domingo, 8 de novembro de 2009

REFLEXÕES SOLTAS SOBRE UMA VITÓRIA AINDA NÃO DEFINITIVA DE BARAK OBAMA

As televisões, os rádios, os jornais anunciam que, por 5 votos (220 contra 215), o Congresso norte-americano aprovou uma nova lei da saúde para a sua população. Ainda falta a aprovação pelo Senado. O Presidente reclama — com justiça — uma importante vitória. As notícias da comunicação social sublinham que 36 milhões de americanos terão pela primeira vez acesso aos cuidados elementares de saúde. É precisamente essa nota que me deixa perplexo: no país que explora o espaço como nenhum outro país, que tem máquinas de guerra que outros nem imaginam, que tem os melhores centros de investigação, prémios Nobel de medicina e hospitais de vanguarda, neste mesmo país, boa parte da população não tem sequer direito aos mais elementares cuidados de saúde, e muitos outros têm de limitar-se aos cuidados de saúde que o seu seguro cubra. Claro que há uns tantos que têm seguros e dinheiro para tratamentos de luxo.
Mais difícil  de entender ainda é que a aprovação de um sistema de saúde que, dizem os entendidos, comparado com o o nosso SNS faz com que o nosso pareça francamente bom, seja tão complicada, cause dano à imagem do Presidente e suscite tanta oposição. Claro que a explicação reside  no poder político e económico das seguradoras.
Dizem-me que algo de paralelo se passa na educação: as melhores universidades do mundo coexistem com um sistema que forma analfabetos e onde a iliteracia é norma. Se este é o elogiado american way of life, eu prefiro ser soviético.
(É verdade que os soviéticos conseguiram algo de parecido: foram à Lua, exploraram os caminhos para Marte, tinham armas fabulosas, mas faltavam torradeiras, bananas e automóveis normais… Mas nisso da saúde e da educação estavam, consta,  bem melhor que os yankees. Pelo menos a RDA estava — que eu vi!)
Dirão os americanomaníacos que me estou a deixar levar pelo antiamericanismo político que marcou a esquerda da minha geração. Talvez. Mas ninguém me convence que é justa e digna de louvores uma sociedade que, tendo tanto poder e tanta riqueza, discute tão arduamente se boa parte dos seus cidadãos deve ter direitos tão elementares como o direito à saúde e à educação. E que sobre tal decisão se divide quase ao meio. Se "o homem é a medida de todas as coisas", esta sociedade americana é desumana.

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