Na sessão solene com que se comemorou o centenário desta escola de Lisboa desfilaram ou mereceram referência figuras graúdas do nosso universo cultural e político que foram alunos da escola ainda no período da ditadura. Da escola nesses tempos se disse, certamente com justiça, o que seria legítimo dizer de qualquer outro dos “liceus” da capital (e talvez do Porto) desses mesmos tempos: espaços onde a elite económica colocava os seus filhos, deixando a maioria da população com a “quarta classe”, quando não no puro analfabetismo. Ou, na melhor das hipóteses, nas socialmente desquyalificadas escolas comerciais e industriais, como bem lembrou o Presidente Cavaco Silva, que presidiu à sessão e que fez questão de recordar que ele próprio não tinha tido condições para frequentar qualquer liceu…
Nesse ponto foi certeira a ministra Maria de Lurdes Rodrigues ao sublinhar a diferença de sentido entre a designação de então – Liceu de Camões – e a designação actual: Escola Secundária de Camões, uma escola que felizmente perdeu a sua natureza elitista para ser um dos espaços onde, a muito custo e com muitos tropeções, o Portugal democrático tem vindo a construir uma escola a que todos tenham acesso e onde se continue a afirmar o direito de todos ao sucesso. Se este tiver sido o último discurso de Maria de Lurdes como ministra da Educação, é justo dizer que foi uma despedida em low profile, um discurso sublinhando a democratização da escola contra os que continuam a sonhar com a escola profundamente elitista do passado, mas também um discurso defensivo e triste, sem uma única referência aos professores. Quem não poupou a ministra foi o director da Escola, professor João Jaime, recordando que ao longo dos anos a escola foi construindo obra valiosa com o empenho dos professores, que para isso não precisaram do título pomposo de “titulares”. Foram apenas professores, numa corajosa denúncia de uma das maiores barbaridades perpetradas pelo ainda ministra. Quem também não “lhas poupou” foi o representante dos alunos, que pôde falar (o que não aconteceu nunca no tempo do “liceu”…). E que falou bem: num texto correcto, num tom de voz firme e bem colocado, fazendo-se ouvir de forma nítida (o que não aconteceu com alguns oradores adultos…), Pedro Feijó denunciou o inqualificável estatuto do aluno, sublinhou o retrocesso conceptual do novo modelo de gestão das escolas, o abusivo poder conferido aos sectores exteriores à escola na sua própria gestão. Tudo isto a ministra ouviu. E não respondeu… E Cavaco Silva desferiu-lhe a última farpa: a de que falta “qualidade” à escola actual. É que essa falta de qualidade não se contorna com malabarismos estatísticos…
Quando meu filho teve que escolher uma Escola Secundária disse;- Mãe vou para o Camões esta aqui ao lado é uma escola de meninas!
ResponderEliminarPresumia assim que o Camões era uma Escola de Homens e para Homens, uma Escola séria!
Ele não sabia mas intuia que havia por lá um João Jaime e Um Pedro Feijó.
Espero que este espírito de coragem e cidadania também seja oxigénio respirado como as áreas curriculares, pois Jãos Jaimes e Pedros Feijós precisam-se e muitos!