sábado, 21 de julho de 2012

SOBRE O COMPORTAMENTO DOS PROFESSORES NAS GALERIAS DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA



A pequena encenação dos professores (membros do conselho nacional da FENPROF e alguns “candidatos” ao desemprego imediato (contratados) ou a curto prazo (horários-zero) tem merecido o aplauso de uns e o desagrado de outros. Convém analisar argumentos de um lado e do outro.
- entre os que não gostaram há quem considere que foi um comportamento de “hooligans”. O argumento é muito fraco. Contrariamente ao “hooliganismo” (eu fiz parte da encenação) não houve qualquer violência da nossa parte. Mesmo os que não se contiveram (tínhamos combinado ficar em silêncio enquanto desfraldávamos os panos pretos, o que teria sido mais interessante) foram bem comedidos nos seus breves impropérios. Outros consideram que a Assembleia da República é um espaço demasiado nobre para manifestações. Também este argumento não me convence. De facto, a “praxe” está bem definida: quem, nas galerias, protestar ou apoiar é expulso dessas galerias. Aceitámos as regras do jogo: manifestámo-nos, o mais ordeiramente possível, e sofremos as previamente conhecidas consequências. Podíamos ter sido “identificados para posterior procedimento”, o que não aconteceu. Mas disso também estávamos conscientes. O espaço símbolo da democracia não pode estar imune à manifestação dos cidadãos, mesmo que de forma controlada. Também não colhe a acusação de que não nos interessou ouvir o que o governo e os deputados tinham para dizer: aguentámos estoicamente duas horas e meia de intervenções, algumas das quais mereceriam resposta imediata e desagradável.
Há quem ache que manifestações, quaisquer que sejam, não são prática digna da classe docente. Sentem-se mal. Acham que a manifestação pública é uma prática “inferior”, própria de operários e comunistas. Ouço muitas vezes este tipo de argumento (?) nas escolas. A esses limitar-me-ei a repetir uma das palavras de ordem da nossa última manifestação: “quando luto, também estou a ensinar”. Estou a dizer aos meus alunos que a participação política e cívica é um dever de cidadania, que é um dever, também deles, usarem todos os direitos democrática para a construção de uma sociedade mais justa. Inclusivamente, o direito de manifestação.

O que me diz a consciência sobre esta encenação na A.R.? Que cumpri o dever de ajudar a alertar o país para o crime humanitário que está a ser feito a uma boa parte da classe docente: os muito milhares de contratdos que em Setembro ficarão s desempregados. E para isso, utilizei, devidamente, um dos espaços democráticos, isto é, do povo – a Assembleia da República.

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