Ao ler as notícias dos últimos dias dei comigo a recordar algumas peripécias dos meus 20 anos. Que me perdoem pois os mais novos — os velhos são sempre uns chatos quando se põem a falar do "seu tempo". E os da minha idade, aproveitem para recordar.
Vem isto a propósito de dois tipos de acontecimentos: a cimeira de defesa do planeta em Copenhaga e as manifestações em Teerão e Atenas.
Vamos lá por partes:
1- Agora que parece que nos decidimos levar muito a sério a questão ecológica e percebemos que o planeta está mesmo ameaçado, vale a pena recordar o desdém com que nos anos de 1970 (ou talvez uns anos antes) foram recebidos os primeiros ecologistas. Românticos parvos era o mais afável que lhes chamávamos com as suas manias da natureza, do regresso ao campo e à fuga para o Nepal, sempre preocupados com as árvores, os bichos, as flores e a água. Surgiram os movimentos dos "verdes", sendo que os mais notórios entre eles — os verdes alemães — tinham à frente um antigo e prestigiado militar (creio que era mesmo general...) Entre os comunistas defendia-se, com evidente inverdade mas com alguma lógica, que o que eles pretendiam era impedir o desenvolvimento dos povos mais atrasados industrialmente, e por isso eram forças ao serviço do imperialismo americano (nós não imaginávamos as catástrofes ecológicas que se consumavam nos países do socialismo real... nem que os "Verdes" viriam a ser filhos de estimação do PCP). Hoje reconhecemos que esses pioneiros, para lá do folclore e da teatralidade dos seus comportamentos, estavam no caminho certo. Tão certo que as gerações mais novas são quase "naturalmente" ecologistas". Esperemos que Copenhaga acerte o passo com o futuro: salvar o planeta, melhorar as condições globais de vida, potenciar o desenvolvimento ecologicamente sustentado de todos os povos.
(Um conselho de velhote aos mais novos: não desdenhem das novidades. Aproveitem-nas sempre!)
2- As manifestações em Teerão contra a ditadura têm por centro nevrálgico a Universidade de Teerão; na Grécia é da Escola Politécnica de Atenas que sai o grosso dos jovens contestatários. E isso traz-me à memória que também em Portugal as universidades foram o foco mais visível da luta contra a ditadura de Salazar e Caetano. E que foi sobretudo nos meios universitários que, na RDA, se organizou a resistência contra a Stasi e contra o regime de Honnecker. E que o Maio de 68 em França se desenvolveu a partir de algumas reputadíssimas universidades. Será que a cultura é mesmo revolucionária ( mesmo que a revolução seja de direita)? (Nota: eu sei que isto é uma heresia, marxisticamente falando...)
E porque é que nas nossas universidades, a este nível de intervenção política e social, não se passa mesmo nada de assinalar? Parece que nem daí podemos esperar algum raio de esperança.
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