quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A HIPERSENSIBILIDADE DE SÓCRATES À AVALIAÇÃO DOS OUTROS

Por Almiro José Lopes

A avaliação política, e principalmente a da acção política ininterrupta, não pode ser circunscrita aos resultados eleitorais que de tempos a tempos formalmente se escrutina. Esses resultados validam os poderes de governação e, por arrasto, as políticas que maioritariamente foram valorizadas num quadro de proporcionalidade que convém ser politicamente observado. Aliás, como professor, sempre sustentei que a nobreza da avaliação não consistia no seu juízo definitivo, mas na dimensão pedagógica do crescimento e do desenvolvimento que ela poderia e deveria propiciar. A qualidade da democracia assim o exige e é nesta perspectiva que registo criticamente a hipersensibilidade do nosso Primeiro-Ministro.
O Primeiro-Ministro Sócrates não resguarda o convencimento da pertinência dos seus direitos e, particularmente, desmede-se quando invoca dos outros a satisfação às suas razões, particularmente nos planos político e instrumental. Seria mau se o motivo de tais desregramentos fosse o seu natural, imaginável e humano egotismo. Mas pior, e sobretudo politicamente inferior, é quando se sente acossado nos seus propósitos políticos e institucionais, que presumivelmente de boa fé persegue, assim que a comunidade, ou alguém que esta considere ou preze, não reconhece as suas “justas causas”.
Se a este não despiciendo aspecto agregarmos os laivos de arrogância de quem pensa que é “o mais justo entre os justos” – sobranceria, aliás, que o escolta na sua delicada e legítima empreitada de defender as suas políticas, em nome dos apelantes “interesse geral” e “interesse nacional” – impõe-se interpelar se o comedimento intelectual e democrático desejável a um primeiro-ministro vai ou não dando lugar ao devaneio grotesco da perseguição política.
Ao sentimento de ser perseguido, o Primeiro-Ministro responde com a diligência da persecução, a cuja dimensão política acrescenta, de uma forma por vezes patética, a sua face mais utilitária e hedonista. Nesta vertigem de características delirantes, os jornalistas críticos mais mediáticos, mesmo (ou principalmente) os mais acreditados, são logicamente vistos como hostis, conspiratórios e enganadores. A frequência já desmedida deste confronto negativo e a consequente busca de evitamento da réplica por parte de quem tem responsabilidades governativas, não é um bom sinal para a nossa democracia e para o seu necessário aprofundamento. A sua admissão – por acção ou omissão –  é, contudo, bem mais grave. Ao cidadão e jornalista Mário Crespo, um forte e solidário abraço.

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