sábado, 11 de dezembro de 2010

PEER REVIEW E A QUALIDADE DA DEMOCRACIA

Lendo este post, lembrei-me das muitos discussões que tenho tido sobre tecnologias e educação. Continuo a achar que a literacia desta geração não depende do domínio da técnica, mas da capacidade de gerir informação. Quando temos um espelho único para a realidade, a capacidade crítica é meramente reactiva, e a verdade vem-nos muito mais vezes da convicção do que dos factos, e os próprios factos já nos chegam carregados de convicções alheias. Quer os aceitemos ou critiquemos, estamos dependentes de argumentos de autoridade. A Internet, sobretudo a partir do momento em que a capacidade de aceder a conteúdos se tornou igualmente capacidade de os gerar, abriu caminho a um manancial de informação que exige novas competências de interpretação para lá da mera capacidade de decifrar signos: perante um manancial infinito de informação, podemos ficar perdidos, órfãos de uma verdade única transcendental; ou seleccionar os nossos mediadores de autoridade, sabendo ao menos a que convicção moldadora é que vamos.
O que se passa com a WikiLeaks neste momento é muito mais urgente e mundano e antigo do que discutir paradigmas e quejandos, mas pergunto-me se o legado mais importante e corrosivo disto tudo não será a ideia de que uma outra gestão de informação é possível: uma em que o argumento de autoridade passam a ser as fontes, e não quem as cita. Continuaremos sempre a depender de mediação e convicções para digerir e gerir o mundo — mas ao menos tornar-se-á claro que quando o intermediário não revela a fonte está a assumir a fragilidade do que está a afirmar. Porque é que somos mais exigentes com quem convivemos nas redes socias e com quem produz artigos científicos, por exemplo, do que com quem governa em nosso nome? Quantas vidas teriam sido poupadas se as guerras se declarassem com base no "mentiroso até prova em contrário", em vez do "o que eu digo é verdade porque eu declaro confidencial qualquer prova em contrário"?

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