O programa “Plano Inclinado” de Mário Crespo no passado sábado foi dedicado ao ensino superior português, cuja imagem internacional ficou um pouco manchada em recente estudo (sobre o mérito do qual não tenho competência para me pronunciar). Fiquei deveras compungido com o que me foi dado ver e ouvir. Para os intervenientes a causa dos fracos resultados dos estudantes universitários – registe-se que este nível de ensino tem as maiores taxas de insucesso/abandono do país – é a fraca preparação com que os estudantes vêm do ensino secundário. Mesmo que tal seja verdade, a justificação é fraca. Tal como não é aceitável que o ensino secundário descanse e justifique o seu insucesso pela má preparação que os alunos tragam do básico e os professores do 3º ciclo não poderão descansar alegando que a culpa é do 2º ciclo… Terá que fazer parte da missão de cada ciclo/nível de ensino encontrar as estratégias que permitam recuperar eventuais atrasos com que os alunos se apresentem – e o ensino superior não pode ser excepção. É por isso que não pode aceitar-se o desdém contra a pedagogia que atravessou o programa, sobretudo nas declarações de João Duque (um bom professor universitário seria um prémio Nobel, escrevendo no quadro, de costas para os alunos…) e de Fátima Bonifácio, que reclamou o direito de não ter vocação para professora do secundário! E é ainda nesta linha de raciocínio que deve inserir-se a completa desqualificação com que os intervenientes se referiram às Ciências da Educação. Para Nuno Crato o ensino da Sociologia da Educação e das teorias da didáctica e da aprendizagem são meras perdas de tempo… E seria essa perda de tempo que explicaria que os professores do ensino não superior saíssem mal preparados das tais escolas do ensino superior.
Devo confessar que acabei o programa a pensar que aqueles ilustres professores universitários não tinham ultrapassado o discurso banal do senso comum. Disseram verdades hoje mais que repetidas (incluindo a ideia de que após Maria de Lurdes Rodrigues vão ser necessários anos para que qualquer reforma do ensino não superior possa vingar), com justificações e níveis de análise absolutamente “vulgares”. Resta-me a esperança de que eles não representem a qualidade dos nossos professores universitários e politécnicos.
Uma nota final (porque essa me diz directamente respeito): o que preocupa Fátima Bonifácio é a força da Fenprof e dos sindicatos. Pois é. As teses mais retrógradas do neoliberalismo assentam nisso mesmo: o combate aos sindicatos. E já que parece mal proibi-los, ao menos que se enfraqueçam. É uma opinião clarificadora: tem ao menos essa vantagem.
Há de facto , também no ensino superior, um enorme e intransponivel desfasamento, entre o que se ensina nas escolas e universidades e, sobretudo quem ensina e a factualidade do país.
ResponderEliminarHá pouco mais de dois meses, a minha filha ingressou no ensino superior e, pasme-se o dislate de um docente que informou os caloiros que , chegar tarde às aulas era um costume academico, enraizado nas instituições de ensino superior.
Está tudo dito quanto ao superior e insuspeito elitismo dos senhores e senhoras docentes das universidades. Pode haver conhecimento , que o há sem duvida, mas cultura.....
Elogio o seu optimismo. É que eu não sei se há mesmo conhecimento, ou pelo menos conhecimento actualizado e não meramente "académico"
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