Títulos como "Grávida Perde Bebé depois de Tomar Vacina da Gripe A" têm o mesmo valor informativo que "grávida perde o bebé depois de tomar banho". Partamos do princípio de que a esmagadora maioria das grávidas toma banho regularmente e terá sido vacinada contra a gripe A; e se é verdade que morrem em média 300 fetos por ano no terceiro trimestre da gravidez, a média de um por dia não tem nada de especial.
A única coisa a noticiar seriamente seria que fora estabelecida uma relação causal entre a vacinação e a morte fetal — dizer que essa relação não pode ser provada nem descartada é explorar a infelicidade alheia para produzir uma não-notícia. Cujo único efeito poderia até ser aumentar os níveis de ansiedade nas grávidas a poucas semanas do parto — o que já seria grave —, mas não é bem assim.
Segundo o presidente do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos, a vacina que está disponível em Portugal não é a melhor para a saúde das crianças e das grávidas. Não sendo eu anti-vacinas (tenho bem presente o número de crianças em todo o mundo que está viva graças às campanhas de vacinação), sei bem que há vacinas e vacinas, e não tenho ilusões quanto à falta de escrúpulos e ao poder da indústria farmacêutica. E tenho uma relação conflituosa com os meus brônquios e restantes vias respiratórias desde muito antes da queda do muro de Berlim e dez reis de gente à minha responsabilidade, pelo que terei de tomar uma decisão dentro em breve. E se é verdade que a minha filha parece ser bastante saudável e a imunidade da doença é sempre preferível à da vacina, eu também não estou particularmente interessada em descobrir que, apesar dos 30 meses de mama, ela afinal tem problemas de saúde quando o diagnóstico não for propriamente construtivo. Sobretudo, acho que tenho uma responsabilidade social: se a vacinação diminui o impacto da pandemia, tenho de ter em conta a possibilidade de a minha filha contagiar alguma criança que não seja tão saudável como ela aparenta ser.
Por tudo isto, a minha decisão não será pacífica, e gostaria de contar com os media para que fosse informada e responsável. Em vez de lhes rogar pragas por me insultarem a inteligência diariamente.
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