quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O CRISTO DA ALDEIA DA LAPA

A aldeia da Lapa, situada no cume da serra com o mesmo nome, entre os concelhos de Aguiar da Beira e Sernancelhe, já tinha bastos motivos de interesse: a sua bela igreja com um presépio da escola de Machado de Castro (ou mesmo dele) e a rocambolesca “”crença” do rochedo tão estreito que por ele não conseguirá passar quem tiver pecados graves, ultrapassado o qual se chega à lenda do sardão (às vezes chamado crocodilo, outras simplesmente lagarto), de cujo perigo a pastora se terá salvo obrigando-o a engolir novelos de lã, a nascente do Vouga, rio que apetece acompanhar durante uns quilómetros por entre suaves penedias, os deliciosos queijos. verdadeiramente artesanais, das queijeiras de Quintela, as bolas de carne, bacalhau ou sardinha, os belos repastos no “Judeu”. Ou ainda o colégio onde estudou mestre Aquilino, o pelourinho… Mas tem agora uma nova atracção: no recinto da feira, levemente enquadrado por tradicionais cruzeiros, ergue-se um Cristo crucificado, numa pose fortemente efeminada, a quem já chamam o “Cristo Gay”. Há quem chame a atenção para o facto de a imagem não ter cara definida, como se tivesse medo de ser reconhecido, e os braços saírem de uns belos troncos de granito, qual saída do “armário”. Curiosamente (ou não) esta imagem não se vê de longe – o Cristo Gay é recatado e é preciso procurá-lo.
Duas notas finais: não se veja neste comentário qualquer desconsideração para com o escultor, que não conheço. Nem pretendo por em causa o valor estético da escultura. Quero apenas sublinhar o inesperado e o arrojado num meio em que toda a novidade tende a ser mal quista. Se viajar por estas áridas e belas serranias – as Terras do Demo – visite a Lapa e procure, no espaço da feira, esta insólita imagem do crucificado. E dê-nos a sua opinião.

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