domingo, 24 de janeiro de 2010

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DOS PROFESSORES: O PERIGOSO CAMINHO DO FACILITISMO

Nós, os mais velhos — possivelmente por isso mesmo — ficamos atónitos quando nos apercebemos que em muitos cursos, ou pelo menos em muitas cadeiras de muitos cursos do ensino superior, a nota mínima que se dá é 15 ou 16… Talvez por mimetismo esta escala tende a alastrar no secundário — esse aluno é fraquito, tem 14 valores. Parecemos um país de génios; de um modo geral essa genialidade não se manifesta no concreto da vida; pelo  menos não se manifesta de forma mais evidente do que se manifestava quando ter um 14 era raro e excelente!
O acordo assinado entre o ministério da Educação e os professores aponta no mesmo caminho: vai ser facílimo ter um Excelente ou um Muito Bom! Dêem-se as aulas sem faltas excessivas, cumpra-se o que tem de se cumprir, dêem-se altas notas aos alunos (para que não seja o papá ou a mamã a exigi-las); se for preciso e a falta de ética o permitir, bajule-se o director; ensaiem-se duas aulas —espectáculo para "encher o olho" ao avaliador (que possivelmente não saberá como se avalia uma aula de um colega) e — zás — aí está um MUITO BOM ou um EXCELENTE.
Recordo a minha passagem pelo Gil Vicente, pelo Camões e pelo D. João de Castro para concluir o então "ensino secundário liceal". De todos os professores que apanhei, houve um — apenas um — que era manifestamente muito bom — o saudoso Luís Simões Gomes. Que me dava muitos elogios e no fim lá me classificava com um 12 ou 13 — e que bem que me sabia essa nota! Parece que agora Simões Gomes há aos molhos em cada esquina. Eu não os enxergo — mas deve ser da idade, que isto de ser sexagenário tem os seus custos.
Portugal será certamente um "caso" para estudo internacional — terá um dos menos produtivos sistemas de ensino da Europa, apesar de contar com um rácio excepcional de professores excelentes e muito bons!
Minha cara ministra: os muito bons e excelentes devem ser excepcionais: só devem atribuir-se como reconhecimento de uma carreira, nunca antes de 15 ou 20 anos de docência e esse reconhecimento deve ser inequívoco na comunidade escolar e validado por entidades exteriores à escola. Informe-se sobre a qualidade dos docentes a quem no ciclo avaliativo (só por ironia assim chamado) agora findo foi atribuída essa classificação de mérito excepcional. Assustar-se-á. Até porque os professores que eram (são) mesmo muito bons se recusaram a alimentar essa fraude. Acredito que agora não haja condições para alterar o que ficou no acordo. Temos dois anos para o fazer.

1 comentário:

  1. Ena, Ena, Dr. Avelãs!
    De facto tu surpreendes-me muitas vezes e sempre pela positiva (o que para uma quase sexagenária e ainda não senil, já não é coisa fácil...).
    Como este texto é tão diametralmente oposto àquele lamento constante, que em ladainha se houve de tantos professores! Acabei agora de levar com um em cima (quando comentava um 'post' na página do Miguel Portas), que em resumo se traduz numa máxima que é a seguinte: se não considerarmos que os professores são generalizadamente excelentes, estamos a contribuir para denegrir a imagem deles, a falar ilegitimamente de áreas que desconhecemos, a ter um ataque de 'opinionite' e vício de mandar bocas, que só servem para confundir a opinião pública.
    Apre!
    Médicos, cantoneiros, engenheiros, juízes, enfermeiros, advogados, arquitectos, todo o exercício de qualquer profissão é passível de opiniões diversas e avaliações diferenciadas - nunca a de professor.

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