O investigador social Elísio Estanque publicou no jornal Público de 23 de Outubro um artigo intitulado "A cidadania e o sindicalismo em causa", que é uma reflexão sobre o apoio de Carvalho da Silva a António Costa nas últimas autárquicas em Lisboa. Sobre a atitude de Manuel Carvalho da Silva escrevi eu neste mesmo blogue no dia em que a anunciou que era uma atitude "lúcida e corajosa". Passadas as eleições, creio (aqui só posso falar de crença) que a sua intervenção está entre as causas que explicam que 5% dos votantes em Lisboa tenham votado em António Costa para a Câmara e na CDU ou no BE para a Assembleia Municipal e freguesias. Gente que, como MCS, percebe que, independentemente do "óptimo" que se desejasse, é de longe preferível, para todos os portugueses, incluindo os trabalhadores, ter na principal câmara do país uma coligação António Costa/Helena Roseta/Sá Fernandes a uma coligação Santana Lopes/Paulo Portas. Devemos estar gratos a Carvalho da Silva.
Elísio Estanque, certamente com informação fidedigna, alerta para que "a ortodoxia do PCP deseja ver Manuel Carvalho da Silva fora da CGTP", desejo em que, segundo ele, convergiriam, por razões opostas, a ortodoxia do PCP e os sectores mais conservadores do patronato. É certo que desde o último Congresso da CGTP-IN se tem vindo a falar da saída de Carvalho da Silva, seja por pressão dos sectores mais fechados do PCP, seja por vontade do próprio, desejo que, contudo, eu nunca ouvi da sua própria boca... Que Carvalho da Silva sairá a curto prazo da CGTP-IN é inevitável, quanto mais não seja por razões de idade. Mas uma saída "empurrado" pelo PCP seria desastrosa para a central sindical. O actual secretário geral da CGTP-IN conseguiu, para ele próprio e sobretudo para a instituição a que preside, uma imagem de seriedade e de credibilidade sociais que têm granjeado apoio e alargado a intervenção e influência da central sindical. Para um observador não preconceituoso, não é verdade que a actual CGTP seja uma mera "correia de transmissão do PCP". Todo este novo "espaço", laboriosamente conquistado, seria destroçado se a saída de Carvalho da Silva se desse por uma exigência do PCP — claramente a corrente maioritária da central. Poderia a CGTP continuar a manter a mesma capacidade de mobilização em acções de rua e de protesto social — cuja importância é inquestionável. Mas perderia a credibilidade associada a uma imagem de independência, imagem real que urge consolidar e que é politicamente tão importante como as acções de rua.
O que Carvalho da Silva já disse, mais do que uma vez, é que, quando sair da CGTP-IN, não se reformará da intervenção cívica e política. Oxalá os portugueses — e sobretudo os trabalhadores — consigam aproveitar a sua enorme experiência política, o seu prestígio, a sua seriedade e a sua capacidade de trabalho para a construção de uma esquerda maior, mais interveniente, mais consequente na construção de um sociedade mais justa.
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