terça-feira, 20 de julho de 2010

BRANDOS COSTUMES — II

A notícia do Público segundo a qual a Finlândia, Nova Iorque e a Inglaterra, provavelmente entre outros países ou Estados, tinham já abandonado a ideia dos mega-agrupamentos, optando por escolas de "escala humanizada", ontem editada neste blogue, merece alguns comentários:

* Uma vez que os responsáveis que ocupam a 5 de Outubro são pessoas inteligentes e, presume-se, bem informadas, não é de acreditar que ignorem os dados referidos nessa notícia. Sabem, pelo menos tão bem como nós, que do ponto de vista pedagógico nada justifica estes mega-agrupamentos. Acredito até que alguns deles tenham lutado, com muitos outros, pela abolição das escolas gigantescas — de 4 e 5 mil alunos — nos anos a seguir ao 25 de Abril, defendendo escolas de média dimensão. Se não é menor inteligência nem informação menos adequada, é necessário reconhecer que só calculados ganhos "económicos" os obriguem a seguir caminhos em que seriamente não acreditam. Sério seria pois que publicamente reconhecessem que são esses — os económicos — os motivos que os levam a este absurdo pedagógico: por imposição superior, abandonaram as preocupações pedagógicas a troco de uns milhões de euros. Se assim o dissessem, ficariam ao menos com a cara lavada da honestidade. Fingindo "motivações pedagógicas" (a necessária e invocada "articulação" entre os ciclos não justifica estes mega-agrupamentos) caem no ridículo e ajudam a manter a lamentável imagem dos "políticos" — a ausência de seriedade.

* Mas este processo de implantação á velocidade do som de uns mega-agrupamentos tem ainda outra característica. Os tão encomeados "conselhos gerais", órgãos em que a comunidade está toda representada, ao tempo apresentados como a solução para que a comunidade se apoderasse das suas escolas (campanha não raro acompanhada da ideia de que era necessário diminuir o poder dos professores para libertar a escola) foram pura e simplesmente ignorados neste processo. Ninguém lhes pediu qualquer opinião ou parecer; e se por sua própria iniciativa se atreveram a dá-la, foram olimpicamente ignorados. O
discurso sobre a participação da comunidade na vida da escola não passou disso mesmo: um discurso barroco, untuoso e inútil. Um discurso "político".

Continuaremos com os nossos brandos costumes a tolerar tudo isto?

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