Por João Paulo Videira
A Avaliação do Desempenho Docente deve ter uma componente de Avaliação Externa?
Quando terminei a redacção deste pequeno apontamento e fiz uma leitura para perceber se as ideias haviam saído no papel como estavam na cabeça e, já agora, corrigir umas quantas gralhas, apercebi-me de que o texto estava “curioso”. Curioso porque continha curiosidades, ou seja, factores de aparente estranhamento, e curioso porque esquisito. Esquisito porque pouco previsível ou expectável tendo em conta o seu contexto. Ainda pensei em não o enviar para publicação mas entendi, depois, deixá-lo ver a luz do dia e arriscar expor o seu conteúdo e, por conseguinte, o seu autor.
A primeira curiosidade é que se tem da escola pública e dos seus profissionais a ideia, quanto a mim errada e cristalizada, de que se fecham em si e no seu universo e são avessos aos contactos com o exterior porque só eles é que sabem do assunto.
A segunda curiosidade é que, se a primeira estivesse correcta, como se explicariam todos os mecanismos que, ano lectivo após ano lectivo, a Escola acciona para interagir com os diversos parceiros e instituições da comunidade em que se insere bem como de outras comunidades nacionais e estrangeiras. Contactos com encarregados de educação, autarquias, indústria, comércio, serviços, visitas de estudo a teatros, ambientes profissionais, escolas, museus, projectos de inserção, reinserção, requalificação, parcerias, etc, etc, etc…
A terceira curiosidade é a de que surgiu, durante o mandato de Maria de Lurdes Rodrigues, a ideia da Avaliação Externa das Escolas como se fosse algo de original e peregrino quando, na verdade, há muito que as escolas são avaliadas por agentes externos. Informalmente pelos seus utentes. Formalmente pelas inspecções fossem elas de cariz administrativo ou pedagógico.
Estranho, por isso, que se discuta a existência de uma componente de avaliação externa integrada na ADD uma vez que são práticas a que os professores há muito se habituaram. De resto, do contacto que tenho tido com os professores nos últimos anos, emerge uma ideia a este respeito que não devo guardar só para mim. Parece-me, com grande convicção, que muitos professores não só não se importariam com uma avaliação externa como entendem que essa seria a melhor e mais adequada metodologia para pôr em marcha um modelo de avaliação. Uma ideia assim do género: alguém exterior à escola, qualificado e isento a avaliar o trabalho que dentro dela se faz. Arriscaria, mesmo, ser mais fácil defender uma tal avaliação do que a moderna avaliação entre pares porque me parece que entre pares é uma metodologia bem mais estranha aos professores e por eles menos utilizada desde sempre.
E qual é que entendo ser a metodologia mais adequada para implementar a ADD? Curiosamente, por mais esquisito que pareça, eu não considero a avaliação entre pares e a avaliação externa exclusivas uma da outra mas antes complementares uma da outra pelo que defendo que os procedimentos devem assentar numa acção entre pares, confiada a quem contacta quotidianamente com o universo a ser avaliado mas cujos processos e resultados sejam depois validados por uma avaliação externa de cariz pedagógico que valide o trabalho interno de avaliação credibilizando-o.
O trabalho entre pares permitirá a avaliação dos contributos individuais para a consecução dos objectivos da instituição e para a qualidade do serviço público de educação prestado e a avaliação externa teria como função confirmar as principais potencialidades e fraquezas de cada comunidade escolar, funcionando como agente motivador e impulsionador daquelas e como auxílio na detecção e superação destas. Sempre com um cariz francamente pedagógico, formativo e reformulador, bem entendido.
Entendo, assim, que o universo profissional docente, frequentemente acusado de fechamento, é o mais preparado para a avaliação externa precisamente devido às práticas de grande abertura que promove quotidianamente. Entendo, também, que devem encarar-se as metodologias de avaliação entre pares e externa como complementares uma da outra sendo tal complementaridade um elemento credibilizante de todo o processo. E adivinho que, destas duas, aquela que provocará maiores dificuldades numa fase inicial será a avaliação entre pares. Curioso, não?
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
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