sexta-feira, 26 de agosto de 2011

NOTÍCIAS QUE ENTRISTECEM

Custa-nos sempre constatar que nem sempre os nossos sonhos concordam com a dura realidade. Recordo os tempos em que, no PCP, celebrávamos comícios de apoio ao MPLA, que considerávamos comungar do nosso ideal de socialismo e de fidelidades marxistas. Receber agora informação de que o Presidente da República Popular de Angola, governada pelo MPLA pretende comprar para si próprio uma casa de não sei quantos milhões em Portugal, que há contas bancárias de dinheiros provenientes do petróleo que só o presidente pode movimentar, que os seus familiares se tornaram nos mais importantes capitalistas da República Popular, ainda me deixa perturbado… Sobretudo porque a população angolana continua, na sua esmagadora maioria, em situação de grave penúria. Presumo que o MPLA continuará a estar presente na Festa do Avante e a sua delegação será certamente recebida com os tradicionais aplausos no comício…
Como se a situação de Angola não fosse já por si mais do que inquietante, confesso que fiquei chocado com o que a televisão mostrou sobre o luxo infame em que vivem (viviam?) Khadafi e seus filhos. É que também a Líbia se reclamava do socialismo… (Nota: não me regozijo pela queda de Khadafi nas condições em que ele se deu).
Bem sei que estas análises são epidérmicas, que há contextos a ter em conta, que há lógicas políticas e culturais e muitas coisas mais. Mas lá que entristece, entristece mesmo.

sábado, 20 de agosto de 2011

SOBRE AVALIAÇÂO DOS PROFESSORES – NOTAS SOLTAS SOBRE A QUESTÃO DAS “QUOTAS”

1. Obviamente, não faz sentido que um profissional (neste caso, professor ou educador) que seja Muito Bom ou Excelente deixe de o ser só porque no seu local de trabalho se esgotou a “quota atribuível”. Ou seja, se estivesse noutra escola, fazendo exactamente o mesmo, poderia passar para o grupo dos excepcionais… Ser Muito Bom ou Excelente professor deve significar um mérito absoluto e como tal reconhecido.

2. Numa “visão” rápida sobre o que se passa nas escolas, parece-me poder dizer-se que são os professores contratados que mais se candidatam a notas de excelência; pelo contrário, em muitas escolas o número de candidatos a notas de mérito excepcional entre os docentes dos quadros é notoriamente inferior ao número de vagas disponível. Situação, um pouco “convexa”, mas facilmente explicável: os contratados tentam uma melhor posição para o concurso de contratação (porque se mantém o princípio irresponsável e fraudulento de fazer incidir as classificações de Muito Bom e Excelente na graduação para concurso); os docentes dos quadros, como não há concurso, nada beneficiam com a atribuição dessas notas de mérito.

3. Escolas há em que todos os docentes contratados se candidataram a notas de mérito excepcional e todos atingiram os 80 pontos necessários… A discriminação face ao número de vagas que a escola dispõe terá sido então feita por uns quaisquer critérios que seguramente não serão aceites pelos excluídos.

4. Tudo isto aponta para uma “evidência”: não há qualquer possibilidade de resolver de forma justa a atribuição de Muito Bom e Excelente (divisão também dificilmente aceitável) a não ser por uma definição clara, rigorosa e sobretudo muito exigente das condições em que tal distinção pode ser adquirida. É isso que tem faltado. Alguém acredita que 25% ou 30% por cento dos nossos docentes sejam excelentes ou muito bons? Se assim fosse, teríamos certamente o melhor sistema educativo do mundo! (Repare-se que, se não fosse a irracionalidade das “quotas”, o número de docentes muito bons ou excelentes atingiria valores ainda mais elevados.) A maioria esmagadora dos nossos professores são bons profissionais, dedicados e competentes – não são excepcionais nem incompetentes. A incapacidade de definir critérios objectivamente discriminativos da necessariamente escassa minoria dos excepcionais justifica esta situação anómala em que caímos e que a imposição de quotas apenas torna mais caricata.

5. Recordemos que no modelo de avaliação anterior (de 1998, salvo erro) estava prevista a elaboração de regulamentação de acesso a classificações de mérito, no caso, Bom e Muito Bom, regulamentação essa que nunca foi apresentada.

6. Professores de facto excepcionais são facilmente reconhecidos na escola pelos seus pares, sendo que muitos deles se recusam a participar nesta fantochada e não se candidatam a essas menções. Mas são eles os professores de referência nas escolas. Pelo contrário, espalham-se os sorrisos amarelos e os significativos encolher de ombros perante a distinção de mérito dada a professores que reconhecidamente serão, na melhor das hipóteses, tão bons como a maioria dos professores da escola. (Em muitas escolas, para que a vergonha não seja notada, nunca se chega a saber quem é que teve essas menções de mérito!)

7. Recordo os professores que tive ao longo da minha “escolaridade” e, francamente, apenas a um atribuiria inequivocamente o título de Muito Bom: ao meu saudoso professor de Literatura no então Liceu D. João de Castro, o Luís Simões Gomes…

Concluindo:

* A posição dos professores e educadores só pode ser a de rejeição das quotas;

* ou se definem critérios suficientemente exigentes para que as classificações de mérito façam sentido e sejam “verdadeiras” ou é melhor acabar com “esquemas” que se tornam caricatos porque conduzem necessariamente a uma proliferação inconsequentes de menções de mérito excepcional.

domingo, 14 de agosto de 2011

A CRISE É DE FACTO PARA TODOS: ALGUNS GANHAM, A MAIORIA PERDE…

Segundo o Público de há dias, o número de estadias em hotéis de 5 estrelas aumentou este ano um pouco mais de 5%, mas a estadia em hotéis de menos estrelas ou pensões caiu cerca de 6%... A crise é mesmo para todos, depende é da perspectiva.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

AINDA SOBRE A VIOLÊNCIA EM INGLATERRA

Assistimos nos últimos dias a várias intervenções de peritos de diferentes áreas sobre a violência que tem vindo a assolar cidades inglesas. Opiniões respeitáveis, umas mais fundamentadas que outras, que por sua vez me suscitaram as seguintes questões:

- Se bem que boa parte dos atos praticados possam ser qualificados como atos de vandalismo, não faz porém sentido reduzir o que se está a passar a uma mera ação de grupos de vândalos e de criminosos, como sugere o primeiro ministro inglês. Caso contrário, teríamos de concluir que a Inglaterra estaria pejada de vândalos e de criminosos, sobretudo entre os seus adolescentes.

- Mesmo não se tratando de manifestações politicamente organizadas, são atos que radicam em questões de natureza política e social. Fundam-se no desemprego permanente de boa parte desta população (pais e avós para quem o estar desempregado é a situação normal…), na completa ausência de perspectiva de vida para estes adolescentes. Preocupa-me muito que estas revoltas não sejam politicamente enquadradas, tanto mais que são inequivocamente “organizadas” e “preparadas”. A ausência de enquadramento político explícito aponta para uma clara movimentação da extrema direita, aliás em crescimento nítido no Reino Unido. (Note-se que não estou a sugerir que os manifestantes sejam elementos organizados de extrema direita, estou a sugerir que ela mexe – bem, como de costume – os cordelinhos…)

- É sintomático que alguns dos peritos entrevistados tenham tido a preocupação de considerar errada a ligação entre estes atos e a profunda crise económica que a Inglaterra, como toda a Europa, está a atravessar. Mesmo sabendo-se esta violência é também uma reacção aos cortes dos apoios às associações dos jovens que se vêem assim sem qualquer apoio nem onde passarem os seus tempos livres.

- Há quem insista no carácter excessivamente brando da intervenção da polícia inglesa. Não discuto. Mas tenho de sublinhar, como muito positivo, o facto de a polícia não ter provocado um único morto e aparentemente nenhum ferido grave nestes 4 dias de tumulto. Para a polícia inglesa, a vida humana é mesmo o bem essencial. Que seja preciso uma autorização especial para usar balas de borracha é um excelente exemplo da alta valia desta polícia!

- Gostaria muito de saber como se comportam estes adolescentes nas escolas que, presumo, frequentam. E que eficácia tem a escola na construção dos valores que orientam estes adolescentes.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A REVOLTA DOS JOVENS INGLESES: VERSO E REVERSO

Frontalmente contra a pena de morte e outras mortes evitáveis, congratulo-me sempre que alguém se manifesta denunciando o facto de um polícia matar quem lhe desobedece, salvo evidentemente situações excepcionais em que a vida do polícia ou de outrem se encontre ameaçada. Não conhecendo os contornos explícitos do que ocorreu nos subúrbios de Londres, devo dizer que a minha primeira reação foi de apoio aos manifestantes. Que a situação tenha sido aproveitada para a revolta dos muitos milhares de desempregados do bairro, pareceu-me óptimo: é salutar que quem é vítima de tão tremenda injustiça diga da sua justiça. Usam a violência? Não serão eles vítimas quotidianas de uma outra e mais dura forma de violência?
O reverso porém manifesta-se quando as vítimas dessa revolta são os pacatos carritos dos seus pacatos concidadãos, talvez tão desempregados como eles; ou as lojas de pequenos comerciantes (feio: parece que as lojas mais assaltadas são as lojas dos computadores, telemóveis e quejandos) ou simples casas de habitação. O desespero cega e os que deveriam ser potenciais aliados são tornados vítimas. Os responsáveis pelas injustiças, esses passam impunes à violência do desespero. Não há aqui qualquer racionalidade. Bem sei que é fácil a quem está de fora e mais ou menos instalado pedir racionalidade nos comportamentos aos desesperados e que estes dificilmente nos atenderão. Talvez haja nestas revoltas uma racionalidade global que não coincida com a racionalidade de cada ato isolado. Ou talvez haja a confusão entre o que deveria ser uma revolta politizada e meros atos de vandalismo. Vamos ver no que isto dá!

(Nota: estou a habituar-me ao novo Acordo Ortográfico: Desculpem qualquer gralha...)

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

SOLIDARIEDADE COM A NORUEGA


Acompanhámos, num misto de choque, fúria e profunda tristeza, o horror que aconteceu em Oslo e Utoya no dia 22 de Julho. Antes de mais, pensamos, obviamente, nas vítimas, famílias, amigos e camaradas. Aceitem as nossas mais sentidas condolências e solidariedade.
Enquanto activistas de diferentes movimentos sociais e políticos portugueses, estendemos as nossas condolências à Liga dos Jovens Trabalhistas e também ao povo norueguês. E ainda a todos aqueles que, como nós, na Europa e no resto do mundo, compreendem a ameaça representada por ideologias racistas, xenófobas e fascistas, sobretudo quando encontram eco nos discursos e crenças políticas que nos entram pelas casas dentro todos os dias.
Quando se vota no ódio e na exclusão, quando líderes políticos põem em causa os valores do multiculturalismo, quando as minorias são transformadas em bodes expiatórios para os erros de sistemas políticos que promovem a exclusão e a discriminação, o ódio passa a ser aceite na política. E as armas precisarão sempre do ódio como munição.
Podia ter sido qualquer um de nós. Por isso, a maior homenagem que podemos prestar a todos os que morreram, ficaram feridos ou perderam entes queridos é o nosso compromisso com a luta pelo respeito, diversidade, justiça e paz e por uma sociedade verdadeiramente democrática e inclusiva. Responderemos com mais democracia.

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