terça-feira, 1 de dezembro de 2009

NACIONALISMO, PATRIOTISMO E…

A propósito do que se comemora hoje, feriado nacional de 1 de Dezembro, data da restauração da independência de Portugal face ao rei de Castela, talvez valha a pena reflectir um pouco sobre dois “valores”: o de nacionalismo e o de patriotismo. Os da minha idade lembrar-se-ão do caldo de exacerbado nacionalismo e de patriotismo com que nos contavam as nossas magníficas vitórias sobre os “perros” castelhanos. Começávamos na batalha de Ourique, enaltecia-se a força do povo na revolta de 1383-1385, atingia foros de milagre em Aljubarrota, com a célebre padeira, a D. Brites, e culminava com o acto heróico de uns tantos nobres “defenestrando”(todos nós fixávamos esta palavra tão engraçada) o traidor Miguel de Vasconcelos, a quem, se calhar não foi feita a mesma pergunta posta à duquesa de Mântua: quer Vossa Senhoria sair pela porta ou pela janela? Fomos ensinados no brio patriótico da grande nação a quem coubera por desígnio divino expandir a fé e a civilização e por isso deus nosso senhor nos fizera de tal arte que um português valia bem por 10 castelhanos. É certo que havia por lá umas guerritas perdidas, mas eram coisa de somenos: a do Toro, e a das Laranjeiras, coisa sem préstimo. Felizmente, hoje poupamos os nossos alunos a idiotices deste jaez...
Uma das minhas primeiras crises desta apologia do nacionalismo e do patriotismo, lembra-me bem, foi não perceber na altura como é que se aceitava como rei de Portugal, um tal D. Pedro (o IV), que nos tinha feito perder o Brasil, de que fora o primeiro imperador… Um traidor à frente da pátria? Mais grave e definitivo, porém, um pouco mais tarde, foi ter percebido que, por um lado, os portugueses que nos tinham libertado dos espanhóis eram uns heróis, mas os angolanos, moçambicanos e guineenses que queriam fazer o mesmo nos seus países relativamente a Portugal eram traidores, terroristas, vendidos, comunistas e outros mimos próprios da época. Também aí a História se encarregou de pôr as coisas no seu devido lugar…
Hoje, o conceito de nacionalismo aparece, com raras excepções, motivadas claramente por situações em que o conceito de nação não é reconhecido sobre a forma de Estado (o Sinn Féin irlandês e o Bloco Nacionalista Galego,  por exemplo, e até o PNV basco, que, sendo de direita, não é fascista) associado a posições de extrema direita, de comportamentos xenófobos e de violência gratuita e criminosa. Passou a ser um valor negativo, um contravalor. Nos tempos da minha (ida) juventude, ao nacionalismo burguês e reaccionário opúnhamos o internacionalismo proletário; hoje, já que não há proletariado e as “internacionais comunistas” terminaram sem honra nem glória, socorremo-nos dos conceitos de globalização ou de altermundialização, de comunidades europeias ou outras, da necessidade de políticas globais contra as manifestações doentiamente serôdias dos nacionalistas…
Se o nacionalismo se tornou um contravalor, o patriotismo assume-se como um valor (felizmente) abandonado, apenas vivificado em momentos de exaltação futebolística (a paródia das bandeiras nacionais durante o Europeu ficará como uma epopeia do ridículo), das raras vitórias nos Jogos Olímpicos e pouco mais. Mesmo em tempos de guerra, imagino, seria muito difícil convencer alguém a morrer pela Pátria. Lá cantava o Brassens: “mourir pour dés idées, d'accord, mais de mort lente”
Seja como for, uma estranha coincidência, faz com que o 1.º de Dezembro, seja, a partir deste ano, também o da entrada em vigor do Tratado de Lisboa. Ou seja: no mesmo dia, celebramos a independência e a dissolução dessa mesma independência numa estrutura gradualmente cada vez mais federal, em que os pequenos países pouco ou nada valem perante os “maiorais”.  Se tivesse que optar, optava certamente pela segunda situação, mas nem isso me foi permitido, porque ninguém mo perguntou ou me pediu que votasse… O Tratado de Lisboa foi-nos imposto “à martelada” (veja o artigo publicado em 5 de Outubro passado neste mesmo blogue). Esperemos que quem por nós decidiu, tenha decidido bem. Afinal de contas, se votássemos maioritariamente “não”, acontecer-nos-ia o mesmo que aos irlandeses, franceses ou holandeses…


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