A pequena encenação dos professores (membros do conselho
nacional da FENPROF e alguns “candidatos” ao desemprego imediato (contratados)
ou a curto prazo (horários-zero) tem merecido o aplauso de uns e o desagrado de
outros. Convém analisar argumentos de um lado e do outro.
- entre os que não gostaram há quem considere que foi um
comportamento de “hooligans”. O argumento é muito fraco. Contrariamente ao
“hooliganismo” (eu fiz parte da encenação) não houve qualquer violência da
nossa parte. Mesmo os que não se contiveram (tínhamos combinado ficar em
silêncio enquanto desfraldávamos os panos pretos, o que teria sido mais
interessante) foram bem comedidos nos seus breves impropérios. Outros
consideram que a Assembleia da República é um espaço demasiado nobre para
manifestações. Também este argumento não me convence. De facto, a “praxe” está
bem definida: quem, nas galerias, protestar ou apoiar é expulso dessas
galerias. Aceitámos as regras do jogo: manifestámo-nos, o mais ordeiramente
possível, e sofremos as previamente conhecidas consequências. Podíamos ter sido
“identificados para posterior procedimento”, o que não aconteceu. Mas disso
também estávamos conscientes. O espaço símbolo da democracia não pode estar
imune à manifestação dos cidadãos, mesmo que de forma controlada. Também não
colhe a acusação de que não nos interessou ouvir o que o governo e os deputados
tinham para dizer: aguentámos estoicamente duas horas e meia de intervenções,
algumas das quais mereceriam resposta imediata e desagradável.
Há quem ache que manifestações, quaisquer que sejam, não são
prática digna da classe docente. Sentem-se mal. Acham que a manifestação
pública é uma prática “inferior”, própria de operários e comunistas. Ouço
muitas vezes este tipo de argumento (?) nas escolas. A esses limitar-me-ei a
repetir uma das palavras de ordem da nossa última manifestação: “quando luto,
também estou a ensinar”. Estou a dizer aos meus alunos que a participação política
e cívica é um dever de cidadania, que é um dever, também deles, usarem todos os
direitos democrática para a construção de uma sociedade mais justa. Inclusivamente,
o direito de manifestação.
O que me diz a consciência sobre esta encenação na A.R.? Que
cumpri o dever de ajudar a alertar o país para o crime humanitário que está a
ser feito a uma boa parte da classe docente: os muito milhares de contratdos
que em Setembro ficarão s desempregados. E para isso, utilizei, devidamente, um
dos espaços democráticos, isto é, do povo – a Assembleia da República.
Gostava de saber o seu email. Merci
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