terça-feira, 7 de junho de 2011

DE SÓCRATES, O QUE FICA ?

“O que fica” é o título de um artigo de Vital Moreira inserto no jornal Público de hoje (7 de Junho). Benévolo, o articulista sustenta que, passado este “vendaval”, a história registará Sócrates como um político corajoso, reformador, capaz de enfrentar as “corporações” que se tinham apoderado do Estado, cuja eficácia Sócrates teria melhorado. E enumera um vasto campo de “sucessos” do consulado de Sócrates, sobretudo no seu primeiro mandato. Ser benévolo para com um derrotado é sempre uma atitude simpática e louvável. Temo porém que, ao invés e apesar de várias reformas que a história acabará, com justiça, por registar e conservar, essa mesma história registe Sócrates sobretudo como um “contador de estórias”, como um exemplo excelente de quem pensa que, na política, o que menos interessa é a realidade. As meias-verdades – pior do que mentiras – com que José Sócrates foi embrulhando o país, mesmo durante a campanha eleitoral, tornaram-no paladino do descrédito da política e dos políticos. Ao escolher Sócrates para fazer a campanha como candidato a primeiro-ministro (inevitável, uma vez que o Congresso o coroara olimpicamente), o PS decretou a sua inevitável derrota. Uma linha unia os vinte e tal por cento de indecisos no início da campanha: a sua oposição a Sócrates. Por isso, o “empate técnico” (das sondagens) se transformou, paulatinamente, numa diferença de dez pontos percentuais.
Uma das ditas “corporações” contra quem, tal Sancho Pança, Sócrates investiu foi a classe dos professores. Nas escolas, o que fica de Sócrates e das suas ministras é o ar empestado da descrença, da desistência, da amargura, da divisão insensata dos professores. Porque mesmo intenções louváveis (a “escola a tempo inteiro”, as actividades de enriquecimento curricular, o inglês no 1.º ciclo) acabaram por ter eficácia muito limitada devido à falta de rigor e de “conhecimento no terreno” com que foram implantadas. Ou se revêem ou soçobram.
O que fica então do consulado de Sócrates, para lá da anemia de um Partido Socialista alinhado cada vez mais â direita?

1 comentário:

  1. 1.

    Muitos choram a derrota de Sócrates a acenam para o que aí vem. Mas quem tomou medidas que qualquer direita subscreveria ( posso dar inúmeros exemplos)põe em causa a simples ideia de esquerda. E se medidas de direita são compreensíveis na direita, já não o são na esquerda, e legitimam a acusação a que Sócrates foi ( justa e injustamente)sujeito que era a de viver na mentira porque, dizendo-se de esquerda, tomava medidas de direita.
    Mais grave do que derrota de Sócrates é ter sido a ideia de esquerda a derrotada, sobretudo por culpa de Sócrates.
    2.

    Mas não só por culpa de Sócrates. Também por culpa do Bloco de Esquerda porque:

    a) Fez cair Sócrates sem ter preparada uma alternativa, nomeadamente através de uma coligação com o PC.
    b) Foi arrogante e com pouco respeito pelos cidadãos ao recusar-se a conversar com a troika.

    c) Não definiu ainda o que quer ser: se um partido vanguarda ( da classe operária, duma autoclassificada elite intelectual que se diz ao lado da classe operária, o que quer que isso seja) se um partido de justiça social e de progresso.

    d) Revelou enorme alheamento da realidade económica não discutindo temas essenciais como sejam os da concorrência e dos monopólios, da transparência do mercado, do papel dos bancos e da distribuição.

    e) E, sobretudo, porque não sabe ainda bem o que deve significar a palavra igualdade.

    3.

    Com uma diferença: Sócrates demitiu-se. Louçã, com uma derrota muito maior que a de Sócrates, não parece fazer tenção de se demitir.

    Isto é: parece querer manter a mesma linha, mudando alguns pormenores para que tudo fique na mesma.

    Afinal, onde está a discussão e a tomada de decisões a partur da base, no BE?

    ResponderEliminar