quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A VIDA DIFÍCIL DOS EMPRESÁRIOS DO SECTOR TÊXTIL

Em tempos de crise, está visto, aumentam os níveis de lata. Depende de nós saber se aumenta proporcionalmente o nível de paciência-barra-cegueira.
Dizem os empresários do sector têxtil que a procura está a aumentar, e que estão com dificuldades em contratar pessoal para suprir a consequente necessidade laboral, "porque têm dificuldade em competir com os subsídios". É óbvio que há que averiguar, mais uma vez, que tipo de ofertas estão a ser feitas; e que raio de aumento de procura é esse que não vale o investimento em salários dignos e em trabalho com garantias que vão para lá de um subsídio com termo, ao qual grande parte dos desempregados nem sequer tem direito.
Mas, sobretudo, vamos perceber de uma vez por todas que o subsídio de desemprego não é uma benesse, nem um factor de competição no mercado, mas um direito, para o qual quem usufrui dele descontou enquanto esteve a trabalhar, em valores proporcionais ao respectivo rendimento. Grave é que tantos de nós não tenham sequer direito a tal coisa, porque o mesmo vínculo que nos torna descartáveis para o mercado nos veda essa garantia mínima.
E é assim tão estranho e condenável que se recuse um trabalho a termo que garante um salário inferior a um subsídio (que é fruto do trabalho!), quando aceitá-lo se traduz de facto numa redução de rendimento ao fim do mês? Pensem em quem tem crianças pequenas a cargo, sem acesso a creches da rede pública, e sem ter onde os deixar quando os horários não são compatíveis; pensem nas despesas de alimentação e deslocação, por exemplo. Pensem sobretudo que estas coisas contam mesmo quando se vive com menos de 500 euros por mês. Já não basta o emprego ser um privilégio; agora o trabalho também é uma punição para o crime de não ser rico?
Falta muito para percebermos que mudamos o mundo todos os dias, quer queiramos ou não? Se deixamos que nos emprenhem pelos ouvidos e nos convençam que o silêncio é inócuo, não venham depois dizer que foram só os outros que fizeram os dias assim.

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