domingo, 7 de fevereiro de 2010

ATÉ QUE A FÚRIA NOS REVOLTE

Francamente, não sei qual o melhor epíteto para adjectivar a situação do país: estranha? contraditória? perigosa? dramática? Bem, talvez suficientemente perigosa.

Os factos:

- Há dias, membros do governo, incluindo o primeiro-ministro, dizem em voz pelos vistos suficientemente alta para que fosse  ouvida por quem de direito, num almoço (ou jantar, isso é indiferente), que seria preciso correr com o  jornalista Mário Crespo. Alguém, que ouviu e que ao que parece é um cidadão acima de qualquer suspeita, informou o Mário Crespo que, com óbvia dignidade, reagiu nos termos que são publicamente reconhecidos. Não acredito que mais altos responsáveis do governo se tenham deixado "entusiasmar" e tenham dito o que não queriam que fosse ouvido ( a menos que estivessem bêbados, o que não consta).

 - Escassos dias depois, o controlo da comunicação social pelo governo regressa às primeiras páginas, através da publicação no semanário "Sol" de parte das "escutas" dos telefonemas entre altos responsáveis do PS e responsáveis de bancos e grandes empresas públicas. Ainda não percebo o encadeamento, mas a proximidade com o caso "Mário Crespo" pode não ser uma mera coincidência. O que é revelado pelo semanário (e no dia seguinte tratado nos jornais de referência) é particularmente grave, deixando "em maus lençóis" não só PS e o primeiro ministro, mas também o Procurador Geral da República e o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça. Citando André Freire no Público de 6 de Fevereiro: "tudo isto é muito comprometedor e exige alguma clarificação dos responsáveis, sobretudo o presidente do STJ e o PGR", que contrariam os indícios alegados pelo magistrado de Aveiro. "Eles têm um dever para com a sociedade portuguesa e não se devem refugiar em formalismos jurídicos para não o fazer. Têm esse dever".

- Entretanto, a propósito do orçamento para a Madeira (ao que parece, 50 milhões de euros, isto é, 0,03 do orçamento) e depois de  se ter conseguido garantir a aprovação do OE, o Governo desencadeia um estranho dramatismo, falando-se insistentemente em crise política e mesmo em demissão do governo. Como se tal não fosse já bastante, o ministro Teixeira dos Santos faz uma solene comunicação ao país para dizer que não cumprirá a decisão da Assembleia da República.

- A Bolsa de Lisboa sofre acentuadas quebras na 5ª e 6ª feiras.

A opinião: 

1. A demissão do governo na conjuntura actual seria muito grave para o país. Estranha é pois a sugestão do responsável do PCP na Madeira (Edgar Silva) aconselhando o inefável Jardim a usar da sua influência junto do PSD para o derrube do governo. (Nota: uso informação veiculada hoje mesmo pela Antena1)

2. Porque o PS tem consciência disso, dramatiza e depois recua (foi o papel desempenhado pelo ministro das finanças), apresentando-se como aquele que age responsavelmente, ao contrário das oposições. Tenta assim ganhar a opinião pública para o seu lado.

3. Como sabe que qualquer processo em torno da alegada tentativa de controlo da comunicação social, nas actuais circunstâncias, terminaria em nada, usa estas "fugas" para acentuar a sua "vitimização" — os opositores seriam meros e irresponsáveis  detractores.

4. Entretanto a imagem externa do país vai-se degradando. Face à desagregação da oposição, Sócrates aparecerá sempre como o único salvador possível, para o quê exigiráo reforço do seu poder. Os trabalhadores? O Desemprego? Parecem ser "trocos" nestes jogos palacianos. Até que a fúria nos faça revoltar.

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