terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

NÃO, EU NÃO APOIO O BERLUSCONI, MAS...

Não vale tudo para derrubar um político. Mesmo, ou sobretudo, quando esse político é dos políticos mais execráveis no poder (foi eleito, já agora). Não tenho quaisquer dúvidas de que o Berlusconi está longe de ser um defensor dos direitos das mulheres. Mas eu sou, e por isso enoja-me que

1. Se considere que as relações consensuais que mantém com mulheres, trabalhadoras sexuais ou não, novas ou velhas, muitas ou poucas, são assunto político ou falta de respeito. Sexo é falta de respeito?

2. Se realce a natureza do crime (sexo com prostituta de 17 anos, mas não vamos sequer por aí) como tendo significado político, relegando a questão da impunidade para pormenor. Quando ninguém considera bastante mais grave que ele tenha alegado que protegeu a rapariga por achar que ela era sobrinha do Mubarak e não por tretas de alcova, não estamos com as prioridades todas trocadas?

3. Se repita até à exaustão que vai ser julgado por mulheres, como se isso tivesse algum significado político e/ou legal. É que se tem, é grave: as mulheres não são capazes de/obrigadas a decidir com isenção?

E o óbvio: a vida privada de cada um é com cada um e com quem dela faz parte. Parece-me um postulado bastante óbvio em termos de direitos de quem quer que seja, mulheres incluídas. Este uso e abuso da sexualidade para fins políticos é um tiro no pé do feminismo. E isto vale tanto para o Julian Assange como para o Berlusconi.

2 comentários:

  1. Mariana, a questão aqui não é o que se passa em privado. É óbvio que a vida privada é de cada um e o que for matéria criminal é assunto do tribunal.
    A questão aqui é a utilização pública do desdém e desrespeito pelas mulheres. Ele utiliza o cargo e fala com desdém quando fala enquanto PM. Utilizou o cargo para tirar a miúda da prisão, não só com o argumento de ser sobrinha do Mubarak, mas também com um telefonema pessoal para a libertarem. E fala muitas vezes na televisão com desdém de todas as mulheres que se cruzam com ele profissionalmente: juízas, procuradoras, ministras de outros países, etc. Usa SEMPRE e sim, enquanto PM, um tom paternalista. O que está em causa e é humilhante para todas as mulheres é que ele de certa forma torne esse paternalismo e desrespeito oficiais, porque fala assim quando fala como PM na tv, etc. Não sabemos como fala em casa e não queremos saber, portanto não é a questão privada que está em jogo.
    Ele usa o cargo para pôr no Parlamento as suas amantes, que lá estão, não por serem competentes, mas por serem "boas com'ó milho" e amantes do tipo. Encheu o Parlamento italiano de tipas que não estão lá pelas ideias ou a competência, mas porque o Berlusconi as colocou lá em recompensa de terem sido boas na cama. Isso não é privado, é público. Sempre que isso lhe foi referido ele disse a rir-se que assim o Parlamento está muito mais bonito. As mulheres servem portanto para enfeitar e não estão lá para serem verdadeiras deputadas. E isso é um assunto público, o Parlamento e os deputados são assunto público, as razões porque são escolhidos são assunto público e estas declarações públicas feitas por um PM também são. Em casa ele que fale como quiser e quem quiser que o ature. Mas quando fala como PM e quando age como PM, isso é assunto público e é uma oficialização dessa visão das mulheres.

    Não é a mesma coisa que noutro Parlamento qualquer em que as pessoas são escolhidas em princípio pelas suas capacidades. Que haja deputad@s bonit@s é um acaso, apenas um acaso. Ali não. É uma utilização de cargos públicos para as amantes e com a agravante de explicar a coisa em termos de "assim o Parlamento está mais bonito". É corrupção e é machismo oficializados.

    Não me parece que se possa comparar com o caso do Assange. A não ser que compares a utilização da sexualidade por parte das tipas da CIA à utilização da sexualidade por parte do Berlusconi, mas não por parte de quem lhe faz oposição. É ele quem a usa politicamente para tornar o Parlamento numa palhaçada, para ocupar tempo de antena com declarações horrendas sobre as mulheres. Parece-me que as manifestações de ontem querem justamente pôr fim a isso.

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  2. lena, eu comecei por dizer que o senhor era machista. mas neste momento o que está em causa são 2 crimes: sexo com prostituta menor (onde é que está o machismo?) e abuso de poder. o segundo é político, o primeiro não. e as notícias realçam o primeiro. a semelhança entre ele e o assange é só uma: confusão com esfera privada e matéria política. a manif de ontem, por muito diversas que tenham sido as participações, surge neste contexto. com tudo o que ele faz, é triste que seja pela vida sexual do senhor que se levantem protestos contra o homem que elegeram quando já defendia estes valores. bordelarização é uma expressão machista, por exemplo. e a lei que criminaliza a prostituição tb. seja quem for que caia na sua alçada.

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