segunda-feira, 4 de outubro de 2010

SOBRE A PRETENSA JUSTIÇA DAS MEDIDAS DE AUSTERIDADE

1. Sócrates e os seus ministros têm vindo a afirmar que os dois submarinos recentemente adquiridos são uma das causas que justificam o aumento dos impostos e o roubo dos salários a boa parte da função pública. Ou seja: eu, funcionário público, vou pagar, durante toda a vida que me resta (uma vez que o Teixeira dos Santos já esclareceu que o "corte" é para ficar...) mais de 200 euros por mês porque uns tantos governantes compraram dois submarinos no "tempo errado". Resta aliás saber se os submarinos eram mesmo indispensáveis e para que vão servir. Para não falar já do imbróglio jurídico em que a compra está envolvida - fala-se de contrapartidas que os alemães nunca cumpriram nem fazem tenção de cumprir, fala-se de grossas luvas pagas ao CDS (ao Partido e /ou aos seus principais dirigentes). Mas quem paga tudo isto sou eu e milhares como eu que passávamos muito bem sem esses submarinos que nunca veremos.

2. Mas aos submarinos, se a verdade fosse um valor, mesmo que mínimo, para o primeiro-ministro, deveria Sócrates acrescentar os muitos milhões com que o Estado premiou os especuladores do BPN e do BPP. Os grandes economistas e políticos que dirigiram, com grande espírito de inovação e de empreendadorismo, esses bancos devem estar cinicamente a rebolar-se de gozo: fizeram todos esses crimes, ganharam milhões e milhões e ainda nos puseram a pagar para eles… Entre os finórios, recorde-se estão um antigo ministro e conselheiro de Estado e umantigo responsável governamental, imaginem, pela área dos impostos… Além dos mais conceituados economistas ultraliberais da nossa praça - os tais que nos queriam convencer de que a Irlanda era o modelo a imitar.
Vamos pagar mais impostos e vão roubar-nos parte do salário também porque, a acreditar no que Louçã denunciou na AR, a PT não pagará praticamente nada pelo grossíssimo negócio que fez com a venda da Vivo, porque há uma empresa com grande volume de negócio que nada pagará de impostos usando a zona franca da Madeira e, de uma forma geral, como muito bem denunciou Silva Lopes em entrevista recente, os grandes empresários e os ricos conhecem muito bem as artes de fugir legalmente aos impostos.
Por tudo isto (e talvez por muito mais) é falso que as medidas de austeridade que o governo quer impor tenham qualquer justiça: elas são necessárias porque uns tantos roubam das formas mais diversas, nomeadamente fugindo aos impostos (com apoio objectivo do poder político).

3. Além do mais, não tem o mesmo peso roubar 3,5% a quem ganha 1500 euros ou 10% a quem ganha 15.000: ao primeiro fará certamente diferença para o seu dia a dia; ao segundo, afectaria apenas a sua conta bancária se ele não descobrisse rapidamente meio de "recuperar o seu dinheiro" acentuando a fuga aos impostos, inventando ajudas de custo, despesas de representação e outros truques.

4.Em síntese: pagam os que vivem do seu salário mensal e que, por convicção ou inevitabilidade, descontam religiosamente os seus impostos para os que, sendo os principais responsáveis pela crise, continuam a viver como se ela não existisse quando não enriquecendo mesmo com ela.

5. Uma última nota: pelos vistos o director da CGD entende que devem ser os clientes a pagar um eventual imposto sobre a Banca que, ao que li, se destina a apoiar os bancos em caso de crises que os afectem. Não há limites para a pouca vergonha?

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