Nunca vi um alentejano cantar sozinhocom egoísmo de fonte.Quando sente voos na gargantaDesce o caminho,Da solidão do seu monte,E cantaEm coro com a família do vizinho. JOSÉ Gomes Ferreira
As Minhas MãosAs minhas mãos magritas, afiladas,Tão brancas como a água da nascente,Lembram pálidas rosas entornadasDum regaço de Infanta do Oriente.Mãos de ninfa, de fada, de vidente,Pobrezinhas em sedas enroladas,Virgens mortas em luz amortalhadasPelas próprias mãos de oiro do sol-poente.Magras e brancas... Foram assim feitas...Mãos de enjeitada porque tu me enjeitas...Tão doces que elas são! Tão a meu gosto!Pra que as quero eu - Deus! - Pra que as quero eu?!Ó minhas mãos, aonde está o céu?...Aonde estão as linhas do teu rosto?Florbela Espanca, in Charneca em Flor
Nunca vi um alentejano cantar sozinho
ResponderEliminarcom egoísmo de fonte.
Quando sente voos na garganta
Desce o caminho,
Da solidão do seu monte,
E canta
Em coro com a família do vizinho.
JOSÉ Gomes Ferreira
As Minhas Mãos
ResponderEliminarAs minhas mãos magritas, afiladas,
Tão brancas como a água da nascente,
Lembram pálidas rosas entornadas
Dum regaço de Infanta do Oriente.
Mãos de ninfa, de fada, de vidente,
Pobrezinhas em sedas enroladas,
Virgens mortas em luz amortalhadas
Pelas próprias mãos de oiro do sol-poente.
Magras e brancas... Foram assim feitas...
Mãos de enjeitada porque tu me enjeitas...
Tão doces que elas são! Tão a meu gosto!
Pra que as quero eu - Deus! - Pra que as quero eu?!
Ó minhas mãos, aonde está o céu?
...Aonde estão as linhas do teu rosto?
Florbela Espanca, in Charneca em Flor