domingo, 21 de março de 2010

SOBRE A AUTORIDADE DO PROFESSOR

Aplaudo a iniciativa da FENPROF de propor que as agressões a professores sejam tipificadas como crime público (1) e que aos docentes seja atribuída a "presunção de verdade". Faço-o não por dever de "confraria" (sou membro do SN da FENPROF) mas por firme convicção. Independentemente da  sua utilidade prática (que certamente terão), estas medidas sinalizam a necessidade de reafirmar junto de toda a comunidade que, no exercício da sua actividade, os professores têm uma autoridade própria que não pode ser desrespeitada. São sinais de que é urgente inverter  a linha seguida pala equipa de Maria de Lurdes Rodrigues que apostou intencionalmente na degradação da imagem social dos professores com o intuito de conseguir junto da opinião pública apoio para a cruzada que pretendeu conduzir contra a classedocente. Recordemos apenas algumas situações: a acusação falsa de que os professores faltavam demasiado — na verdade a estatística mostra que faltam menos que a média dos restantes trabalhadores — , a infame acusação de que quando um aluno reprova é porque foi abandonado pelos seus professores, a peregrina ideia — depois abandonada — de que os pais deveriam poder avaliar os professores. Tudo isto contribuiu para a degradação da imagem do professor e da escola pública e facilitou a expansão de actos de indisciplina, vandalismo e agressões. A FENPROF propõe-se trabalhar neste campo conjuntamente com todas as outras estruturas da comunidade escolar e do Ministério da Educação. Não nos movem interesses corporativos mas os interesses da sociedade e da escola.

(1) E talvez extensível às agressões aos outros funcionários das escolas.

P.S Uma destas minhas pequenas crónicas mereceu um  comentário crítico de Ana Matos Pires em artigo publicado no jornal Público do passado dia 19 de Março (e disponível no blogue Jugular ). A.M.P. tem todo o direito de expressar as suas opiniões sobre o que escrevo. Não intento entrar em polémica. Quero contudo aproveitar a ocasião para reafirmar o que escrevi. Assim:

1. Todos sabemos que um suicídio não resulta de um único factor, mas sim de uma interacção de factores. No caso do L.C. V. ele próprio expressou que um desses factores (provavelmente não o mais determinante) foi a permanente indisciplina que o impedia de dar as suas aulas a uma turma. O que pretendo sublinhar é que a questão da indisciplina nas nossas escolas é um problema grave. E se no caso deste colega contribuiu para o seu acto de desespero, em muitos professores está a  contribuir para a corrida às aposentações antecipadas e com enorme prejuízo económico. Não há aqui nenhum "abusivo e indecoroso aproveitamento sindical" como escreve A.M.P. Pelo contrário: quer o SPGL, de que o L.C.V era sócio, quer a FENPROF foram correctamente comedidos e respeitosos no modo como lidaram com a situação.

2. Talvez A. M. P. não saiba, mas não sou "apenas" sindicalista. Sou professor em exercício quotidiano há mais de 35 anos. Tal como os professores que se prezam — e eu gosto mesmo do que faço — dei centenas de horas de trabalho para apoiar alunos que apresentam dificuldades, deficiências, ou que, por razões justificadas, faltaram a muitas aulas. Muitas dessas horas foram trabalho voluntário. Mas não posso admitir que um professor tenha de dar apoio especial a alunos que vão a uma aula e que faltam a outra, que não vêm à aula das 8 horas porque é muito cedo, que fazem gala de mostrar, em plena aula, que não se interessam por aprender e que intencionalmente procuram que as aulas não funcionem. Não somos escravos deste tipo de alunos, que infelizmente são mais numerosos do que parece. A revisão em curso do "Estatuto do aluno" poderá ajudar a definir em que condições os alunos têm direito a apoio especial do professor.

3. Para lá da sua função de socialização e de desenvolvimento dos afectos, para lá da sua função social e de apoio à família, a escola é sobretudo um local de aprendizagem de saberes e de competências. A escola não é viável quando não consegue cumprir esta função. Ainda recentemente, um estudo publicado confirmava que é exageradíssimo o tempo que nas nossas aulas se perde com actos de indisciplina. São correntes os desabafos dos professores de que em muitas aulas não se consegue dar a "matéria". É importante que se aposte no facto de todas as crianças estarem na escola, mas é preciso que sejam criadas as condições para que nesse mesmo espaço se consiga trabalhar e aprender. Sem isso "esta" escola não é mesmo viável e mais não faz do que abrir espaço para as escolas privadas para os que as puderem pagar. AM.P acha que e isto é reaccionário. Resta-me respeitar a sua opinião e dela discordar.

1 comentário:

  1. Desta vez discordo. Completamente. Faço-o aqui:
    http://movimentoescolapublica.blogspot.com/2010/03/crimes-publicos-problemas-privados.html

    ResponderEliminar