sexta-feira, 1 de outubro de 2010

FICA SEMPRE BEM "MALHAR" NOS PROFESSORES

Sobre as "intenções impostas" pelo Conselho de Ministros no passado dia 27 já se disse e escreveu muita coisa. Já se tornou claro que este "pacote" terá efeitos recessivos, isto é, tornará Portugal num país (ainda) mais pobre, empobrecerá a chamada "classe média", aumentará o desemprego e… tornará uns tantos obscenamente ainda mais ricos.
Destruir-se-ão as pessoas em nome do combate ao deficit. Não está em causa a necessidade da redução do deficit nem se duvida que para tal sejam necessárias dolorosas medidas. Mas, no seu conjunto, a apregoada receita acabará provavelmente por "matar o doente". A comparação com a Irlanda e com a Grécia e mesmo com a Espanha, países que voluntariamente ou à força, aplicaram estas mesmas medidas, nomeadamente o corte dos salários (convém saber que estes cortes na função pública arrastarão também cortes ou congelamentos salariais no sector privado), antecipa-nos os resultados: a Grécia e a Irlanda confrontam-se com um elevado PIB negativo (a Espanha, ainda numa fase de estagnação) sendo particularmente séria a situação na Irlanda, onde só uma intervenção do Estado no valor de 34 mil milhões de Euros impediu a falência de um dos maiores bancos irlandeses. Formalmente, o deficit da Irlanda, com esta medida, ultrapassou os 30%.
Este roubo aos trabalhadores do Estado, mesmo que fosse inevitável, é profundamente injusto. Os nossos salários estiveram congelados este ano (2010) e, com a excepção da benesse eleitoral de há dois anos, ou foram congelados ou tiveram sempre aumentos inferiores à inflação. Ou seja, não foram os aumentos salariais na administração pública que fizeram disparar o deficit.
Sempre que se trata destas matérias, os professores aparecem como os maus da fita. E até o normalmente correcto Silva Lopes, em entrevista ontem numa das televisões, não se coibiu de considerar o acordo com os sindicatos dos professores como uma das causas do agravamento do deficit. Acontece que o acordo obtido no início do ano ainda não está, de facto, em aplicação. Pouquíssimos são os professores que dele tenham já financeiramente beneficiado. As mudanças de escalão aí previstas, na maioria dos casos, só têm repercussão financeira a partir de 2011! Ou seja: estão a "culpar-nos" por benefícios que ainda não tivemos e que, tudo o indica, não teremos. Mas fica sempre bem malhar nos professores.

Nota: já o referi várias vezes: mas seria um acto de dignidade intelectual que os reputados economistas que durante vários anos nos impingiram ditirâmbicos discursos sobre a excelência do desempenho do ultraliberalismo irlandês — um exemplo que Portugal devia seguir, diziam eles — viessem, de corda ao pescoço, reconhecer que se enganaram de forma desastrada: a sua predilecta Irlanda consegue estar bem pior do que nós…

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