sábado, 28 de novembro de 2009

DO APELO À COMPAIXÃO OU DE UM APELO À JUSTIÇA

Jorge Sampaio considera injusta a “condenação na praça pública” a que se sujeitam as figuras “públicas” quando se vêem na situação de simples arguidos. (1) E, claro, estamos de acordo com ele e todos nós esperamos que quem os julga se não deixe intimidar por tal facto. Contudo, após ouvir as declarações de algumas dessas figuras a contas actualmente com a justiça, interrogo-me se não haverá da parte delas um atitude de sinal contrário e tão perigosa (e injusta) como a anterior: a do ar compungido de todos eles, reclamando a sua total inocência, benfazejos que nem santinhos de altar a quem uns juízes, por incompetência ou intencional perseguição, tiraram dos seus “importantíssimos afazeres ao serviço do bem comum”. Armando Vara é reconhecidamente um excelente pescador em águas turvas. Boa parte dos portugueses se interroga a que se deve a sua meteórica ascensão na banca, tarefa para a qual não estaria particularmente preparado. Viu-se já envolvido num nebuloso e nunca cabalmente esclarecido processo da Fundação para a Prevenção e Segurança. Ninguém terá estranhado que A. Vara tenha sido apanhado neste jogo de corrupções e corrupçõezinhas em que a nossa política, de mão dada com as grandes empresas económicas, se vem deixando enredar. Foi pois um pouco chocante ouvi-lo falar do seu duro sofrimento pela cabala que alguém lhe teria urdido (1)… Foi detido o Sr. Godinho das sucatas por falcatruas pelos vistos bem documentadas? Logo se ergue o coro dos conterrâneos e amigos a realçar a sua bondade, a sua benemerência, o seu amor pelos pobres…E o bom desempenho (suponho) de Oliveira e Costa como Director Geral dos Impostos, num dos governos de Cavaco Silva, não compensará as suas fraudes, as suas fugas aos impostos, o seu recurso a paraísos fiscais? Não aparecerão na altura devida as instituições de caridade e os bombeiros a apregoarem os benefícios que dele terão provavelmente recebido? E os imaginados relevantes serviços de Dias Loureiro à causa pública não se sobreporão aos crimes fiscais e económicos que tenha cometido? E que dizer dos geniais gestores do BPP, senão que procuraram obter, fosse por onde fosse, os maiores lucros para os seus clientes (e para si próprios)  e tentar garantir que, “se coisa desse pró torto” nós todos lhes pagaríamos os prejuízos? Gente tão empenhada no seu metier, causa dó vê-la assim em apuros. Não havia necessidade…

Uma esperança, talvez ridícula: que a justiça julgue bem. Sem se deixar iludir por juízos na praça pública nem por seráficos cantos de sereia…

(1) Citações (de cor) do noticiário da TSF às 15 horas de 27 de Novembro.

Sem comentários:

Enviar um comentário