quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

PARA QUE SERVE A ESCOLA?

(A propósito de um texto de Santana Castilho)

Santana Castilho continua a impor-se pela violência racional das suas crónicas. “Portugal de cócoras”, crónica do Público de 9 de Dezembro, tem ainda outras virtudes: a de pôr a radical questão de saber para que serve a Escola, para que serve a Escola numa sociedade em profunda crise, que esperanças há quanto à saída da crise.
Agradou-me a forma como S. C. denuncia o facto de a Escola (e toda a sociedade) ter perdido a noção de que a sua missão é a construção do homem integral, substituindo-a pela preparação de “simples instrumentos de uma economia global, desumanizada, injusta, egoísta…”. E, com a sua radicalidade, exclama: “Portugal não define as suas políticas educativas. Portugal está de cócoras frente aos senhores do dinheiro." E é ainda a recusa deste papel da Escola que o leva a questionar o que se pretende com a tão badalada “formação ao longo da vida.” Escreve S. C.: “Formação ao longo da vida, formação em cima de formação? Para quê? Para que as pessoas compreendam melhor o universo que as rodeia? Para apurarem a sensibilidade como humanos? Para apreciarem a beleza do que resta? Para aprenderem a ser solidários? Não! Para responderem às solicitações do dinheiro."
Outras linhas da reflexão desta crónica mereceriam destaque. Nomeadamente a sua reflexão sobre o desemprego de licenciados para quem ele não vaticina outra saída que não seja a emigração se não formos capazes de encontrar outra estratégia para o país. Estratégia que inverta o caminho do desemprego, do aumento das desigualdades e da sobreexploração de quem trabalha.
Lida a crónica de Santana Castilho, e sobretudo pelo peso do título, não sei se é de levar a sério a sua frase final: “É tempo de acreditar e de agir.“ Antes me parece que um enorme cepticismo o atravessa. Mas na filosofia eu habituei-me a ver o cepticismo como o que produz o mais sadio optimismo.  

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