sexta-feira, 12 de agosto de 2011

AINDA SOBRE A VIOLÊNCIA EM INGLATERRA

Assistimos nos últimos dias a várias intervenções de peritos de diferentes áreas sobre a violência que tem vindo a assolar cidades inglesas. Opiniões respeitáveis, umas mais fundamentadas que outras, que por sua vez me suscitaram as seguintes questões:

- Se bem que boa parte dos atos praticados possam ser qualificados como atos de vandalismo, não faz porém sentido reduzir o que se está a passar a uma mera ação de grupos de vândalos e de criminosos, como sugere o primeiro ministro inglês. Caso contrário, teríamos de concluir que a Inglaterra estaria pejada de vândalos e de criminosos, sobretudo entre os seus adolescentes.

- Mesmo não se tratando de manifestações politicamente organizadas, são atos que radicam em questões de natureza política e social. Fundam-se no desemprego permanente de boa parte desta população (pais e avós para quem o estar desempregado é a situação normal…), na completa ausência de perspectiva de vida para estes adolescentes. Preocupa-me muito que estas revoltas não sejam politicamente enquadradas, tanto mais que são inequivocamente “organizadas” e “preparadas”. A ausência de enquadramento político explícito aponta para uma clara movimentação da extrema direita, aliás em crescimento nítido no Reino Unido. (Note-se que não estou a sugerir que os manifestantes sejam elementos organizados de extrema direita, estou a sugerir que ela mexe – bem, como de costume – os cordelinhos…)

- É sintomático que alguns dos peritos entrevistados tenham tido a preocupação de considerar errada a ligação entre estes atos e a profunda crise económica que a Inglaterra, como toda a Europa, está a atravessar. Mesmo sabendo-se esta violência é também uma reacção aos cortes dos apoios às associações dos jovens que se vêem assim sem qualquer apoio nem onde passarem os seus tempos livres.

- Há quem insista no carácter excessivamente brando da intervenção da polícia inglesa. Não discuto. Mas tenho de sublinhar, como muito positivo, o facto de a polícia não ter provocado um único morto e aparentemente nenhum ferido grave nestes 4 dias de tumulto. Para a polícia inglesa, a vida humana é mesmo o bem essencial. Que seja preciso uma autorização especial para usar balas de borracha é um excelente exemplo da alta valia desta polícia!

- Gostaria muito de saber como se comportam estes adolescentes nas escolas que, presumo, frequentam. E que eficácia tem a escola na construção dos valores que orientam estes adolescentes.

Sem comentários:

Enviar um comentário