ser remédio está para a Economia como o uso de sangrias e sanguessugas está para a Medicina. Baseia-se numa pseudo-ciência económica que vigorou antes da Grande Depressão, foi varrida do mapa depois dela, e renasceu com novas roupagens na década de 1980 do século XX. Essa Economia da idade das trevas cultiva as abstracções e os pressupostos irrealistas e recusa-se a aprender com a experiência.
Foi precisamente a experiência da Grande Depressão que fez compreender que a lógica da austeridade recessiva está errada. A descida dos salários numa só empresa ou num só país pode permitir a esse país (ou empresa) recuperar o equilíbrio vendendo bens e serviços mais baratos. Mas a mesma descida de salários não tem qualquer efeito nas contas externas do país ou no balanço da empresa, ou tem efeitos contrários aos desejados, quando é realizada em simultâneo por todos. Para onde exportar quando todos recorrem em simultâneo a estratégias recessivas como actualmente ocorre na União Europeia? A esta não-correspondência entre o que se passa nos níveis micro e macro da economia veio a chamar-se a “falácia da composição”.
A Economia da idade das trevas pressupõe também que menores salários podem atrair mais capitais. A experiência mostra, pelo contrário, que os custos salariais, não são de há muito o factor de competitividade que os capitais, pelo menos os capitais que nos interessa atrair, procuram. Os capitais que procuram baixos salários têm muito para onde ir que não a Europa.
As benesses fiscais, pelo contrário, são importantes para os capitais móveis. Mas por um efeito de composição semelhante ao dos baixos salários são inúteis quando todos os Estados recorrem a elas num stip tease social indecoroso como o que actualmente decorre.
Por outro lado, o estado social é sem dúvida caro. Mas a experiência mais uma vez mostra que a provisão privada de saúde e de pensões é muito mais cara, essa sim ao ponto de ser insustentável.
Desmentida pela experiência, descredibilizada pela exposição das suas consequências, a Economia da idade das trevas, foi abalada nos duros dias de crise de 2008 e 2009. Mas quando a falência reemergiu como crise das finanças públicas, recobrou forças e voltou a ocupar o espaço público. Afinal, esta foi a Economia que os muitos economistas que hoje povoam os círculos do poder público e empresarial aprenderam.
Os velhos hábitos de pensamento são os últimos a morrer.
Tão incorrecto como caracterizar a contenção orçamental acelerada a partir dos riscos que encerra é presumir que os governos europeus, incluindo o nosso, adoptam a austeridade recessiva, depois de muitas insónias, só porque os mercados financeiros, o BCE e a senhora Merkel mandam. Na realidade, os ministros das finanças, os burocratas da comissão, os governadores do BCE e dos bancos centrais, autores dos planos que depois são apresentados aos chefes de governo como a alternativa única que “a ciência” determina, educados que foram na Economia da idade das trevas acreditam mesmo que a deflação salarial é o caminho mais curto para os amanhãs de equilíbrio que cantam. Podem ter alguma dificuldade em persuadir colegas que se assustam com as eventuais consequências eleitorais e sociais das sangrias violentas, mas no final têm conseguido.
A Economia da idade das trevas impede-os a todos de ver que a saída para a crise das finanças públicas devia ser procurada por outras vias. Não tinha de ser assim.
Na realidade, uma União Europeia dotada de um orçamento e de um Banco Central capaz de intervir no mercado primário da dívida soberana, capacitada com instrumentos de política económica, atenta tanto aos défices das balanças correntes como aos seus excedentes, e capaz de cuidar de uma inserção na economia global que não servisse apenas os interesses dos sectores exportadores alemães, teria outras opções que não a austeridade recessiva.
Mas uma tal União Europeia só é possível com outros agentes políticos. A Economia da idade das trevas penetrou fundo em todos os partidos do arco da governação europeia. Sacudir a sua hegemonia só é possível com uma mudança do pessoal político dentro dos partidos e com uma mudança da composição política dos parlamentos e governos.
Por isso mesmo, mais errado ainda do que presumir que os governos europeus adoptam a austeridade recessiva a contragosto é pensar que aos cidadãos nada mais resta do que consentir ou mesmo apoiar políticas que não só empurram os custos do “ajustamento” para quem menos pode e merece pagar, como são incapazes de cumprir as suas promessas. No final um Estado e uma economia mais pequenos terão mais dificuldade em fazer face ao serviço da divida. Mais tarde ou mais cedo “os mercados” não deixarão de nos castigar por isso mesmo.
A austeridade recessiva é um plano inclinado. Não deve ser apoiada nem activa, nem passivamente. Tão pouco o devem ser os seus executantes. Os limites estão a ser ultrapassados e para lá deles o que está em causa é própria possibilidade de viver livre e dignamente em sociedade.

(in Dossier "Orçamento de Estado 2011" do Esquerda.Net de 31 de Outubro)