sábado, 31 de outubro de 2009

AMIGOS DA ONÇA

A mal afamada Dr.ª Maria de Lurdes Rodrigues resolveu (?) armadilhar o caminho ao seu sucessor (por acaso, sucessora), talvez no inconsciente pressuposto de que ele fosse um “adversário político” oriundo do PSD ou CDS-PP. Só com esta malévola intenção se pode perceber a marcação dia 30 de Outubro para que as escolas divulgassem o calendário para a realização de uma avaliação que, todos o sabiam, urgia modificar e, numa primeira fase, pura e simplesmente suspender. Bastaria ter um reles calendário à sua frente para que a Sr.ª doutora percebesse que, sendo as eleições a 27 de Setembro, no final de Outubro não haveria ainda nem governo nem parlamento em exercício normal de funções, pelo que as escolas se veriam ante o dilema de não obedecer à lei, imposta no final do ano lectivo passado, ou iniciar um processo de avaliação com morte anunciada. Claro que o apregoado superior interesse das escolas e dos alunos não “foi tido nem achado”. Armadilhar parece ter sido a intenção. A mesma intenção que terá presidido à possibilidade de apresentação do trabalho para candidatura a um hipotético concurso  para titular – “categoria” com forte probabilidade de acabar face à posição da maioria dos deputados eleitos – ou a regulação de um exame de ingresso cuja primeira edição será no final deste ano lectivo! Mais do que uma “pesada herança – e ai se o é! – este armadilhar do caminho futuro aparenta ser uma acto mesquinho revelador de uma falta de “sentido de estado.” As nossas escolas, os nossos professores, os nossos alunos não merecem isto! Como vencer estas armadilhas – eis o desafio que se impõe a quem quiser seriamente que as escolas saiam do poço profundo em que a insensata arrogância as mergulhou. E todos não somos demais para essa tarefa.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

MAR(ESIA) #6






















Fotografia de Felizarda Barradas, professora, dirigente do SPGL e fotógrafa.

MAIS UNS FUMOS DE CORRUPÇÃO

1. Convém ter presente que ser arguido não é necessariamente ser culpado. Mas num caso com a importância política, económica e de impacto mediático como este ("Face Oculta"), a menos que estivéssemos perante uma grande leviandade da PJ, constituir alguém arguido não deixa de ser relevante.
Que um desses arguidos seja Armando Vara não deixará certamente ninguém "varado". Sobre Armando Vara recaem há muitos anos fortes suspeitas, o que não o tem impedido de singrar na vida política e, por via desta, na vida económica e empresarial.
Mas também ninguém ficará surpreendido se Armando Vara sair "ileso" deste processo. Ficará porém sempre a dúvida de saber se sai "ileso" porque nada o implica ou porque tem a protecção do PS — e, "quem se mete com o PS leva", J. Coelho dixit... O mesmo se diga de J. Penedos...

2. Há dias escrevi neste mesmo blogue que a credibilidade da política e dos políticos se iria medir pelo modo como, passadas as eleições legislativas, se continuaria a falar ou não dos "escândalos" que tinham abrasado a campanha: o caso Freeport, o jornal de sexta da TVI, a compra de votos nas eleições internas do PSD, a compra de votos por António Braga no Brasil, o caso António Preto, a Casa Pia, o BPN-Dias Loureiro, etc… Temo que estes casos se "arrastem" em lume muito brando até às próximas eleições legislativas (daqui a 2 anos?). E talvez que nessa altura, aceso o lume forte, se junte a eles o caso Vara/Penedos. Se for assim, será melhor emigrar...

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

MAR(ESIA) #5















Fotografia de Felizarda Barradas, professora, dirigente do SPGL e fotógrafa. 

IGUALDADE(S)

Segundo o Público on line de hoje, 28 de Outubro, a Igreja Luterana Alemã elegeu pela primeira vez uma mulher, divorciada, de 51 anos para sua líder (o que os católicos chamariam bispo...). Mesmo para um inveterado ateu, como eu, é uma boa notícia. É mais um passo no caminho da real igualdade de género. Acredito que com estes exemplos, dois disparates da Igreja Católica Romana — a obrigatoriedade do celibato para os sacerdotes e freiras e a impossibilidade de mulheres serem "ordenadas" como padres — terão os dias contados. Assim seja, isto é Amen.
Mas se nestes campos se vão assinalando boas notícias, no campo económico, pelo contrário, a desigualdade parece agravar-se, pelo menos em Portugal. Segundo o mesmo jornal do dia 26, Portugal caiu cinco posições no ranking que mede as desigualdades entre homens e mulheres e uma das causas dessa descida é que as mulheres continuam a ganhar menos que os homens nas mesmas tarefas. E esta igualdade seria muito mais importante e necessária que a possibilidade de termos mulheres como bispos e padres (presumo que ainda não há feminino para estes termos...).

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

MAR(ESIA) #4
















Fotografia de Felizarda Barradas, professora, dirigente do SPGL e fotógrafa. 

UMA QUESTÃO DE FUNDO

Diz o Público de hoje que "professores independentes apelam à união da oposição." E, no corpo da notícia pode ler-se, "apelaram ao consenso da oposição na votação dos projectos de lei que visam suspender a avaliação e o ECD."  Esta notícia merece alguns comentários: estes professores são independentes relativamente a quê? A resposta será "relativamente aos sindicatos". O que longe de ser uma virtude, mereceria ser objecto de censura. Os últimos tempos mostraram que, se é verdade que os sindicatos não têm o monopólio da mobilização dos professores, também mostraram que sem os sindicatos não há significativas mobilizações. Proclamar a "independência", isto é, a não sindicalização, como uma virtude e uma mais-valia na luta dos trabalhadores (no caso, os professores) é, teoricamente, uma posição contra os trabalhadores, e é claramente uma posição de direita. E já não colhe a serôdia tese da subordinação dos sindicatos ao PCP. Não só porque a maioria dos sindicatos de professores se situam em outras áreas políticas (nomeadamente o PSD), mas também porque mesmo dentro da Fenprof as listas patrocinadas pelo PCP têm sofrido pesadas derrotas nos maiores sindicatos.
Mas a questão de fundo não é essa. É que é profundamente errado responsabilizar apenas os partidos da oposição. É precisamente isso que Sócrates defende e pretende, de modo a vitimizar-se. Os professores — sobretudo através dos seus sindicatos — devem procurar o apoio da oposição, mas sobretudo têm de exigir ao PS e ao Governo uma solução rápida, justa e negociada destas (e outras) questões.
De resto, o interesse nacional exige que se encerre, de forma adequada e justa, esta questão da avaliação de desempenho e da revisão do ECD — e as propostas da Fenprof são adequadas. De facto, estas matérias não podem ser consideradas como um fim em si mesmas, mas tão só como instrumentos para o essencial: uma escola pública justa e de qualidade.

A TOMADA DE POSSE

"Que ninguém duvide, estou bem consciente do mandato democrático que este Governo recebeu: prosseguir as reformas e a modernização" (Sócrates, na tomada de posse). Tudo bem. Mas é indispensável que José Sócrates esteja também consciente do que as eleições lhe disseram: que perdeu, de forma clara, a maioria absoluta, o que só tem um sentido: o programa do PS — naturalmente a base do programa do governo — terá de articular-se com as propostas dos outros partidos e forças sociais, numa atitude de construção democrática de soluções, prática em tudo oposta à que Sócrates desenvolveu nestes 4 últimos anos. Há quem diga que Sócrates é incapaz desta prática de diálogo e de procura de consensos....
Sócrates tem insistido em responsabilizar os outros partidos parlamentares pela governabilidade do País. Mas convém não esquecer que a maior responsabilidade é a do PS e do Governo. São eles que têm de ser capazes de estabelecer pontes e consensos. É isso que o País lhes pede. Afinal de contas, o País, sabiamente, não lhes deu mesmo a maioria absoluta.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

MAR(ESIA) #3















Fotografia de Felizarda Barradas, professora, dirigente do SPGL e fotógrafa. 

TWITTER

estamos.
Por ora, a debitar os textos circenses automaticamente.
Espera-se que no futuro os deuses da tecnologia iluminem as cabeças mais casmurras e os pius sejam muitos e inspirados.
http://twitter.com/antonioavelas

MOMENTO TVI

A é analfabeta. Vive com B, que não é. B foi condenado a 9 anos de prisão, por abuso sexual de menores e duas violações. Uma delas há 4 anos, da própria filha, que engravidou. A segunda violação terá sido anterior, da filha mais velha de A, mas A não tem a certeza — na altura, não acreditou na filha quando ela denunciou o padrasto. Acabou numa instituição e desde que atingiu a maioridade que A não sabe do seu paradeiro. A única filha comum a A e B, C, que vivia com eles, e não terá sido vítima de qualquer abuso, está também num colégio, na sequência deste processo mais recente. O bebé, que nasceu com más-formações congénitas, acabou por ser colocado numa instituição para ser adoptado, quando já tinha mais de um ano. A e C, que entretanto estabeleceram laços afectivos com ele, não lhe têm acesso. A sabe que jamais o poderá adoptar, e C é menor, pelo que o mais provável é que esta criança, doente, esteja condenada a passar a vida inteira em instituições.
A é analfabeta, e tudo o que sabe do processo é-lhe dito pelo marido. Embora já exista uma sentença, o processo não está concluído, e a medida de coacção em vigor é a prisão domiciliar (que B não cumpre nem ninguém fiscaliza). Na casa de A, portanto.
Nunca ninguém perguntou a A se queria viver com a pessoa que lhe terá violado a filha mais velha e engravidou, comprovadamente, a enteada. Está privada do contacto com a filha mais nova por efeito colateral dos crimes do marido. A única vez que se queixou a queixa foi transcrita pelos serviços do tribunal e chegou às mãos de B.
Ora, é óbvio que A se pela de medo de B. Vive entre a impotência e o medo. Apanha cartas aqui e ali e pede que lhas leiam, tenta arranjar encontros com assistentes sociais à socapa, mas recusa-se a fazer uma denúncia. Duvido que tenha sequer consciência de que também é vítima neste processo. Tal como todas as outras, só quer seguir em frente e recuperar a custódia dos filhos. Por isso, vive com uma pessoa a quem só deseja a morte ou a prisão, à espera que alguém lhe leia o que lhe vai acontecer.
Quantas A há por aí? Mulheres que, culturalmente, são as últimas a acreditar na bestialidade dos próprios companheiros, e que quando, finalmente, abrem os olhos, se sentem completamente impotentes para defender quem quer que seja, incluindo a si próprias?
E quantos violadores há por aí, confortavelmente a agredir o quotidiano de mulheres como A, nem que seja pelo simples motivo de não estarem onde deviam estar — na prisão? 

MAR(ESIA) #2


















Fotografia de Felizarda Barradas, professora, dirigente do SPGL e fotógrafa. 

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O VERDADEIRO PROBLEMA

Estaremos todos de acordo se eu disser que o problema nevrálgico do Governo hoje empossado é como combater o desemprego, como apoiar os quinhentos e muitos mil desempregados, combater o trabalho precário, e valorizar o salário dos que mal ganham para pagar a renda da casa (ou a prestação ao banco). E, sendo embora verdade e importante que se diga, dizer que é uma vergonha o aumento substancial de diferentes formas de pobreza e de desigualdade social não permite só por si traçar caminhos. Também será indiscutível afirmar que problemas sociais tão graves como o insucesso escolar, a carestia da justiça, e as debilidades do acesso à saúde tenderão a agravar-se à medida que o desemprego aumente e as dificuldades económicas de boa parte das famílias se mantenham. Leio o que escrevi e reconheço que são banalidades. O que não é banalidade, porém, é sentir que na comunicação social e nos discursos dos políticos  esta questão nevrálgica parece subalternizada. São importantes questões como a avaliação dos professores e a revisão da carreira docente, os direitos dos homossexuais, o aumento das pensões, os contentores em Alcântara... Mas por mais importantes e urgentes que sejam, são secundários face ao drama do desemprego. E sobre este drama pouco se diz, e o que se diz não é novo nem deixa antever soluções... 

domingo, 25 de outubro de 2009

MAR(ESIA) #1














Fotografia de Felizarda Barradas, professora, dirigente do SPGL e fotógrafa. 

SE É PROFESSOR(A), DEVE VER O FILME O DIA DA SAIA (E SE NÃO É, TAMBÉM)

Hoje, dou-me ao luxo de me citar a mim mesmo. A convite da distribuidora, assisti à ante-estreia de La journée de la Jupe, que na versão portuguesa aparece como O Dia da Saia.
Sobre o filme, eu, que estou muito longe de ser um crítico de cinema e mesmo de um cinéfilo inveterado, escrevi umas breves notas publicadas no último número (o de Outubro) do Escola/Informação. Se ainda o não recebeu — ou se o não recebe porque não é professor ou não está sindicalizado no SPGL — o que, no último caso, é deveras lamentável — pode lê-las aqui. E o desafio que lhe deixo é este: relacione o filme com a querela passada, presente e  futura da "Avaliação de Desempenho" dos docentes. Fico a aguardar a sua resposta.

sábado, 24 de outubro de 2009

AS MÃOS #13

















Fotografia de Felizarda Barradas, professora, dirigente do SPGL e fotógrafa.

CARVALHO DA SILVA, O PCP E A CGTP-IN

A PROPÓSITO DE UM ARTIGO DE ELÍSIO ESTANQUE

O investigador social Elísio Estanque publicou no jornal Público de 23 de Outubro um artigo intitulado "A cidadania e o sindicalismo em causa", que é uma reflexão sobre o apoio de Carvalho da Silva a António Costa nas últimas autárquicas em Lisboa. Sobre a atitude de Manuel Carvalho da Silva escrevi eu neste mesmo blogue no dia em que a anunciou que era uma atitude "lúcida e corajosa". Passadas as eleições, creio (aqui só posso falar de crença) que a sua intervenção está entre as causas que explicam que 5% dos votantes em Lisboa tenham votado em António Costa para a Câmara e na CDU ou no BE para a Assembleia Municipal e freguesias. Gente que, como MCS, percebe que, independentemente do "óptimo" que se desejasse, é de longe preferível, para todos os portugueses, incluindo os trabalhadores, ter na principal câmara do país uma coligação António Costa/Helena Roseta/Sá Fernandes a uma coligação Santana Lopes/Paulo Portas. Devemos estar gratos a Carvalho da Silva.
Elísio Estanque, certamente com informação fidedigna, alerta para que "a ortodoxia do PCP deseja ver Manuel Carvalho da Silva fora da CGTP", desejo em que, segundo ele, convergiriam, por razões opostas, a ortodoxia do PCP e os sectores mais conservadores do patronato. É certo que desde o último Congresso da CGTP-IN se tem vindo a falar da saída de Carvalho da Silva, seja por pressão dos sectores mais fechados do PCP, seja por vontade do próprio, desejo que, contudo, eu nunca ouvi da  sua própria boca... Que Carvalho da Silva sairá a curto prazo da CGTP-IN é inevitável, quanto mais não seja por razões de idade. Mas uma saída "empurrado" pelo PCP seria desastrosa para a central sindical. O actual secretário geral da CGTP-IN conseguiu, para ele próprio e sobretudo para a instituição a que preside, uma imagem de seriedade e de credibilidade sociais que têm granjeado apoio e alargado a intervenção e influência da central sindical. Para um observador não preconceituoso, não é verdade que a actual CGTP seja uma mera "correia de transmissão do PCP". Todo este novo "espaço", laboriosamente conquistado, seria destroçado se a saída de Carvalho da Silva se desse por uma exigência do PCP — claramente a corrente maioritária da central. Poderia a CGTP continuar a manter a mesma capacidade de mobilização em acções de rua e de protesto social — cuja importância é inquestionável. Mas perderia a credibilidade associada a uma imagem de independência, imagem real que urge consolidar e que é politicamente tão importante como as acções de rua.
O que Carvalho da Silva já disse, mais do que uma vez, é que, quando sair da CGTP-IN, não se reformará da intervenção cívica e política. Oxalá os portugueses — e sobretudo os trabalhadores — consigam aproveitar a sua enorme experiência política, o seu prestígio, a sua seriedade e a sua capacidade de trabalho para a construção de uma esquerda maior, mais interveniente, mais consequente na construção de um sociedade mais justa.

UM PASSO COM ENORME CARGA SIMBÓLICA

A comunicação social divulgou, ontem, 23 de Outubro, que a igreja luterana sueca vai casar homossexuais.
O casamento civil de homossexuais é já um dado "adquirido" em boa parte dos países europeus. Mas é claramente "um acto civil", despido de qualquer sacralidade, para lá da sacralidade profana que há em qualquer paixão amorosa. Parece-me que a igreja luterana sueca deu mais um passo: se, tal como na igreja católica, o "matrimónio" é um "sacramento" — e creio que aí não há divergência teológica entre as duas confissões — a igreja sueca conferiu ao casamento de homossexuais a mesma dignidade e mesma sacralidade de um casamento heterossexual. Passou do bíblico "crescei e multiplicai-vos" — a justa sacralização da procriação — para uma concepção mais "intíma" do evangélico: "amai-vos uns aos outros". Porque é o amor que é sacralizável — a procriação é apenas uma consequência possível, por mais bela que seja. A igreja luterana sueca deu um importante passo. Está de parabéns. Até porque cuidou de respeitar direitos que podiam contrariar-se:nenhum padre é obrigado a casar homossexuais, mas a paróquia fica obrigada a encontrar um padre que o faça.

ISABEL ALÇADA NO PÚBLICO

No dia 23 de Outubro de 2009, o Público ocupou a 2.ª página do diário traçando "o perfil dos ministros". Nada de anormal, se atendermos a que na véspera tinham sido anunciados os nomes do novo governo. Contudo, Isabel Alçada, aliás Maria Isabel Girão Vilar, nova ministra da Educação, teve direito a uma singularidade. Do seu perfil político aí publicado consta que é casada com "Emídio Rui Vilar, presidente da Fundação Gulbenkian". De nenhum outro ministro ou ministra é referido o nome do cônjuge — ou sequer se  o tem, que a isso não obriga a condição de ministro ou ministra. Que pretendeu o jornalista, apenas identificado por N.F., com esta singularidade? Insinuar que Isabel Alçada é ministra porque é casada com tão ilustre personagem? Ou que o personagem se tornou (mais) ilustre porque é casado com uma ministra? Ou foi apenas uma "fofoca"? Porque qualquer das alternativas é pouco simpática, espero que um dos primeiros actos da ministra Isabel Alçada seja pedir contas ao N. F. do diário Público.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

AS MÃOS #12















Fotografia de Felizarda Barradas, professora, dirigente do SPGL e fotógrafa.

TEMOS GOVERNO?

Pelo menos temos primeiro-ministro e ministros. A minha visão “corporativa” (é assim que o Sócrates diz…) leva-me a sublinhar, antes de mais, que Maria de Lurdes Rodrigues “foi à vida”. Não deixa saudades nenhumas. E espero que leve com ela o Valter Lemos. Vão ser necessários anos para que as escolas e os professores recuperem do desastre que foi a sua passagem pela 5 de Outubro. Teve contudo algumas vantagens. Uma delas foi ter ajudado o PS a perder a maioria absoluta.
Outra novidade foi a nomeação do malhador Santos Silva para a Defesa. É um homem para todas as pastas: já esteve na Cultura e na Educação, era ultimamente ministro dos Assuntos Parlamentares. Não sei se saberá distinguir um barco de pesca de um submarino, mas isso, pelos vistos, não interessa: dizem que é uma pasta política! Talvez num próximo governo do PS seja ministro da Agricultura, mesmo que não distinga um nabo de uma cenoura.
Mas é preciso ter esperança e ser simpático. Por isso lhe desejo, e a todos os outros, e muito particularmente à ministra da Educação Isabel Alçada, que governem bem, se é que isso é possível com o todo-arrogante Sócrates…

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

AS MÃOS #11















Fotografia de Felizarda Barradas, professora, dirigente do SPGL e fotógrafa.

DIRECTORES DE ESCOLAS: QUANDO O PODER LHES SOBE À CABEÇA

Notícias e protestos que têm chegado ao sindicato (SPGL) deixam-nos "os cabelos em pé." Alguns novos directores e adjuntos parecem apostados em ultrapassar o ME na falta de respeito pela legislação e pelos professores (já nem me atrevo a escrever "pelos colegas"...). Apenas 3 exemplos: há directores que, enquanto o não foram, lideraram a luta contra a entrega dos objectivos individuais e sustentaram que a não entrega não impedia a avaliação dos docentes; agora eleitos recusam-se a avaliar os professores que não entregaram os objectivos individuais, mesmo sabendo que outras escolas os estão calmamente a avaliar... Numa outra escola, os professores de técnicas especiais, colocados através do mecanismo de "oferta de escola", apesar de terem de dar aulas e avaliar os alunos, não são considerados professores e são pagos à hora (12 Euros). Em vários agrupamentos há docentes do 1º ciclo com 29 e 30 horas lectivas no seu horário, o mesmo acontecendo, aliás, em escolas 2,3 e secundárias… E até há quem tenha posto na componente não lectiva dos professores horas de... refeitório!
E não se pense que são apenas directores de direita. Entre os autores destas "pérolas" também há militantes da "esquerda verdadeira"...
Claro que estamos a apoiar os professores que a nós recorrem. Mas não deixa de nos entristecer.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

AS MÃOS #10


















Fotografia de Felizarda Barradas, professora, dirigente do SPGL e fotógrafa.

NÃO APRENDEM MESMO

SARAMAGO III

Tratar a Bíblia apenas como obra literária é um exercício a que nem um agnóstico ferrenho se atreverá. Mas, dessa perspectiva, Saramago tem o direito de a interpretar como qualquer leitor (incluindo os maiores teólogos e os mais ignorantes, como eu). E, já agora, qualquer estudante de literatura tradicional sabe que o que seria estranho é que não estivesse pejada de maus exemplos e crueldades. É tão estúpido acusá-la, enquanto livro, de ser responsável pelo ódio (sobre a comunidade LGBT, por exemplo) que alguns dizem que defende, como reduzi-la a um compêndio de textos tradicionais de amor ao próximo. 
Ora, sendo a Bíblia, "mais" do que uma obra literária, um texto sagrado para várias religiões, é o seu impacto cultural que está em questão nesta polémica imbecil. E se a fé de muitos defende o argumento da autoridade para a interpretação dos seus textos sagrados, isso é lá com eles. É um acto de fé, não tem nada a ver com literatura. 
O grau de respeito e tolerância das igrejas não está inscrito nos seus objectos sagrados, mas no modo como reagem ao que consideram blasfemo. Se acham que podem interferir com as interpretações alheias e com a livre produção literária, para mim estão todos no mesmo saco: os que decretam fatwas, os que organizam motins por causa de caricaturas, os que acham que os "extremistas" deviam ser apátridas à força.
E é um saco de parvos: quanto mais estrabucham a tentar impor a exegese única dos seus textos sagrados, mais os seus "inimigos" vendem os livros que tanto os ofendem. Santa ingenuidade! 

SARAMAGO II

A SANTA ARROGÂNCIA

Os padres, os cónegos, os bispos, o papa, têm todo o direito de dizer que a visão de Saramago sobre "os textos sagrados" é a  visão de um ateu confesso e irrecuperável. Poderão até ter alguma razão se insinuarem que Saramago usou a questão da Bíblia como argumento publicitário da sua obra. O que não podem é acusá-lo de ignorante, como fez um dos seus principais porta-voz. Ao fazê-lo a igreja dogmatiza-se e medievaliza-se. Ela tem a verdade, ela tem o saber e tem por missão ensinar os ignorantes. A bem ou a mal: ou "aprendem" ou se convertem. Saramago, felizmente, não é convertível. É possuidor de uma verdade lucidamente diferente.
A igreja, graças a deus, já não possui os instrumentos "medievais" para o converter e para o obrigar a abjurar.
Saramago tem uma visão laica sobre um dos textos mais importantes da nossa cultura. Uma "leitura" muito mais humana — e portanto muito mais verdadeira — do que a leitura "sagrada" das igrejas. Estou com o Saramago!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

AS MÃOS #9















Fotografia de Felizarda Barradas, professora, dirigente do SPGL e fotógrafa.

AINDA OS RANKINGS II

Os rankings assustam-me. 
Como qualquer mãe, preocupo-me com a futura escola da minha filha. E confesso que é um dilema: se acredito plenamente que a cachopa deve contribuir para uma escola onde impera a diversidade, e que será ela a principal beneficiária dessa escola, a verdade é que não vale a pena fechar os olhos a uma realidade que se tornou clara nos últimos anos: diversidade é o que começa a ser mais difícil de encontrar. Todos sabemos que há escolas onde nem os moradores da zona conseguem inscrever os filhos, e outras que são o verdadeiro refugo que quem não conseguiu entrar em mais lado nenhum. Por isso, há que escolher uma escola, malgrado todas as nossas declarações de amor ao critério aleatório da morada.
A posição das escolas nos rankings é o que menos me interessa. O que me revolta, e me assusta como mãe de uma cria ansiosa por ir para a escola primária, não é só a falta de rigor na análise público/privado, ou a motivação para o exercício de fazer listas de bons e maus — é o critério de "qualidade" usado, que ninguém parece pôr em causa: os resultados nos exames. 
Assusta-me que, seja qual for a escola que eu escolha, a minha filha esteja prestes a entrar num sistema de ensino que valoriza os testes sobre a aprendizagem, que considera a competição um estímulo pedagogicamente legítimo, que parte do princípio de que ela nunca será responsável pelo gestão dos seus tempos livres, que a bombardeia com programas infinitos e maquinetas, mas que parece não se importar muito com o que para mim é mais importante: que ela aprenda a gostar de aprender. Não para ser a melhor, não para brandir números e ansiedades, não para preparar um pretenso "futuro"… A "exigência", o "esforço", o "rigor" só fazem sentido se fizerem parte do sistema de valores de uma criança feliz e segura, que assume a aprendizagem como um factor dessa felicidade, não como um tempo de sacrifício.
E o que mais me assusta nos rankings são mesmo os pais de crias da idade da minha, que os levam a sério, e se queixam de os filhos de 4 anos ainda não saberem ler; os mesmos que vão pedir mais trabalhos de casa e menos brincadeira, e vão comparar as notas dos filhos; os que só pensam em números, não porque os fascine o pensamento abstracto, mas porque já ponderam se os putos, que acabaram de largar as fraldas, conseguirão entrar numa escola que lhes "garanta" uma média de entrada numa faculdade que… que quê?! Que lhes garanta um número catita no centro de emprego?
Assustam-me os rankings. Não porque lhes ligue peva. Mas porque até quem os critica parece aceitar que a escola é um local que se mede (melhor ou pior) de 1 a 20 uma vez por ano. Não o local onde a minha filha e outros vão passar grande parte do seu tempo, a aprender a ser… o quê, afinal? 

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

SARAMAGO

Sempre tive apreço pelos iconoclastas. Admiro quem com clareza e fundamento ataca “os bois intocáveis”. Por isso, e limitando-me ao que li na comunicação social relativamente ao seu discurso em Penafiel, não posso deixar de apoiar Saramago: a Bíblia é mesmo um livro de muitos maus exemplos, de histórias e moralidades que não ensinamos aos nossos filhos. Não é só isso. Mas é importante dizer que também é isso. É certo que as igrejas têm sempre enormes dificuldades em confrontar-se com a verdade; por isso mesmo é preciso dizer-lhes o que elas não gostam de ouvir.

domingo, 18 de outubro de 2009

AS MÃOS #8















Fotografia de Felizarda Barradas, professora, dirigente do SPGL e fotógrafa.

A FARSA TRÁGICA DAS ELEIÇÕES AFEGÃS

Pensadas nos doces gabinetes norte americanos e europeus como meio de legitimar o poder que os "ocidentais" tinham imposto, colocando na presidência o sr Karzai, as eleições no Afeganistão ameaçam mergulhar aquele país num caos de violência ainda maior do que já existe, deixando prenúncios de uma derrota militar e, sobretudo, política, dos exércitos da NATO.
Num país onde as comunicações entre povoados dispersos por enormes montanhas e desertos são particularmente difíceis, com uma economia baseada no cultivo do ópio, e sobretudo com o território dividido por senhores da guerra, cada qual com o seu feudo, querer realizar eleições tipo europeias só poderia conduzir ao que agora se vive: cada um dos candidatos acusa os outros de fraude generalizada - que as forças internacionais comprovam -, os resultados anunciadas e que eram os que mais interessavam ao "ocidente", dando a vitória absoluta ao seu candidato Karzai podem vir a ser anulados e , pasme-se, pretende realizar-se uma 2ª volta. Que, a realizar-se, terá os seus resultados tão contestados como a 1ª. A violência crescerá exponencialmente, a situação militar e política das tropas ocidentais agravar-se-á, a instabilidade e a violência alastrarão aos estados vizinhos, nomeadamente ao Paquistão. Mais uma vez se evidencia que a intervenção militar nada resolve e só agrava os conflitos. Foi assim no Iraque, está a ser no Afeganistão, será no Irão... Já é tempo de aprendermos a não embarcar em aventuras de consequências trágicas.

AINDA OS RANKINGS

Já estou farto dos rankings de escolas. Já tudo se disse sobre a inutilidade e a perversidade deste exercício fútil. Mas deu-me algum sádico prazer ver colocadas nas piores “notas” (nos exames nacionais) por disciplinas professores que nas suas escolas foram classificados de muito bom e excelente... Coisa que outros professores nessas mesmas escolas com muito melhores notas dos alunos nos exames não mereceram – muitos até correm o risco de não ser avaliados!
De onde se poderá concluir que, na avaliação de desempenho ainda não suspensa, (faltará pouco?) os muito bons e os excelentes professores não são aqueles que fazem com que os alunos aprendam…

sábado, 17 de outubro de 2009

DIA MUNDIAL CONTRA A POBREZA

Comemora-se hoje o Dia Mundial contra A Pobreza. Dizem os jornais que estamos a perder esta luta. Convém que se pergunte se a estamos a perder porque a não podemos vencer, ou se a estamos a perder porque precisamos que a pobreza exista, ou ainda se ela não é inevitável para que o capitalismo se mantenha. Ou por outras palavras: não será a denúncia da pobreza um cinismo moral para nos tranquilizar a consciência?

NOS 100 ANOS DO LICEU CAMÕES

Na sessão solene com que se comemorou o centenário desta escola de Lisboa desfilaram ou mereceram referência figuras graúdas do nosso universo cultural e político que foram alunos da escola ainda no período da ditadura. Da escola nesses tempos se disse, certamente com justiça, o que seria legítimo dizer de qualquer outro dos “liceus” da capital (e talvez do Porto) desses mesmos tempos: espaços onde a elite económica colocava os seus filhos, deixando a maioria da população com a “quarta classe”, quando não no puro analfabetismo. Ou, na melhor das hipóteses, nas socialmente desquyalificadas escolas comerciais e industriais, como bem lembrou o Presidente Cavaco Silva, que presidiu à sessão e que fez questão de recordar que ele próprio não tinha tido condições para frequentar qualquer liceu…
Nesse ponto foi certeira a ministra Maria de Lurdes Rodrigues ao sublinhar a diferença de sentido entre a designação de então – Liceu de Camões – e a designação actual: Escola Secundária de Camões, uma escola que felizmente perdeu a sua natureza elitista para ser um dos espaços onde, a muito custo e com muitos tropeções, o Portugal democrático tem vindo a construir uma escola a que todos tenham acesso e onde se continue a afirmar o direito de todos ao sucesso. Se este tiver sido o último discurso de Maria de Lurdes como ministra da Educação, é justo dizer que foi uma despedida em low profile, um discurso sublinhando a democratização da escola contra os que continuam a sonhar com a escola profundamente elitista do passado, mas também um discurso defensivo e triste, sem uma única referência aos professores. Quem não poupou a ministra foi o director da Escola, professor João Jaime, recordando que ao longo dos anos a escola foi construindo obra valiosa com o empenho dos professores, que para isso não precisaram do título pomposo de “titulares”. Foram apenas professores, numa corajosa denúncia de uma das maiores barbaridades perpetradas pelo ainda ministra. Quem também não “lhas poupou” foi o representante dos alunos, que pôde falar (o que não aconteceu nunca no tempo do “liceu”…). E que falou bem: num texto correcto, num tom de voz firme e bem colocado, fazendo-se ouvir de forma nítida (o que não aconteceu com alguns oradores adultos…), Pedro Feijó denunciou o inqualificável estatuto do aluno, sublinhou o retrocesso conceptual do novo modelo de gestão das escolas, o abusivo poder conferido aos sectores exteriores à escola na sua própria gestão. Tudo isto a ministra ouviu. E não respondeu… E Cavaco Silva desferiu-lhe a última farpa: a de que falta “qualidade” à escola actual. É que essa falta de qualidade não se contorna com malabarismos estatísticos…

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

As MÃOS #7


















Fotografia de Felizarda Barradas, professora, dirigente do SPGL e fotógrafa.

MAIS UMA MACHADADA NA CREDIBILIDADE DA POLÍTICA

DE QUEM É A CULPA: DOS DEPUTADOS OU DE QUEM OS ELEGE?

Ainda há uma semana um respeitável professor universitário e popular golfista, famoso nos escusos corredores de Bruxelas, ex-ministro da Educação e com outros títulos que me dispenso de enumerar , berrava em arruadas e comícios por terras de Braga que ele seria o deputado deles! Ele, o melhor defensor das gentes bracarenses, do arcebispo e dos adeptos do Sporting d Braga, que só graças a ele está no 1.º lugar, ele,  João de Deus Pinheiro, o conhecedor dos problemas industriais e passionais de todo o distrito que levaria solene e empertigado a todo o digno hemiciclo de São Bento. Os papalvos (ou inocentes ou ingénuos) votaram nele, elegeram o seu verbo fácil e adulador. No 1.º dia da nova Assembleia, João de Deus Pinheiro renunciou ao seu mandato. Irá ganhar muito mais para uma qualquer empresa a quem ensinará como enganar Bruxelas e fugir aos impostos?  Quanto às gentes de Braga, que se lixem! Daqui a 4 anos ele lá estará de novo a recolher o seu voto, que respeitará, com enfadado esforço, por umas escassas 8 horas. E não se pode exterminá-lo porque ele é, eternamente, o político, o deputado, o eurodeputado, o ministro.  O que na gíria popular significa, simplesmente e cada vez mais, aldrabão.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

AS MÃOS #6















Fotografia de Felizarda Barradas, professora, dirigente do SPGL e fotógrafa.

PAGAR AOS ALUNOS

Na sua crónica de 14 de Outubro de 2009, no Público, (“Uma escola de malandros”), Santana Castilho escreve “Fiquei boquiaberto quando conheci, recentemente, a prática experimental de três escolas de Paris. Pagam para os alunos irem ás aulas (…)." Cá entre nós, paga-se indirectamente: se os filhos não forem à escola, os pais perdem o direito ao subsídio social de integração (veja-se o desabafo de uma professora publicado há dias neste blogue). E também acontece haver alguns alunos a abandonar as escolas secundárias para frequentarem cursos de formação do IEFP porque aí recebem um subsídio ou uma bolsa. Os casos não serão rigorosamente idênticos. Mas “tocam” no mesmo nó górdio: para que serve uma escola onde a procura do conhecimento e da educação deixaram de ser a tarefa principal e se define como objectivo ver se o aluno não falta ou se a indisciplina não atinge níveis insuportáveis? Que professores conseguirão não “enlouquecer” num contexto destes? Sobre estes “dramas” veja o filme O Dia da Saia, que brevemente estará nos nossos cinemas.  

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

AS MÃOS #5















Fotografia de Felizarda Barradas, professora, dirigente do SPGL e fotógrafa.

SOBRE OS RANKINGS DE ESCOLAS

A divulgação pública das notas dos exames de Português e Matemática no 9.º ano e das disciplinas do 12.º ano, a que a lei obriga e que uns tantos jornais rapidamente tornam num ranking, será útil se permitir que as escolas que revelam claramente médias inferiores se questionem sobre se estão a fazer o seu melhor, que estratégias podem encontrar para melhorar e de que apoios precisam para isso. Se isto não for feito é um exercício não só inútil como prejudicial.
Responda-se à questão: tem havido melhoria nas escolas consideradas mais fracas? Porque essa é a questão. Quanto ao resto (públicas /privadas, litoral/interior) há que denunciar que se insiste em comparar o que não é comparável. Com intuitos “escondidos” e com práticas de ataque à mais elementar inteligência das coisas.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

AS MÃOS #4

















Fotografia de Felizarda Barradas, professora, dirigente do SPGL e fotógrafa.

COMO CREDIBILIZAR A POLÍTICA E OS POLÍTICOS

(MEDIDAS NECESSÁRIAS MAS NÃO SUFICIENTES)

Plano 1 – Ao longo desta maratona eleitoral (7 meses) foram surgindo diversos casos de polícia envolvendo candidatos ou partidos em campanha.
Acabadas as campanhas e as eleições, é imprescindível que cada um desses casos tenha uma solução rápida e transparente. Caso contrário cimentar-se-á a ideia de que os poderes judiciais e políticos inflamam, inventam ou apagam casos ao ritmo dos seus interesses políticos imediatos.
É preciso pois que rapidamente se saiba:

- houve ou não corrupção (seja ela leve ou ligeira) de Sócrates no caso Freeport?
- houve ou não financiamentos ilegais do PSD envolvendo o deputado António Preto?
- houve ou não compra de votos da emigração por António Braga?
- houve ou não compra de votos nas eleições internas do PSD?

E num outro plano, embora muito ligado ao anterior, houve ou não tentativas de escutas no Palácio de Belém?
Para lá destes “casos” suscitados durante a campanha, é necessário que o processo da Casa Pia, do BPN (Oliveira e Costa e Dias Loureiro) se resolvam com alguma rapidez, sob pena de o descrédito da Justiça arrasar a já negativa imagem da política e dos políticos. Sem esquecer os Isaltinos, Valentins, Ferreiras Torres…

Plano 2 – Nada pior para a política que discursos demagógicos e “de meias verdades”… Nada pior que discursos em que se sustenta uma ideia ou a sua contrária consoante o que na ocasião der mais jeito. Se as eleições europeias ou autárquicas correm mal, há que sublinhar que não é legítimo extrapolar os seus resultados para o todo nacional. Se correm bem, há que fazer essa mesma extrapolação.
O discurso de Sócrates no dia 11 foi de uma demagogia ordinária, de uma falta de rigor intelectual indigna de um governante que se preze. Sabe Sócrates que não é legítimo extrapolar resultados de eleições autárquicas para eleições nacionais. Mas isso que lhe interessa? É necessário utilizar os bons resultados autárquicos para sublinhar um (discutível) apoio nacional ao governo do PS… 
O discurso de Sócrates sobre a vitória de António Costa é intelectualmente miserável. Esquece que a Lista vencedora é uma coligação entre o PS e os Movimentos Cidadãos por Lisboa e Lisboa É Muita Gente. O Movimento Cidadãos por Lisboa valeu em 2007 mais de 10% dos votos. Sem eles, A. Costa e o PS teriam perdido Lisboa. Será que quando a coligação do PS (Sampaio, J. Soares, M.M. Carrilho) era com o PCP, também se afirmava que os votos eram “do PS”? Sócrates esquece ainda que houve mais de 5% dos votantes em Lisboa que votaram em António Costa para a Câmara, mas que votaram na CDU ou no BE para a Assembleia Municipal e freguesias. Por que tomar como base da “extraordinária votação do PS” em Lisboa, a votação para a Câmara e não para a Assembleia Municipal? Não será mais crível o contrário?
Em suma, não é com discursos de tão falso calibre e tão ausentes da verdade que se credibilizam políticos e a política.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

AS MÃOS #3






















Fotografia de Felizarda Barradas, professora, dirigente do SPGL e fotógrafa.

A VITÓRIA PERIGOSA DE HELENA ROSETA E DOS “CIDADÃOS POR LISBOA”

A pequena vantagem da lista de António Costa sobre a coligação da direita em Lisboa deixa muitíssimo claro que só a pensada e difícil decisão do Movimento Cidadãos por Lisboa, decisão que apoiei, evitou que ontem nos tivéssemos deitado com um enorme susto: o regresso de Santana Lopes à presidência da Câmara de Lisboa. O acordo “coligatório”(1) não só transferiu para a lista de António Costa a maioria dos votos dos Cidadãos por Lisboa (10% em 2005 e as sondagens antes da decisão davam-lhe entre 7 e 8%) como mobilizou um significativo número de votantes da CDU e do BE a votarem em António Costa para a Câmara, mantendo o seu voto partidário na Assembleia Municipal e nas freguesias, o que explica que quer a CDU quer o BE tenham significativamente mais votos nestas estruturas do que obtiveram para a Câmara. 
Como conseguirá Helena Roseta capitalizar esta vitória política? E, sobretudo, conseguirá o Movimento Cidadãos por Lisboa deixar o seu cunho de uma democracia participativa e próxima das populações na gestão da CML? Se o não fizer, o Movimento Cidadãos por Lisboa pode morrer, asfixiado pelo poder do PS – naturalmente a força partidária dominante na coligação vencedora.
Tudo tentarei para que tal não aconteça. E que esta vitória da “esquerda possível” em Lisboa  (o PCP e o BE não quiseram que ela fosse maior e “mais esquerda” – um erro crasso) não signifique o fim do MCL, antes o reforço da sua forma de agir. Este é o grande desafio lançado a Helena Roseta – talvez a grande vencedora destas eleições autárquicas em Lisboa.
(1) Espero que a Assembleia da República ponha fim a esta legislação absurda que impede coligações entre partidos e movimentos, por mais representativos que estes sejam. E que aplique aos movimentos políticos as mesmas regras de financiamento que aplica aos partidos políticos. Não se trata de ser contra os partidos mas sim contra a monopolização da vida política pelos partidos.

sábado, 10 de outubro de 2009

AS MÃOS #2
















Fotografia de Felizarda Barradas, professora, dirigente do SPGL e fotógrafa.

CRIANÇAS PASSAM DEMASIADO TEMPO NA ESCOLA

É a conclusão de um estudo da investigadora Maria José Araújo, que lança hoje o livro Crianças Ocupadas. Como algumas opções erradas estão a prejudicar os nossos filhos.
Segundo a autora, as crianças entre os 6 e os 12 anos dedicam ao trabalho escolar cerca de 40-45 horas semanais, deixando de ter tempo para uma necessidade básica da infância: brincar.
É um debate urgente, eternamente adiado.

(Ler mais aqui.)

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

AS MÃOS #1















Fotografia de Felizarda Barradas, professora, dirigente do SPGL e fotógrafa.

PENA A NOSSA FAMÍLIA

Não, não é mais um reparo à preguiça do meu irmão para escrever aqui; é mesmo o nome de uma candidatura independente à minha futura ex-freguesia, a Pena. Freguesia animada, cujo ex-presidente da junta foi morto à martelada por um jardineiro tresloucado. Por momentos pensei que também fosse a única freguesia de Lisboa com um movimento de gente que, como eu, está farta de ouvir falar em "famílias" em vez de "pessoas", chamando a atenção para o facto de nem todas as famílias serem particularmente recomendáveis e dignas de promoção. Mas não, é mesmo mais um uso imbecil do conceito, com um esclarecedor pequeno mal-entendido no campo da pontuação.
Apesar das suas gentes mais ou menos estranhas e mais ou menos gramaticais, a Pena é um sítio simpático. Com vários problemas, claro. Destaco o que mais me deu cabo da cabeça nos últimos anos: o trânsito. Fala-se à boca cheia de estancar o fluxo de carros rumo ao centro das cidades, mas esquece-se, muitas vezes, que quem lá mora também tem direito a ter carro. O que não significa que queira deslocar-se nele constantemente, mas quando se vive numa rua em que o passeio chega a ter menos de 20 cm de largura e o trânsito é constante, a perspectiva de ter de escolher entre segurar uma filha pelos cabelos ou andar no meio da rua, ou de termos de nos encostar à parede, com o credo (e outras palavras menos pias) na boca quando camiões de mudanças nos fazem festas aceleradas, faz com que mesmo a mais ferrenha adepta dos transportes públicos passe a ter um único objectivo na vida a partir das 6 da tarde: estacionar o mais perto possível de casa. Às vezes, com sorte, mesmo pertinho — desde que a viatura esteja de novo em circulação às 8 da manhã do dia seguinte, senão há multa por estacionamento indevido (à porta de casa, repito), num círculo vicioso que muitas vezes me obrigou a andar de carro… por viver no centro da cidade.
Para cúmulo, nos últimos tempos, pedaços da rua foram sendo privatizados em acessos a garagens particulares, ou privilegiando o estacionamento de quem trabalha por ali em detrimento dos moradores. Para mim, a única solução seria pura e simplesmente cortar o trânsito na Rua de Santo António dos Capuchos, tornando-a a igualmente segura para toda a gente. 
Mas estou de saída. Vou ter saudades dos jardins e da luz do fim de tarde sobre os telhados. Desejo aos meus futuros ex-vizinhos um futuro com menos carros e mais vírgulas. 
Que votem por isso…

Ps: Por mim, vou votar no BE e espero que o António Costa ganhe as eleições.

AGENDA DO PROFESSOR

Dia 17
8,30 - Substituição
10,00 - Aula (8º 4ª)
12,15  -  Aula (8º 2ª)
16,30 - Reunião de Departamento
18,00 - Conselho Disciplinar 7º-2ª
21,00 -  Reunião do Curso Profissional

Dia 18
8,30 - Substituição
9,15 - Reunião com alguns encarregados de Educação
10,30 - Aula com o 7-2º
12,30 - Continuação do Conselho Disciplinar
15,00 - Aula com o 7º1
17,30 - Reunião do grupo (EVT)
18,30- Reunião – Regulamento interno

E isto 4 ou 5 dias por semana!
Porra, que é mesmo demais. Quem me dera ter 35 horas por semana!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

CARVALHO DA SILVA

É certo que a encenação, embora criativa, não foi a mais interessante. Mas que o respeitadíssimo Carvalho da Silva, comunista, do PCP, secretário-geral da CGTP-IN, diga inequivocamente que Lisboa precisa da vitória da lista de António Costa merece um largo sorriso e um forte aplauso. Há quem entenda que, porque o seu candidato não pode vencer, então tanto lhe faz quem ganhe Lisboa porque, justifica-se, são todos iguais. Carvalho da Silva não. Faz a diferença: já que o PCP/CDU – o seu partido – não ganhará  a presidência da Câmara de Lisboa, então que a ganhe um homem da esquerda “possível”; Ou talvez melhor: que não se entregue Lisboa ao aventureirismo da direita PSD/CDS.
O gesto de Carvalho da Silva é um gesto sábio e corajoso. Temos homem para largos voos se e quando abandonar a CGTP-IN.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

OH STORA EU SÓ ESTOU AQUI PORQUE SE NÃO VIER OS MEUS VELHOS PERDEM O SUBSÍDIO

Na sua cruel pureza (?) foi assim que alguns alunos se expuseram perante uma incrédula professora. Não foi numa escola do vale do Ave, foi aqui em Lisboa, numa daquelas escolas de confluência entre “gente rica” e amargos bairros sociais. Ouvi este desabafo ainda sob o efeito diáfano do “Dia Mundial do Professor” e dei comigo a pensar que em muito pouco tempo os professores destes “alunos” (que de facto não são, porque não é a procura do conhecimento que os leva á escola) vão estourar, frequentarão os psiquiatras e, naturalmente faltarão alguns dias à escola. “Reles absentistas” vociferará um tal de Valter Lemos, que percebe tanto de escolas como eu de lagares de azeite, mas é secretário de estado da educação. ”Não podem ficar retidos pelo menos no 1º ano do curso profissional”, decretará uma tal Maria de Lurdes que nunca enfrentou situações similares e que resume toda a realidade aos seus esquemas virtuais. E para que hei-de eu retê-los, questionar-se-á o professor, se isso roubar o subsídio aos pais? É a estes docentes que uma tal Lurdes Rodrigues, ministra sabe-se lá porquê, exigirá que definam “objectivos” de acordo com um projecto educativo… 
E como querer que a profissionalidade docente resista a estes tratamentos de polé?

terça-feira, 6 de outubro de 2009

5 DE OUTUBRO: DIA MUNDIAL DO PROFESSOR

António Nóvoa considera que o século XXI terá que assinalar o “regresso dos professores”

Falando na sessão com que a Fenprof assinalou o “Dia Mundial do Professor”, 5 de Outubro, o reitor da Universidade de Lisboa, Professor António Nóvoa, sublinhou que, contrariando tendências dos últimos decénios do século anterior, se torna necessário o “regresso dos professores”, repondo a centralidade do papel do professor e educador, papel diminuído pelo aposta numa excessiva racionalização e “tecnocratização” do ensino que tem vindo a caracterizar os últimos tempos. Torna-se necessário, sublinhou, “voltar a dar sentido à escola”, reafirmando a importância da relação pedagógica. Segundo A. Nóvoa torna-se necessário superar as dificuldades de uma escola inclusiva, uma escola em que é necessário encontrar respostas para um novo tipo de alunos, que se apresentam sem projecto próprio e sem vontade de aprender. Não basta, referiu, uma “escola para todos”, é precisa “uma aprendizagem para todos”. Considerou o orador que repor a “centralidade da profissão docente” assenta em 4 questões centrais: a formação de professores, a construção de uma “cultura profissional dos docentes”, a avaliação e a “acção pública”
Relativamente à formação, A. Nóvoa defendeu ser necessário passar a formação” para dentro das escolas e dos professores, invertendo o que hoje se passa. Referindo-se à necessidade de uma “cultura profissional”, o reitor alertou para o facto de estarmos a fazer mal a integração dos novos professores, com consequências negativas para a vida profissional. Considerou ser necessária uma forte componente colaborativa entre os professores como um sinal de identidade cultural da profissão. “Há uma forte identidade sindical”, mas fraca cultura “interna” de identidade profissional, para cuja construção se torna necessário reorganizar o espaço da Escola e introduzir dinâmicas de diferenciação.
António Nóvoa considerou que a avaliação é um elemento central de qualquer profissão, defendendo que os professores deverão defender uma avaliação “entre pares”, sendo necessário instalar uma dinâmica de avaliação centrada na prática colectiva.
António Nóvoa referiu ainda que os professores revelaram uma fortíssima capacidade de intervenção pública e sindical, mas que ainda não se fez emergir a mesma capacidade de intervenção na definição de uma concepção da Educação. Reconhecendo que os próximos anos não vão ser fáceis e que dependerão do que se conseguir fazer hoje, A. Nóvoa terminou afirmando que,apesar de todas as dúvidas, há razões para viver com a esperança de que se dê o regresso da profissionalidade da profissão docente como centro das preocupações no século XXI.

Na sua intervenção, Mário Nogueira definiu os objectivos centrais da luta dos professores, particularmente os que definiu como “objectivos a curto prazo”: a suspensão do modelo de avaliação de desempenho, o fim da divisão da carreira, a redefinição das condições de trabalho, nomeadamente dos horários. E a revisão do “ECD do ME”.

COMPARAR OS PROGRAMAS ELEITORAIS

Está disponível aqui uma grelha comparativa dos programas eleitorais dos quatro principais candidatos à Câmara Municipal de Lisboa, fruto do trabalho da Rosa Félix (mestranda em Engenharia do Ambiente) e do Bernardino Aranda (economista).
É um trabalho profundo e detalhado, que permite descobrir diferenças, semelhanças e silêncios e tem como objectivo dinamizar o debate sectorial dos ditos programas.

RECADINHO FRATERNO

No Circo Lusitano somos amigos dos animais.
Até temos um urso amestrado, arraçado de Maria de Lurdes Modesto, no elenco; mas foi criado de tal forma em liberdade que, quando lhe começámos a fazer ver que a jaula não estava suficientemente arrumada para lhe garantir o bem-estar a que tinha direito, pegou nos tachinhos e zarpou para os Países Baixos. Visita-nos quando lhe apetece e recebemo-lo sempre com percebes, enchidos caseiros e minis pretas.
Faz um número de malabarismo com vinis de 7 polegadas e caracoletas incandescentes impressionante, arrota em ruído branco, e é um contorcionista de raro arrojo e elegância. Ficou de passar por cá este fim-de-semana, para vos deixar de boca aberta… mas é livre e feliz, só actua quando lhe apetece.
Não se preocupem — continuará a ter direito à sua ração de caras de bacalhau e feijoada de buzinas. Connosco, o Partido Pelos Animais não vai ter com que se preocupar.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

TANGO EM LISBOA






















Por Victor Ribeiro.

TANGO: PATRIMÓNIO MUNDIAL

por Ermelinda Fernandes

O tango foi declarado património imaterial da humanidade pela Unesco.
Boa notícia! Promete mais iniciativas conjuntas de Buenos Aires e Montevideo no sentido da conservação e divulgação de um diversificado património cultural .
Hoje dança-se tango por todo o mundo ... até em Lisboa! Temos as nossas «milongas» regulares, as nossas aulas , os nossos mestres, além de encontros, festivais , espectáculos...Somos uma pequena comunidade, com diferentes sensibilidades estéticas e pequenos sub-grupos, mas conseguimos gerir as nossas diferenças e e estar presentes nas várias iniciativas, de forma a celebrar a nossa paixão pela música e pela dança.

Imagem de Victor Ribeiro.

RAZÃO DE ORGULHO

Portugal foi considerado o país que melhor acolhe os emigrantes. Não conheço exactamente os parâmetros que foram avaliados , na base dos quais nos deram esta distinção, muito mais importante que os triunfos do futebol ou as medalhas olímpicas. Apesar das nossas dificuldades económicas, ainda conseguimos ser «humanos» para os que nos buscam porque vivem bem pior que nós. Sei que isto não significa que tudo esteja bem. Sei da exploração que boa parte dos patrões (?) lhes impõe, sei das suas dificuldades nas nossas escolas, sei do racismo que aqui e além ainda surge, sei dos indocumentados. Apesar disso, hoje sinto orgulho em ser português!

COMPROMISSO À ESQUERDA

A iniciativa «Compromisso à Esquerda» foi lançada no passado dia 30. Deixamos aqui o texto do apelo, disponível para subscrição pública em http://www.compromissoaesquerda.com.

Apelo à estabilidade governativa

O resultado das eleições legislativas permite afirmar com clareza que os portugueses recusaram a hegemonia neo-liberal, dando o seu voto maioritariamente à esquerda. É por isso legítimo esperar que o futuro governo do país acolha novas políticas solidárias, relançando a prosperidade e a esperança no futuro.
A 27 de Setembro os eleitores revelaram uma inquestionável vontade de entendimento entre os partidos de esquerda. As votações alcançadas pelo Partido Socialista, pelo Bloco de Esquerda e pela Coligação Democrática Unitária são o resultado das fortes movimentações sociais ocorridas na legislatura passada, tendo contribuído decisivamente para gerar uma nova solução pluripartidária susceptível de encontrar respostas aos factores de crise e desigualdade social.
Os entendimentos entre as diversas forças de esquerda para uma solução de governo (coligação ou acordo de incidência parlamentar) são muito comuns na Europa Ocidental (por exemplo, no Chipre, em Espanha, em França, na Itália, na Suécia, na Dinamarca, na Noruega, na Finlândia, etc...).
Em Portugal, pelo contrário, há mais de 30 anos que as esquerdas continuam incapazes de se entender para gerarem soluções de governo. Contudo, vários estudos têm revelado que este elemento resulta de um crescente desfasamento entre os eleitores destes partidos (que desejam um entendimento) e os seus eleitos (que persistem na incomunicabilidade).
Os resultados de 27 de Setembro exigem que as esquerdas se encontrem e sejam capazes de explicitar o contributo que cada um destes partidos está disposto a dar para se encontrar uma solução estável de governo. Pelo menos essa tentativa de entendimento é devida ao povo português pela forma como demonstrou a sua vontade eleitoral.
Os subscritores do presente Apelo agem no sentido de que seja traduzido num programa de governo as lutas e anseios de amplas camadas da população que justificam celeridade na construção de respostas urgentes e adequadas para os problemas do seu quotidiano. Para servir este objectivo, deverão ser estudadas as bases para um Compromisso à Esquerda que reforce as conquistas democráticas, vinculando a acção governativa a um elenco programático.

Contamos consigo para assinar e divulgar este apelo!

domingo, 4 de outubro de 2009

GRACIAS, MERCEDES!

MORREU MERCEDES SOSA

A «senhora da trova» calou-se, aos 74 anos.
Foi, durante décadas, a voz da combate da América Latina. Um combate ora áspero, ora doce, sempre feito de poesia alheia, partilhada, como a poesia deve ser.
Vi-a na Aula Magna há uns anos - gordinha, saltitante, uma espécie de Mafalda de muita carne, osso e ainda mais alma, com a voz mais rouca mas ainda poderosa, impressionante, terna. Só tive pena de não lhe dar um grande, grande, grande, grande abraço. Tão grande como ela.

Se é verdade, como o dizem ela e Horacio Guarany, que

«Si se calla el cantor calla la vida
porque la vida, la vida misma es todo un canto
si se calla el cantor, muere de espanto
la esperanza, la luz y la alegría.

Si se calla el cantor se quedan solos
los humildes gorriones de los diarios,
los obreros del puerto se persignan
quién habrá de luchar por su salario.

Si se calla el cantor muere la rosa
de que sirve la rosa sin el canto
debe el canto ser luz sobre los campos
iluminando siempre a los de abajo.

Que no calle el cantor porque el silencio
cobarde apaña la maldad que oprime,
no saben los cantores de agachadas
no callarán jamás de frente al crimén.

Si se calla el cantor... calla la vida.»

... a verdade é que a Mercedes deu-nos demasiado para que se possa calar.

À MARTELADA

O texto que antecedeu esta versão do Tratado de Lisboa foi apressadamente retirado de circulação porque dois povos (França e Holanda) lhe deram uma rotunda nega e outros se preparavam para fazer o mesmo. Incapazes de convencer o povo das maravilhas que o Tratado prenunciava, os «senhores da democracia» optaram pelo método mais seguro: alteraram pontualmente o texto (para que não se dissesse que era o mesmo) e proibiram os povos de votar – fá-lo-iam apenas os iluminados representantes desses mesmos povos (mesmo que, como em Portugal, esta questão tivesse estado sempre ausente das questões discutidas entre o povo e os seus ditos representantes). Certamente por «ingenuidade», um único país – a Irlanda - manteve na sua Constituição a obrigação de referendar este tipo de tratados. Um claro não foi o resultado da vontade popular. Mas os «senhores da democracia» não desarmam facilmente: ameaças daqui, ralhetes de acolá, e toca a repetir a votação as vezes necessárias até que um sim possa surgir. Os irlandeses não são parvos nem masoquistas. Não tiveram outro remédio... Lá deram o yes.
E os checos que se cuidem. Se ameaçarem «mijar fora do penico» a mãe democracia (madrasta) lhes dará umas boas nalgadas como se faz aos meninos mal comportados.
Tempo houve em que se dizia que a democracia era do povo: agora diz-se que é dos que supostamente o representam.
Por melhor que fosse o Tratado de Lisboa (e não é, pelo menos no que respeita aos direitos sociais e económicos dos trabalhadores), o modo como foi imposto desacredita-o de vez. Tratados impostos à martelada nunca foram eficazes…

sábado, 3 de outubro de 2009

TOMAR A INICIATIVA NUM NOVO QUADRO PARLAMENTAR

1. Com todo o respeito pelos professores e educadores que votaram no Partido Socialista, deve sublinhar-se que a classe docente contribuiu de uma forma decisiva e consciente para que o PS tenha perdido a maioria absoluta e mais de 8% de votos relativamente a 2005. Não tinha outro caminho. Nenhuma classe profissional pode admitir ser enxovalhada e humilhada. Muito menos os professores e educadores pela dignidade e especificidade da missão que a sociedade lhes confere. Seria um péssimo contributo para a sociedade que a classe docente se não tivesse rebelado contra uma equipa ministerial cuja incompetência pedagógica, técnica e política ultrapassou todos os limites, prejudicando gravemente a profissão docente e as escolas. E, porque, como diz o adágio popular, «quem não se sente não é filho de boa gente», os professores e educadores revoltaram-se. E o voto contra o PS de Sócrates foi uma das facetas dessa revolta.
Convém esclarecer que o SPGL e a maioria dos sindicatos não alimentou a campanha do «não votes PS» que percorreu a Internet. Enquanto sindicatos, a nossa função foi denunciar as práticas da equipa ministerial e do governo que teimosamente a sustentou até ao fim. O apelo directo ao voto ou ao não voto é do domínio político-partidário que não deve ser confundido com o domínio sindical. Mas os professores fizeram muito bem em ter contribuído para o fim da maioria absoluta.
Aliás, a revolta dos docentes corporizou a exigência ética da defesa dos valores democráticos. Precisamente porque entendem que a democracia não se esgota no momento da votação, os professores e educadores, nos seus sindicatos e nas suas organizações, cumpriram o dever de denunciar as práticas de arrogância e de abuso de poder, roçando por várias vezes a prática ditatorial, que caracterizou o primeiro mandato de José Sócrates. E retiraram-lhe a maioria absoluta porque ele e a sua equipa a transformaram na prática de um poder absoluto, cego, alheio ao espírito democrático. Os professores cumpriram o seu dever de cidadania.

2. Mas um outro dever se lhes impõe: o de encontrarem solução para o caos em que o governo cessante deixou a Educação. O novo quadro parlamentar poderá ser mais favorável à construção de uma melhor escola e à construção de um novo paradigma da profissão docente. Mas sem o contributo pensado e assumido da classe docente nada de sustentado se poderá fazer. Combater o insucesso escolar sem recurso a facilitismos e a jogos estatísticos, melhorar as aprendizagens, criar um modelo de avaliação que não seja castrador, nem injusto, nem penalizador dos melhores –como o actual é-, repensar a carreira docente, fazer regressar à gestão das escolas o espírito democrático, são apenas alguns dos hercúleos trabalhos que estão à nossa frente. Não há tempo a perder, há que tomar a iniciativa.

3. E é já no próximo dia 5 de OutubroDia Mundial do Professor – que vamos iniciar esta longa caminhada. Regressemos um pouco mais cedo do fim de semana prolongado, e marquemos presença, pelas 15,30, na Secundária Camões, em Lisboa. Além da intervenção do secretário geral, António Nóvoa aceitou o convite da Fenprof para se dirigir aos professores. Todos conhecemos o rigor do seu espírito crítico, todos conhecemos a sua paixão racional pela Educação. Ele é a voz mais indicada para o início da caminhada. Contamos consigo!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A COMISSÃO INSTALADORA



EIS O CIRCO LUSITANO

CIRCO de diversão, CIRCO de exercícios arriscados (mas sempre com rede), CIRCO de palhaçadas tão verrinosas quanto possível, CIRCO de números variados (política, educação, arte,livros...) e onde o público pode intervir: aplaudido, assobiando e, no limite, pateando.
LUSITANO porque é desta amostra de país de que mais se falará. Mas, como em todo o CIRCO que se preze, haverá sempre a presença de números internacionais.
CIRCO LUSITANO: mais uma presença na palhaçada do blogosfera

Colaboradores? Por enquanto, poucos. António Avelãs, Mariana Avelãs e André Avelãs. E mais uns tantos a quem vamos contactar. Foi por isso que lhe enviamos este convite: quer vir ao CIRCO connosco?