terça-feira, 29 de dezembro de 2009

PELO REGRESSO DO RIGOR E DA DECÊNCIA…(1)

por Anabela Delgado

Bem sei que já tenho mais de meio século de vida e um pouco mais de 3 dezenas de anos de profissão docente mas a verdade é que para mim um profissional ou mesmo um aluno “muito bom” é aquele que é reconhecido pela maioria da comunidade em que se insere. 
Numa turma os alunos muito bons são naturalmente reconhecidos pelos professores e pelos colegas – são naturalmente uma minoria – é natural.  
Numa qualquer profissão, também na docência, um profissional muito bom é reconhecido pelos seus pares e por aqueles com quem interage – são uma minoria – é natural.
Todos os estudos reconhecem que nos vários universos profissionais a maioria dos trabalhadores são bons, desempenham competentemente a sua profissão. Uma pequena minoria é muito boa e outra pequena minoria é má profissional, vulgo, incompetente.
Vem toda esta conversa a propósito do que se passou com o processo de avaliação dos docentes imposto pela anterior ministra, particularmente sobre a atribuição de "muito bons" e "excelentes" a uns quantos docentes. 
O discurso político justificativo para a atribuição de tais menções e a imposição de quotas é a necessidade de impor rigor e distinguir os melhores… Claro que hoje, depois deste processo, entre os docentes, mesmo entre aqueles que acreditaram sinceramente que assim seria, este discurso só pode provocar, no mínimo, um sorriso de ironia! É que numa profissão em que se funciona frequentemente em colectivo, mais facilmente nos conhecemos e reconhecemos… 
As escolas começam agora a viver as consequências deste brilhante processo: quase todos os que se candidataram a obter as ditas classificações e que não foram premiados com as ditas notas de muito bom e/ou excelente reclamam. 
Têm razão, se a questão era candidatar-se a ter duas aulas assistidas e o fizeram, porque não hão-de ter essas classificações? Não é evidentemente o número determinado pelas quotas que os convence de que não são efectivamente muito bons! 
Se a questão era ser nomeado avaliador, coordenador ou membro de comissão de avaliação, e mereceram essa nomeação, qual é a dúvida de que são muito bons?!
Eu, simples e normal professora que reclamo que para ser considerada muito boa não basta eu estar convencida de que o sou e candidatar-me a ter 2 ou 3 aulas assistidas, estou cada vez mais céptica: 
1. Por um lado vejo que a actual ministra tem o mesmo discurso quanto ao reconhecimento do mérito e as propostas que apresentou para o distinguir não estão muito longe das que vigoraram e deram o resultado que está à vista. 
2. Por outro lado, porque embora me apeteça sugerir que os muito bons devem assumir mais responsabilidades nas escolas, questiono-me sobre o tipo de escola que teremos se esta ficar exclusivamente nas mãos destes. 
3. Finalmente, no quadro de desconfiança e desânimo que o modelo instituiu entre o corpo docente, como criar para o futuro o clima adequado ao trabalho em equipa indispensável para encontrar as melhores soluções para a escola e para os alunos?!

(1) Com o pedido de desculpa à ínfima minoria dos efectivamente muito bons que, por mero acaso, foram reconhecidos como tal neste processo.

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