domingo, 28 de fevereiro de 2010

PIOR DO QUE UM CEGO É AQUELE QUE NÃO QUER VER

Num recente encontro de militantes socialistas da área do ensino, Sócrates insistiu na treta de que com Maria de Lurdes Rodrigues se iniciou  a avaliação dos professores e educadores e de que tal "conquista " veio para ficar. Tese falsa. Primeiro, porque desde 1998 que a avaliação de professores estava regulamentada e era praticada. Mas sobretudo porque se período houve em que não houve nada, mesmo nada, parecido com avaliação de desempenho docente, foi o período do consulado, mais ou menos terrorista, de Lurdes Rodrigues. E finalmente, porque o modelo  que aí vem só por ironia pode definir-se como um modelo de avaliação de desempenho; é antes um processo de seriação dos docentes. Um processo absurdo, tipicamente administrativo, que em nada vai melhorar a qualidade da nossa escola. Bem pelo contrário: ao incentivar  uma competitividade extrema, ao potenciar as maiores injustiças relativas, vai contribuir para agravar as dificuldades da nossa escola pública.
Espero apenas que o desastre seja nítido, para que muito em breve substituamos modelos de seriação por mecanismos honestos de avaliação. É por isso que é preciso levar a sério o que ficou consignado no "acordo": a análise da aplicação prática desta coisa erradamente chamada modelo de avaliação de desempenho docente decorrerá já no final de 2011.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

LUIS FIGO

Figo era para os portugueses uma espécie de ídolo quase imaculado. Até porque era excepcional no que mais aquece os lusos corações: o futebol. Além do mais, tinha umas pernas que deixavam as mulheres (pelo menos) de “cabeça à roda”. Figo era, além de tudo isso, cordato, falava bem, num português escorreito, e até tinha uma fundação para os mais pequenos. Figo era, numa outra versão, um quase-Amália. De repente, tudo isto se obscureceu nos meandros deste lodo mal cheiroso em que se tornou a política nacional. Ninguém se deixará convencer com a tese de uma estranha casualidade: no mesmo dia em que toma o primeiro almoço com José Sócrates e lhe manifesta publicamente o seu apoio eleitoral, Figo assina um estranhíssimo e bem pago contrato publicitário com a Taguspark, sendo que em ambos os casos há a mediação do dirigente socialista Rui Pedro Soares, um dos directores da PT (nota: uso os dados fornecidos pela imprensa – vária – que presumo confirmados). Mesmo que fosse uma invulgar coincidência, mandaria o bom senso político que tal não se verificasse. Em política, o que parece, é. E “isto” foi muito feio.
Sócrates vai caindo. Lentamente (pelo menos, a acreditar nas sondagens hoje divulgadas). É certo que não é possível manter por muito mais tempo um primeiro-ministro tão desacreditado. Mas não sei se seremos capazes de construir uma alternativa à sua esquerda. E prefiro o pior Sócrates ao melhor Rangel/Aguiar Branco/Passos Coelho.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

OS INTERESSES PEDAGÓGICOS EM PRIMEIRO LUGAR

Recebi hoje professores de uma escola situada numa daquelas áreas socialmente difíceis. Queixavam-se os colegas de que o director da escola não estimulava o apreço pelo seu trabalho, realizado em condições difíceis junto de populações carenciadas. Denunciavam a aceitação acrítica por parte da direcção de queixas apresentadas por alguns pais, admitindo o director desde logo que eles teriam toda a razão, desconsiderando o professor que, apesar de já ter largos anos de serviço, continua como contratado. A ele lhe impuseram a assistência a aulas – sem sequer o informarem dos motivos de tal decisão. Aos contratados, ameaça-se que, se não requererem aulas assistidas não serão reconduzidos – numa clara violação da lei. E, diziam-me os colegas, assim se vai deteriorando o ambiente da escola e desincentivando todo o nosso esforço.
E, pensei eu, ainda não está em vigor em cada uma das escolas um modelo de avaliação que ameaça – se nada for alterado – ter de distinguir entre um professo classificados com 6,8 de um com 6,9… Que o ME, não tenha o bom senso pedagógico de antever o caos que vai criar é deveras lamentável; que sejam os próprios directores a incentivar um clima de conflito nas suas escolas parece absurdo. Ou talvez não se admitirmos que, pelos vistos, as questões pedagógicas cederam o passo ao autoritarismo nem sempre competente.  

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

PARQUE ESCOLAR – COMO A FALTA DE TRANSPARÊNCIA E DE CLAREZA TRAMOU UMA BOA IDEIA

A reabilitação do parque escolar (básico e secundário) poderia ficar como uma das poucas medidas de que a equipa de Maria de Lurdes Rodrigues se poderia não envergonhar. Não só porque “deixaria” escolas com melhores condições mas também porque possibilitou algum emprego e actividade empresarial em momento de grave retracção económica. Mas esta doce perspectiva ficou de imediato manchada. Algumas construções apresentam graves erros de construção: chove nos novos espaços do Pedro Nunes e do Gil Vicente, queixam-se as escolas do enorme gasto de energia – que não conseguem pagar – perfeitamente desnecessário num clima moderado como o nosso. Queixam-se os arquitectos e as empresas de as obras terem sido adjudicadas sem concurso e quase todas a uma única empresa. Aprofunda-se a ambiguidade quanto à “transferência” destas escolas para património da nova empresa, deixando no ar a hipótese de uma futura privatização do espaço ou do serviço educativo. Nenhum de nós gostaria de ver num hipotético condomínio fechado uma lápide dizendo “Aqui funcionou o Liceu de Passos Manuel”.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Ao SUL #38

















Fotografia de Felizarda Barradas, professora, dirigente do SPGL e fotógrafa. 

domingo, 21 de fevereiro de 2010

"REFORMAR" A LÓGICA DOS HORÁRIOS DOS PROFESSORES É CONDIÇÃO SINE QUA NON

Continua a falar-se nas mudanças que vão ser introduzidas no 3.º ciclo já no próximo ano lectivo (e porquê só no 3.º ciclo?). O que vai ser mudado não é ainda claro. Tudo indica que num primeiro momento as mudanças serão pequenas e incidirão na supressão ou reconfiguração das chamadas áreas não curriculares. E também no aumento da carga horária para a Matemática. É certo que Roma e Pavia não se fizeram num dia e mais vale avançar pouco mas de forma segura do que estar a amontoar reformas sobre reformas inconclusas. Mas ou se reforma seriamente a lógica absurda que preside à actual elaboração dos horários dos docentes, reduzindo de forma clara a chamada "componente não lectiva", libertando tempo para uma exigente preparação das actividades lectivas, ou não haverá qualquer disponibilidade anímica (nem "temporal") para quaisquer inovações que se pretendam úteis. E o tempo para esta "definição" começa a escassear. As expectativas criadas foram grandes. Se os resultados forem demasiado escassos, os professores acabarão por "explodir" — e nesse ambiente não há qualquer novidade que resulte, por mais justa e adequada que seja.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

VERDADES NUAS E CRUAS

A jornalista São José Almeida na sua página do Público de hoje põe o dedo na ferida que muitos teimam em não ver: o balanço destes decénios pós- cavaquistas é o de uma sociedade que aprofundou as desigualdades, que se tornou mais pobre (e, como sempre, onde uns poucos acumularam riquezas abjectas), que degradou os serviços públicos da saúde e do ensino, procurando aí a justificação para a sua progressiva privatização. Criou condições para que a justiça perdesse credibilidade. E, não menos grave, degradou a imagem dos políticos e da política, destruiu a ética na política, criou um sombrio clima de corrupção impune. É preciso renovar as ideias e partir com confiança para uma sociedade profundamente diferente. Utopia? Certamente que não.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

ÉTICA, VERDADE E POLÍTICA

A pergunta inicial e essencial – há ou não um plano urdido pelo governo para domesticar a comunicação social – parece ter dado primazia a uma outra: há ou não vantagem política em que a verdade se manifeste? E quando? Ou por outras palavras: interessa ao PS aproveitar este “conflito” para provocar eleições antecipadas? Interessa ao PSD que uma eventual responsabilidade do PS neste processo se patenteie num momento em que a sua liderança interna está em discussão? Interessa a Cavaco uma crise governativa? Em função dos interesses e da força relativa de cada uma das partes, assim teremos “a verdade” – a cada um a sua –  e o tempo em que ela será patenteada.
A mim, muito francamente, não me interessa que este governo caia para dar lugar a um executivo do PSD ou a uma maioria absoluta deste PS. Porém, isso não deve impedir que a verdade se apure – e se condene o PS e Sócrates se houver que os condenar. Ou se condene o PSD e Cavaco por terem criado um “caso” realmente inexistente. Interessa-me sobretudo que se ataque o desemprego e a degradação económica e social em que vamos alegremente mergulhando – com maior ou menor liberdade de imprensa (no fim de contas, são sempre os poderes económicos que controlam a comunicação social e dela se servem para os seus particulares interesses).

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Ao SUL #37















Fotografia de Felizarda Barradas, professora, dirigente do SPGL e fotógrafa. 

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

SOBRE OS NÃO AUMENTOS NA FUNÇÃO PÚBLICA

1. Mesmo antes de qualquer negociação, o Governo já decidiu que não haverá qualquer aumento nos salários na função pública. Que não há dinheiro, alegam os responsáveis governamentais. Eu até acredito que não haja. Quanto as causas para tal penúria é que convém que se discuta. O economista da CGTP e deputado do PCP Eugénio Rosa, utilizando os números divulgados por fontes oficiais sobre o desempenho da economia portuguesa em 2009, sublinha que a grande quebra de receitas fiscais verificada se deve menos à diminuição do PIB e mais à fuga e evasão fiscais que, à sombra da “crise” inúmeras empresas utilizaram. Ou seja: uns empresários “chico – espertos” fogem ao pagamento de impostos; uns falsos “sonsos” nas finanças acham isso normal e não tentam impedir a fuga – a “crise” servirá sempre para atirar areia aos olhos dos portugueses e é imperioso não irritar os senhores empresários.

2. Mas o que mais me surpreende é o anúncio de que, afinal, sempre haverá algum dinheiro. Não para os que ganham 500 ou 600 euros por mês, mas para os dirigentes e chefias – para os prémios pelo seu exercício, se atingirem os “objectivos” – prémio que receberão mesmo que o seu exercício se venha posteriormente a revelar pernicioso ou ruinoso como aconteceu com os gerentes que levaram os bancos à falência. Dirão alguns que esses prémios são essenciais para a inovação e para o progresso; outros sustentarão que esse dinheiro seria insuficiente para aumentar os vencimentos mais baixos de uma forma generalizada. Cá para mim, é mesmo uma questão de classe – para o governo, só os mais ricos merecem ser protegidos e estimulados. Para os outros – a enorme maioria – “bacalhau basta”.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

SOBRE A NOMEAÇÃO DE VÍTOR CONSTÂNCIO PARA O BCE

1. Sendo a União Europeia constituída por diferentes países é natural que os diferentes cargos que a estrutura exige sejam providos recorrendo à rotatividade de modo a que cada país se sinta "parte do todo". De tal forma que, mesmo quando esses lugares são ocupados por eleição, esta  não passa de uma mera formalidade previamente acordada entre os diferentes interesses. Portugal tem os mesmos direitos que os outros países; daí que a nomeação de Vítor Constâncio, cuja competência técnica é generalizadamente aceite, deva ser encarada como uma sucessão normal, prevista e consentânea com os interesses dos países mais poderosos. Apresentá-la como grande vitória da diplomacia lusa ou como prova de que os portugueses são "os melhores" é parolice saloia.

2. Parece triste sina dos portugueses: vão ocupar estes cargos quando a sua "cotação nacional" anda na mó de baixo. Durão Barroso fugiu às dificuldades que o seu próprio governo criara conseguindo ser eleito — parece que ninguém estava muito interessado no lugar — para presidente da UE. Constâncio vai para o Banco Central Europeu — ao que parece para a "pasta" da supervisão — no preciso momento em que a incapacidade de  "supervisão" do Banco de Portugal, por si presidido originou os escândalos e as fraudes do BPN e do BPP. Internamente, a imagem de V. Constâncio estava em queda. Não só pelos escândalos do BPN e do BPP mas também pelos falhanços sucessivos na previsão da inflação e dos ritmos de crescimento. Junto dos trabalhadores, o presidente do Banco de Portugal era conhecido pelos permanentes apelos à contenção salarial — ele que, por ironia, tinha um salário altíssimo, mesmo quando comparado com os seus congéneres internacionais.

3. Na União Europeia, a presença de Vítor Constâncio no BCE não provocará nenhuma alteração. Ele cumprirá a sua missão de competente burocrata. Quanto ao Banco de Portugal, ficamos à espera. Oxalá que melhore.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A PROPÓSITO DE UMA EVENTUAL MANIFESTAÇÃO

A realização de manifestações como forma de pressão política, de protesto contra medidas que se consideram injustas, ou mesmo de regozijo, é legítima em democracia. O que, porém, é incompatível com um regime democrático mas usual em regimes ditatoriais é que se apele à força de uma manifestação – normalmente adjectivada de “popular” – para evitar que a justiça funcione ou para que a “justiça popular” decida o que só à justiça legal compete. Cheira-me que a manifestação de apoio a José Sócrates que estará a ser convocada “anonimamente (!) por sms se enquadra no âmbito destas últimas. O país não precisa de manobras que obscureçam ainda mais a situação mas sim que se dê espaço à justiça para que se clarifique qual o grau de responsabilidade do primeiro-ministro e do PS na presumível tentativa de condicionar ilegitimamanete a comunicação social. Isto, se a justiça evidenciar que está em condições de ajuizar com a independência que lhe deveria ser intrínseca – o que também não parece claro, dados os sinais que permitem temer que também aqui a pressão do actual poder é asfixiante. 
A realização dessa putativa manifestação, se o PS dela não se demarcar com veemência, não fará mais do que agravar as fundadas suspeitas que recaem sobre Sócrates e o seu governo.  

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

LIBERDADE(S)


A 24 de Novembro de 1993, dois dias antes desta reportagem, apanhei o meu primeiro enxerto de porrada numa manifestação. Tinha 18 anos, e escondida atrás de um carro murmurava sem parar : "o governo caiu, o governo caiu." Tinha 18 anos e as entranhas cheias de Abril e de padrões cristalinos de democracia, e não admitia que um governo que lançasse cães e bastões sobre estudantes pudesse sobreviver. 
Mas sobreviveu. Uns bons anos, que nos valeram mais umas bastonadas e muita filha da putice, e, mesmo perdida a minha candura democrática, se me dissessem que esta corja ainda ia estar no poleiro 17 anos depois, não acreditava. 
Mas está. Com variantes, é certo. E não é menos certo que se na altura houvesse blogosfera, twitter e causas no facebook nada me teria salvo de um ataque cardíaco. Porque parece mesmo, mesmo que o governo está prestes a cair, e eu, que até acho que o Sócrates é mesmo um aldrabão que assinaria por baixo todas as filhas da putice do cavaquismo, se calhar devia estar vestida de branco e a sair de casa.
Mas não estou. Não tenho nada a dizer sobre os odores da direita, e sou daquelas que se desfaz em sorrisos e cortesias sinceras quando vê uma cara ideologicamente improvável numa causa como o aborto ou o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Mas, sinceramente, não acho que a liberdade de imprensa esteja em perigo em Portugal. Acho, isso sim, que Sócrates não se importaria muito que estivesse, mas também sei que se a fronteira passasse a ser entre quem acredita que a liberdade de imprensa depende do capital investido e quem apoia a independência dos jornalistas Sócrates estaria vestido de branco e seria benvindo.
E Também não me parece que a queda de Sócrates seja um fim em si mesma; é antes um meio, necessário e desejado, para uma alternativa. E é a unidade em torno dessa alternativa que me convoca para manifestações. 
Estou, portanto, de acordo com a primeira parte do texto do Daniel. Mas não com a segunda: estou-me marimbando para a unidade que se transforma também num fim em si mesma. Digam-me em que consiste a alternativa, e é em torno dela que se constrói a unidade; não me venham é dizer, por favor, que a alternativa é a unidade.
Fico em casa porque o cavaquismo não é alternativa ao socratismo. Ou porque tenho para mim que o Sócrates se anda a pelar por que o façam cair para ver se saca uma maioria absoluta. Ou, sobretudo, porque a liberdade até se pode vestir de muitas cores, mas não devia ser pau para toda a retórica e muito menos esquecer-se que ela é que é um fim em si mesma.

É como diz o tio Fonso Roixo, num mirandês "preinho de feturo":

Hai giente que nun antende,
Ua sencilha berdade:
Nunca há-de haber un mercado
Que benda la libardade.

(L Purmeiro Livro de bersos de Fonso Roixo, 2009)

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

EDUCAÇÃO SEXUAL – UM DIREITO

É o lema da campanha lançada hoje pelo SPGL e a APF (Associação para o Planeamento Familiar) na Escola 2,3 do Bairro Padre Cruz. Uma das “partes” da campanha é o lançamento de um concurso subordinado a esse mesmo tema e dirigido aos alunos das escolas 2,3 e secundárias. Concurso a ser concretizado através da apresentação de cartazes e vídeos. Consulte o regulamento do concurso em www.spgl.pt.
Durante a sessão de apresentação da campanha foi notório o apelo dos professores presentes (de diferentes escolas) para que seja alargada a formação dos docentes para que neste campo da educação se obtenham os melhores resultados.
Foi também sublinhada a urgência em concretizar a regulamentação necessária para que as decisões tomadas neste campo pela Assembleia da República sejam concretizadas.

Ao SUL #36















Fotografia de Felizarda Barradas, professora, dirigente do SPGL e fotógrafa. 

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

AS CONTRADIÇÕES DA MADEIRA

A região autónoma da Madeira , dizem os números, tem um índice de riqueza superior á média nacional. Mas recebe do Orçamento de Estado mais do que outras regiões que vivem pior (para leigos na matéria, como eu, não se percebem as razões pelas quais o PCP e o BE votaram a favor dessa benesse).
A Madeira, pelos vistos, é uma região rica com um significativo número de pobres – e de pobreza extrema. Não é caso único. Mas é lamentável.
Na Madeira os bispos católicos apoiam o Sr. Jardim (e padres pedófilos – lembram-se do Pe Frederico sobre o qual, além de pedofilia, recaíam sérias acusações de homicídio, a quem o bispo do Funchal conseguiu despachar para o Brasil durante uma saída precária da prisão?). Os padres que denunciam a pobreza e tentam combatê-la são afastados das suas dioceses pelos bispos (a igreja católica sempre foi “fina” nestas ambiguidades. Nela, ao tempo, coexistiram o Cardeal Cerejeira e o Bispo do Porto, Abel Varzim, ou Felicidade Alves. Sempre de mão dada com os poderosos mas sempre também com alguém que lhe dê boa consciência para invocar quando necessário).

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

VIVA A MOURARIA!

Sabe bem ler que a Câmara Municipal de Lisboa e a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional aprovaram um projecto de renovação e requalificação da Mouraria (bairro histórico de Lisboa). E que nesse projecto tem voz activa a associação que trabalha no bairro, isto é, no terreno, com os moradores. Ficamos todos a torcer para que o projecto corra muito bem, isto é, que se requalifique mantendo a sua população tradicional – que hoje em dia é  do ponto de vista cultural e étnico, multifacetada. Se tal se conseguir, serão sete milhões muito bem empregues. E sairá reforçada a imagem de esquerda desta equipa.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

ATÉ QUE A FÚRIA NOS REVOLTE

Francamente, não sei qual o melhor epíteto para adjectivar a situação do país: estranha? contraditória? perigosa? dramática? Bem, talvez suficientemente perigosa.

Os factos:

- Há dias, membros do governo, incluindo o primeiro-ministro, dizem em voz pelos vistos suficientemente alta para que fosse  ouvida por quem de direito, num almoço (ou jantar, isso é indiferente), que seria preciso correr com o  jornalista Mário Crespo. Alguém, que ouviu e que ao que parece é um cidadão acima de qualquer suspeita, informou o Mário Crespo que, com óbvia dignidade, reagiu nos termos que são publicamente reconhecidos. Não acredito que mais altos responsáveis do governo se tenham deixado "entusiasmar" e tenham dito o que não queriam que fosse ouvido ( a menos que estivessem bêbados, o que não consta).

 - Escassos dias depois, o controlo da comunicação social pelo governo regressa às primeiras páginas, através da publicação no semanário "Sol" de parte das "escutas" dos telefonemas entre altos responsáveis do PS e responsáveis de bancos e grandes empresas públicas. Ainda não percebo o encadeamento, mas a proximidade com o caso "Mário Crespo" pode não ser uma mera coincidência. O que é revelado pelo semanário (e no dia seguinte tratado nos jornais de referência) é particularmente grave, deixando "em maus lençóis" não só PS e o primeiro ministro, mas também o Procurador Geral da República e o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça. Citando André Freire no Público de 6 de Fevereiro: "tudo isto é muito comprometedor e exige alguma clarificação dos responsáveis, sobretudo o presidente do STJ e o PGR", que contrariam os indícios alegados pelo magistrado de Aveiro. "Eles têm um dever para com a sociedade portuguesa e não se devem refugiar em formalismos jurídicos para não o fazer. Têm esse dever".

- Entretanto, a propósito do orçamento para a Madeira (ao que parece, 50 milhões de euros, isto é, 0,03 do orçamento) e depois de  se ter conseguido garantir a aprovação do OE, o Governo desencadeia um estranho dramatismo, falando-se insistentemente em crise política e mesmo em demissão do governo. Como se tal não fosse já bastante, o ministro Teixeira dos Santos faz uma solene comunicação ao país para dizer que não cumprirá a decisão da Assembleia da República.

- A Bolsa de Lisboa sofre acentuadas quebras na 5ª e 6ª feiras.

A opinião: 

1. A demissão do governo na conjuntura actual seria muito grave para o país. Estranha é pois a sugestão do responsável do PCP na Madeira (Edgar Silva) aconselhando o inefável Jardim a usar da sua influência junto do PSD para o derrube do governo. (Nota: uso informação veiculada hoje mesmo pela Antena1)

2. Porque o PS tem consciência disso, dramatiza e depois recua (foi o papel desempenhado pelo ministro das finanças), apresentando-se como aquele que age responsavelmente, ao contrário das oposições. Tenta assim ganhar a opinião pública para o seu lado.

3. Como sabe que qualquer processo em torno da alegada tentativa de controlo da comunicação social, nas actuais circunstâncias, terminaria em nada, usa estas "fugas" para acentuar a sua "vitimização" — os opositores seriam meros e irresponsáveis  detractores.

4. Entretanto a imagem externa do país vai-se degradando. Face à desagregação da oposição, Sócrates aparecerá sempre como o único salvador possível, para o quê exigiráo reforço do seu poder. Os trabalhadores? O Desemprego? Parecem ser "trocos" nestes jogos palacianos. Até que a fúria nos faça revoltar.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

AINDA O 1.º CICLO AVALIATIVO DOS PROFESSORES

Todos os dias chegam ao sindicato, presencialmente por mail ou por telefone, descrições e problemas suscitados pela enorme trapalhada e abominável fraude que foi o processo avaliativo engendrado por Maria de Lurdes Rodrigues e aplicado no ano lectivo de 2008/2009. Agora são as consequências dos arredondamentos automáticos da plataforma informática do ME. Há escolas que a usaram e outras que a não usaram – nada obrigava a usá-la. A sua utilização faz subir as classificações dos professores. Daí que alguns docentes, insatisfeitos com a sua classificação, nas escolas que a não tinham usado, tenham reclamado obrigando à sua utilização. Resultado: uns, “arredondados”, passaram de Bom para Muito Bom e de Muito Bom para Excelente. Mas como há “quotas” para estas menções, outros tantos que eram excelentes baixaram para muito bons e outros de muito bons para bons. Tudo isto não por qualquer acto pedagógico ou educacional, mas apenas por via dos arredondamentos!
Tudo isto é uma vergonha. Até porque se houve ano em que de facto nada de sério se avaliou foi o de 2008/2009.
Entristece-me que o ME não tenha o corajoso bom senso de decidir ignorar as classificações atribuídas nesse “ciclo avaliativo” que de justo nada teve. As injustiças que a sua manutenção provoca são incomensuravelmente maiores do que as putativas injustiças que resultariam da sua anulação.
Entristece-me que haja professores que usem estes estratagemas – os arredondamentos – para melhorar a sua nota, contrariando a maior parte das vezes decisões tomadas pelos órgãos das escolas, incluindo Assembleias Gerais de Professores.
Entristece-me que haja quem não entenda que ter Muito Bom ou Excelente num processo destes nada significa do ponto de vista da qualidade. Em alguns casos que conheço não só não dignifica – envergonha.

PS. Ainda há quem teça loas a Lurdes Rodrigues pelo modelo de avaliação que impôs?

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

CANTOR YOSSELE ROSENBLATT - TZADIK RABII ELOZOR

A HIPERSENSIBILIDADE DE SÓCRATES À AVALIAÇÃO DOS OUTROS

Por Almiro José Lopes

A avaliação política, e principalmente a da acção política ininterrupta, não pode ser circunscrita aos resultados eleitorais que de tempos a tempos formalmente se escrutina. Esses resultados validam os poderes de governação e, por arrasto, as políticas que maioritariamente foram valorizadas num quadro de proporcionalidade que convém ser politicamente observado. Aliás, como professor, sempre sustentei que a nobreza da avaliação não consistia no seu juízo definitivo, mas na dimensão pedagógica do crescimento e do desenvolvimento que ela poderia e deveria propiciar. A qualidade da democracia assim o exige e é nesta perspectiva que registo criticamente a hipersensibilidade do nosso Primeiro-Ministro.
O Primeiro-Ministro Sócrates não resguarda o convencimento da pertinência dos seus direitos e, particularmente, desmede-se quando invoca dos outros a satisfação às suas razões, particularmente nos planos político e instrumental. Seria mau se o motivo de tais desregramentos fosse o seu natural, imaginável e humano egotismo. Mas pior, e sobretudo politicamente inferior, é quando se sente acossado nos seus propósitos políticos e institucionais, que presumivelmente de boa fé persegue, assim que a comunidade, ou alguém que esta considere ou preze, não reconhece as suas “justas causas”.
Se a este não despiciendo aspecto agregarmos os laivos de arrogância de quem pensa que é “o mais justo entre os justos” – sobranceria, aliás, que o escolta na sua delicada e legítima empreitada de defender as suas políticas, em nome dos apelantes “interesse geral” e “interesse nacional” – impõe-se interpelar se o comedimento intelectual e democrático desejável a um primeiro-ministro vai ou não dando lugar ao devaneio grotesco da perseguição política.
Ao sentimento de ser perseguido, o Primeiro-Ministro responde com a diligência da persecução, a cuja dimensão política acrescenta, de uma forma por vezes patética, a sua face mais utilitária e hedonista. Nesta vertigem de características delirantes, os jornalistas críticos mais mediáticos, mesmo (ou principalmente) os mais acreditados, são logicamente vistos como hostis, conspiratórios e enganadores. A frequência já desmedida deste confronto negativo e a consequente busca de evitamento da réplica por parte de quem tem responsabilidades governativas, não é um bom sinal para a nossa democracia e para o seu necessário aprofundamento. A sua admissão – por acção ou omissão –  é, contudo, bem mais grave. Ao cidadão e jornalista Mário Crespo, um forte e solidário abraço.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

BOM SENSO E SENTIDO “DE ESTADO”

Quer os professores em geral quer os directores de escolas/agrupamentos levam “as mãos à cabeça” quando confrontados com a hipótese de terem de distinguir os docentes, na avaliação formal, por décimas: 7,9 ou 7,7 ou 7,7 … Tarefa impossível! Enquanto a divisão for inevitável, haja o mínimo de bom senso e de respeito pela vida nas escolas. Tem sido bem aceite a ideia de, relativamente aos docentes que vierem a ser classificados com BOM, nos escalões onde se mantiver a contingentação, a seriação seja feita pela sua graduação profissional – um critério claro e geral. Façamos sentir esta posição junto do Ministério da Educação!
A propósito: a trapalhada relativa à fraude que foi a avaliação no “ciclo avaliativo” que terminou é inenarrável. Entre notas arredondadas e não arredondadas, entre classificações feita à mão ou através da plataforma, entre escolas que usaram os mais díspares critérios, a confusão é total. Um mínimo de justiça implicaria que se ignorassem as classificações atribuídas e que, para efeitos burocráticos fosse acordado que todos os professores e educadores tiveram BOM. O caos ameaça!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Ao SUL #35














Fotografia de Felizarda Barradas, professora, dirigente do SPGL e fotógrafa. 

APOSENTAÇÕES

O que mais perturba é a insegurança que as constantes alterações legislativas provocam. Ainda há poucos anos tinham sido alteradas as regras para a aposentação, tornando-a mais difícil, reduzindo o valor da pensão e penalizando fortemente as antecipações. Os funcionários públicos (no caso vertente, os professores) fizeram as suas contas e organizaram a sua vida: uns adiaram a aposentação, outros anteciparam-na. Tudo pode ter de ser alterado agora porque as regras voltaram a mudar – embora sempre no mesmo sentido: reduzir o valor da pensão, sobrecarregar eventuais antecipações. E as pessoas perguntam como será no próximo ano. Esta falta de segurança mina a credibilidade do poder político. No que respeita aos professores, começou uma corrida desenfreada à aposentação. Antes que seja tarde, antes que tudo piore. O que  vai piorar de certeza é a qualidade da nossa escola pública. Mas isso não perturba o sono de José Sócrates.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

IRLANDA: O LEGADO DA NÃO SEPARAÇÃO ENTRE RELIGIÃO E ESTADO

Acerca do recente episódio-barra-escândalo das ligações extra-conjugais da mulher do primeiro-ministro da Irlanda do Norte a única coisa a dizer é que a vida privada da senhora e a idade de quem faz parte dela é um não-assunto. O favorecimento político é que é grave, seja a favor de um amante ou do padeiro. Mas é impossível resistir a esboçar um sorriso, porque Iris Robinson, membro do DUP, partido conservador e evangélico, se notabilizou por comentários tão dignos como "não há nada pior, tirando a homossexualidade e a sodomia, do que o abuso sexual e crianças inocentes" e por afirmar que a obrigação de qualquer governo é defender a lei de Deus.
Também recentemente, Gerry Adams, líder do outro partido que compõe o "governo de unidade nacional" da Irlanda do Norte, o Sinn Féin, assumiu a existência de casos de abuso sexual na família. Fê-lo para combater a "cultura do encobrimento", que durante décadas foi praticada por todos os sectores ligados ao catolicismo irlandês. É sintomático, aliás, que o cardeal espanhol António Cañizares tenha dito que os abusos sexuais comprovadamente praticados de forma sistemática por membros da igreja católica irlandesa sobre crianças a seu cargo são menos graves… que o aborto.
O que têm os dois caso em comum? O facto de surgirem de uma sociedade onde a religião marca a agenda política. A norte a sul, entre católicos e protestantes, a igreja é símbolo de um misto de espiritualidade e poder. A norte e a sul a sexualidade é tabu, e só é discutida em contextos de escândalo ou abuso. Mas norte e sul reclamam-se o baluarte da intervenção estatal ao nível da sexualidade, porque o aborto é expressamente proibido em toda a ilha (e as viagens a Inglaterra para o praticar um dado adquirido, embora nos últimos anos pelo menos duas adolescentes grávidas em consequência de violação tenham sido impedidas de sair do país para não abortarem). 
É este o legado da não separação entre religião e Estado no país da Europa mais frequentemente comparado com Portugal. Lá, como aqui, as igrejas das denominações maioritárias preocupam-se sobretudo em garantir que o Estado se rege pelos seus valores, e minimizam todo o sofrimento que isso possa causar. O grande mérito de um Estado laico é garantir os direitos e dignidade de todos os cidadãos, sem que isso ponha em causa a liberdade (por exemplo religiosa) de ninguém.

(publicado no Esquerda.net)