terça-feira, 1 de dezembro de 2009

ADD #4

por João Paulo Videira

É preciso criar condições de implementação da ADD? Que condições?

A primeira pergunta do título é meramente retórica. Não deixei de a fazer, contudo, porque a maioria das vezes que ouço falar ou leio alguma coisa sobre ADD é como se se tratasse de um fenómeno autónomo cuja solução resolveria todos os outros problemas da Educação. Ora, parece-me que este pensamento está errado. A ADD é um dos muitos problemas que precisamos atacar no Ensino Público. Será central, nevrálgico, na medida em que tem repercussões a vários níveis mas não é único nem pode ser abordado separadamente. 
Agrada-me a postura que a FENPROF tem tido de incluir a ADD no quadro mais geral das negociações do ECD. Nem podia ser de outra forma. Importa, ainda assim, apontar alguns dos aspectos que mais directamente se cruzam com a ADD e que requerem solução sob pena de esta não funcionar.

Primeira questão: a ADD não é coisa de somenos. É, ou pretende-se que seja, um processo criterioso e, consequentemente, é um processo trabalhoso que, para ter efeitos nas práticas dos docentes que resultem em melhorias, não pode ser encarado como uma coisa que os professores fazem depois do trabalho, cinco minutos antes de irem para casa. Não pode ser um, ou vários, papeluchos preenchidos no intervalo das aulas. Tem de ser encarado com a seriedade que merece e, logo à partida, temos de assumir que tomará tempo e recursos.

Segunda questão: decorre da primeira. A implementação de um modelo de ADD capaz implica uma profunda e eficaz revisão dos horários de trabalho. Como se revêem estes é outra questão e não vamos tratá-la aqui contudo, é para mim claro que a ADD deve ser contemplada, em nome da sua seriedade, nos horários dos professores.

Terceira questão: pedagogia iterativa, vulgo, aulas de substituição. Tem sido aspecto de muita discussão e até de alguma divisão. A verdade é que raramente se olha para este fenómeno, como uma metodologia autónoma, com mecanismos próprios e, consequentemente a requerer uma implementação mais séria do que aquela que o ME tem promovido. A sua especificidade deveria ser contemplada na ADD. O trabalho iterativo pressupõe intervenções pontuais que, por sê-lo, não se tornam menos importantes, apenas requerem um trabalho de preparação diferente, metodologias diferentes e, claro está, implicam um nível de conhecimento do perfil do aluno também diferente. A pontualidade destas intervenções/interacções pedagógicas gera dificuldades na sua preparação em particular no que concerne à construção de materiais didácticos. 
Devido a estas diferenças, torna-se violentador para alunos e professores bem como altamente desaconselhável que o mesmo docente que prepara e implementa a pedagogia continuada o faça também no âmbito da intervenção pontual. Tudo isto tem de ser tido em conta.

Quarta questão: formação contínua. Na minha opinião até poderia não cruzar-se com a ADD mas a acontecer, ou seja, a ter aquela consequências ou a dar contributos para esta é preciso aferir muito bem como deve acontecer tal interacção. Quase toda a gente fala em formação decorrente das necessidades mas não é líquido que as necessidades da comunidade sejam as do professor e vice-versa e, no entanto, quem está a ser avaliado é o docente. Depois importará também reflectir como se contabiliza a formação feita. A que decorreu das indicações colhidas no processo de ADD? Por horas? Por créditos? Prefiro a primeira hipótese e penso que já era tempo de acabarmos com a “bolonhização” da formação contínua naquilo que concerne à contabilização por UC.

Quinta questão: Diferentes momentos de carreira. Temos professores de quadro de escola, de agrupamento, contratados… É preciso perceber que a sua situação na carreira pode exigir procedimentos diferenciados.

Sexta questão: Gestão e Administração escolar. Pensar que a ADD está separada deste factor é, no mínimo, um a ingenuidade. Este é um dos factores que mais influencia a ADD e por via do actual modelo de Gestão, a ADD tem, amiúde, sido utilizada como uma arma. É fundamental, neste aspecto, devolver a democracia às escolas, logo, quem as gere deve ser colegial e universalmente eleito por quem nelas trabalha.

Sétima questão: Novas oportunidades. O modelo de avaliação que agora cessa “esqueceu-se” que era preciso avaliar estes professores também que, para além do trabalho decorrente da ADD, estão a braços com a implementação de um modelo pedagógico diferente e novo nas escolas.

Outras questões haveria para reflectirmos, contudo, o mais importante é percebermos que a ADD não é uma ilha. Não é um processo que desenvolvemos paralelamente ao trabalho quotidiano. Faz parte desse trabalho e tem consequências nele. A Avaliação do Desempenho não pode constituir um obstáculo ao desempenho propriamente dito logo, tem de ter em conta as condições que o envolvem.

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