terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

SOBRE A NOMEAÇÃO DE VÍTOR CONSTÂNCIO PARA O BCE

1. Sendo a União Europeia constituída por diferentes países é natural que os diferentes cargos que a estrutura exige sejam providos recorrendo à rotatividade de modo a que cada país se sinta "parte do todo". De tal forma que, mesmo quando esses lugares são ocupados por eleição, esta  não passa de uma mera formalidade previamente acordada entre os diferentes interesses. Portugal tem os mesmos direitos que os outros países; daí que a nomeação de Vítor Constâncio, cuja competência técnica é generalizadamente aceite, deva ser encarada como uma sucessão normal, prevista e consentânea com os interesses dos países mais poderosos. Apresentá-la como grande vitória da diplomacia lusa ou como prova de que os portugueses são "os melhores" é parolice saloia.

2. Parece triste sina dos portugueses: vão ocupar estes cargos quando a sua "cotação nacional" anda na mó de baixo. Durão Barroso fugiu às dificuldades que o seu próprio governo criara conseguindo ser eleito — parece que ninguém estava muito interessado no lugar — para presidente da UE. Constâncio vai para o Banco Central Europeu — ao que parece para a "pasta" da supervisão — no preciso momento em que a incapacidade de  "supervisão" do Banco de Portugal, por si presidido originou os escândalos e as fraudes do BPN e do BPP. Internamente, a imagem de V. Constâncio estava em queda. Não só pelos escândalos do BPN e do BPP mas também pelos falhanços sucessivos na previsão da inflação e dos ritmos de crescimento. Junto dos trabalhadores, o presidente do Banco de Portugal era conhecido pelos permanentes apelos à contenção salarial — ele que, por ironia, tinha um salário altíssimo, mesmo quando comparado com os seus congéneres internacionais.

3. Na União Europeia, a presença de Vítor Constâncio no BCE não provocará nenhuma alteração. Ele cumprirá a sua missão de competente burocrata. Quanto ao Banco de Portugal, ficamos à espera. Oxalá que melhore.

2 comentários:

  1. Quando José Sócrates refere que a nomeação de Vítor Constâncio é uma "vitória da diplomacia portuguesa" diz uma verdade, algo que nele é de uma raridade extrema.
    Reparem: Só uma diplomacia com muitos argumentos conseguiria "exportar" um emplastro como o governador do BP, após todas as argoladas que cometeu.
    Já agora, espero que esta mesma diplomacia mantenha estes bons índices de modo a que o Sr. Vítor Constâncio fique por lá muitos e bons anos, apesar do meu receio quanto à qualidade do seu desempenho.

    P.S.: Mas nem tudo é mau. O Sr. Vítor Constâncio reconheceu, em Janeiro, que estes cargos nada têm que ver com a competência de quem os ocupa mas, isso sim, estão mais relacionados com as partilhas e os jogos de poder que - tal como cá - se fazem na Comunidade Europeia.
    Posso daqui concluir que uma pessoa pode ser incompetente sem deixar de ser sincera…

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  2. Parece bastante surreal a eleição de Vítor Constâncio para vice-presidente do Banco Central Europeu. Não só porque houve um "casamento" de conveniência feito em Bruxelas entre franceses e alemães, mas principalmente pelo seu péssimo desempenho no cargo de Governador do Banco de Portugal. Não se deve escamotear escândalos como os do BPN e BPP nem tampouco desresponsabilizar o papel fiscalizador do Banco de Portugal. Se o seu responsável falhou na supervisão bancária e inclusive foi censurado pelo partido do qual já fez parte, não sei como poderá ter êxito na política monetária europeia. Assim, deveria haver mais prudência em torno desta nomeação para que nem o patriotismo de ocasião rejubile.

    http://dylans.blogs.sapo.pt/

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