quarta-feira, 3 de março de 2010

O ENSINO PROFISSIONALIZANTE NA ÓPTICA DE SANTANA CASTILHO

Não sei se Santana Castilho terá toda a razão. Mas o que escreveu sobre o ensino profissional merece cuidada análise. Temos bem consciência de que este ensino profissionalizante não convence os mais exigentes 
Aqui se transcreve parte da sua crónica publicada no Público de 3 de Março. Para que sirva de base para a reflexão inevitável.

"(…) Um estudo, mais um, da OCDE, recentemente vindo a lume, permite-nos questionar a linearidade da relação entre mais educação e melhor emprego e reconduz-nos ao decantado problema da excelência da educação, que eu prefiro designar por qualidade da educação. A constante exortação à excelência ou à qualidade resulta ambígua, porque é muito usada mas nunca definida. E no contexto hoje em apreço, e sublinho que as presentes considerações são feitas apenas nesse contexto, o económico, a qualidade da nossa educação verifica-se conferindo a adequação daquilo que trata aos requisitos do mercado. Ora esse confronto é desolador. A decantada sociedade da informação e do conhecimento recompensa os países que inovam. Mas não reage a doses maciças de aprendizagem convencional em versão medíocre. Mais educação é decisiva para a competitividade nacional quando mais for também sinónimo de diferente e não for mais do mesmo Um bom exemplo da ausência de critério para planear a educaçãoa neste campo encontrámo-lo na evolução recente do ensino profissionalizante.
A nível superior, o ensino politécnico foi rapidamente desvirtuado e afastado dos objectivos iniciais. O desígnio foi, desde cedo, igualizá-lo ao ensino universitário, com as consequências à vista. A nível secundário, com todas as vicissitudes, chegámos finalmente às chamadas escolas profissionais, de iniciativa privada (ligadas a empresas e co-financiadas pelo Estado). Não tinham a generalização e a expressão do ensino técnico de outrora. Mas faziam trabalho sério e preparavam, eficazmente, para áreas profissionais, com forte valência prática.
Com a chegada de Sócrates ao poder, estas escolas foram gradualmente sufocadas, retirando-lhes o financiamento. Porquê? Porque não eram escolas do Estado. Porque os seus alunos estavam contabilizados fora do ensino público. Quando foram apresentados os primeiros êxitos”, dizendo que havia 20000 novos alunos que aderiram ao novo ensino profissional, não foi dito que as escolas profissionais tinham deixado praticamente de existir. Em rigor, a iniciativa do PS não aumentou o número de estudantes da via profissionalizante. O que fez foi roubar alunos ao privado, trazendo-os para o público e enganando-os: nos profissionais chumbava-se e trabalhava-se, nas públicas pouco se pede e passa tudo; aos que abandonavam o ensino, foi-lhes oferecida equivalência ao 12º ano através de cursos de treinador de futebol; oficinas e laboratórios não existem; as ferramentas são lápis e papel; os diplomas são passados mesmo que os estudantes faltem sistematicamente às aulas; os professores são, na maioria, os que ensinavam em formações humanísticas. E a isto chamam politica de excelência.”

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