quarta-feira, 30 de junho de 2010

50 MIL MILHÕES DESBARATADOS ?

Um Processo-crime tão Invulgar como Importante

O jornal O Diabo (sim, eu sei que não é um jornal de “referência”) noticiou a 29 de Junho que o presidente da Associação das Pequenas e Médias Empresas (PME, essas que andaram na boca de toda a gente nas últimas eleições legislativas) solicitou à Procuradoria Geral da República a instauração de um processo crime contra o Estado e contra várias instituições, nomeadamente a Comissão de Gestão, Acompanhamento, Avaliação e Controlo das Verbas disponibilizadas pelo Quadro Comunitário de Apoio III, que vigorou entre Janeiro de 2000 e Dezembro de 2006, acusando-os de terem desbaratado 50 mil milhões de euros que deveriam ter servido para o desenvolvimento do país. Tráfico de influências e corrupção são as acusações formuladas.
Numa altura em que tentamos perceber por que estamos nesta posição de empobrecimento constante, esta iniciativa é lapidar e deveria ser levada muito a sério (A referida Comissão é constituída entre outras instituições, pela CAP, CIP, CPADA, UGT).

segunda-feira, 28 de junho de 2010

A SITUAÇÃO ECONÓMICA DO PAÍS É INSUSTENTÁVEL?

A insustentabilidade da nossa economia e portanto do país – tornou-se o leit-motiv das lições de Cavaco Silva que não perde uma oportunidade de puxar dos seus galões de professor de Economia. Qualquer teórico sabe que a intervenção adequada sobre a realidade supõe que se compreendam as suas causas. Cavaco, ao analisar as causas que tornaram o país (ou a sua economia) insustentável, deveria ter presente quais foram os governos que nos conduziram a este estado de coisas. Não foram os gonçalvistas nem os comunistas. Foram os economistas e os políticos do PS e PSD. Foram  eles que traçaram (ou aceitaram que outros traçassem) o rumo, as medidas, os objectivos. São esses mesmos que, em vez de reconhecerem que erraram nas suas propostas para o país, continuam a empurrar a responsabilidade para outros: os salários de quem trabalha, os mais elementares direitos sociais como o apoio aos desempregados, os feriados… Começo a ficar farto da “cassete” destes senhores que supostamente têm sempre razão, mesmo quando a realidade nos diz, de forma muito crua, que erraram redondamente.

domingo, 27 de junho de 2010

NÃO É SÉRIO!

O secretário de Estado da Educação cedo afirmou reconhecer que é necessário repensar o horário de trabalho dos docentes. Perante a insistência da FENPROF — que sobre a matéria lhe enviou em devido tempo posições sustentadas e sensatas — o secretário de Estado da Educação afirmou sempre que tal seria discutido e negociado — porque é uma questão de negociação obrigatória! — no momento da construção do diploma que regularia o lançamento do próximo ano lectivo. Chegado esse momento, porém, usou da esperteza saloia  que o nosso povo atribuí genericamente aos políticos: invocando a urgência da publicação do diploma, recusa a negociação, reduzindo a participação da FENPROF a um mais do que meramente protocolar pedido de "envio de opiniões" — como se as nossas propostas já lá não estivessem há meses para serem negociadas!
Alexandre Ventura fez jus à mais negativa opinião popular sobre os políticos — não são sérios e não dá para acreditar no que dizem. Se achar que esta crítica é injusta, só tem uma forma de o demonstrar: abrir de imediato as negociações sobre os horários dos docentes para o próximo ano. Caso contrário, não nos resta reconhecer que o nosso povo tem razão no que pensa dos políticos.

sábado, 26 de junho de 2010

TRABALHAR PARA O BONECO

1. Há um ano as escolas/agrupamentos elegeram os seus directores e conselhos gerais. Deveria ser por 4 anos; com a pressa dos mega-agrupamentos cumprirão apenas 1. Daqui a um ano, voltará a haver eleições. Queremos imitar o período da 1ª República em Portugal onde os governos se sucediam em escassos meses? Alguém pensou nas consequências desta permanente instabilidade?

2. Os directores, em princípio, foram eleitos com um programa para o agrupamento ou escola. Para que serviu?

3. Para que servem os Conselhos Gerais a quem o Ministério da Educação olimpicamente ignora neste processo? 

4. Fez-se grande questão na elaboração de cuidadas Cartas Educativos por concelho. Para que serviram, nos muitos casos em que os mega-agrupamentos a contradizem?

quarta-feira, 23 de junho de 2010

DAR 48 HORAS A DUAS ESCOLAS PARA SE CONSTITUÍREM NUM NOVO AGRUPAMENTO E INDICAREM UM NOVO DIRECTOR SÓ PODE SER LOUCURA (OU COISA PIOR)

No dia 22 do corrente mês, a DRELVT chamou à sua presença os directores das escolas secundárias do Lumiar e de Lindley Cintra, que por sua vez agrega um conjunto de escolas do 1º CEB e jardins-de-infância. Porque no “ambiente” se respirava a construção de “mega-agrupamentos “ o tema da “conversa” era mais que óbvio, nem estes dois professores esperavam outra coisa. Até se pode justificar este agrupamento: as escolas são vizinhas e nenhuma delas tem demasiados alunos. O que ninguém com um mínimo de bom senso poderia esperar é que a DRELVT lhes desse 48 horas para indicarem um novo director para o novo agrupamento – cujo mandato será de apenas 1 ano – sob a ameaça de que se o não fizessem, a DRELVT o faria.
Estiveram estas escolas há um ano a eleger o seu director. Numa delas houve que “refazer” a escola escanqueirada por um presidente, nomeado pela DRELVT, cuja incompetência ficou célebre. Planificaram o seu trabalho, num contexto que o deixará de o ser em… 48 horas. A opinião da escola e das comunidades educativas não interessa, nada se discute, nada se pode questionar: são 48 horas e pronto!
Se não é loucura, será certamente uma coisa bem pior que atravessa a DRELVT: uma enorme falta de respeito para com as escolas e as pessoas. Fica contudo claro o que são os directores na perspectiva da DRELVT: “paus mandados” para fazer cumprir as ordens. Mesmo as mais absurdas como estas. Felizmente, muitos directores recusam esta concepção. É o caso destes dois que vão consultar as suas comunidades educativas.
Se a intenção é fazer os mega-agrupamentos com estes métodos, isto vai dar brado!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

AS PALAVRAS

Enviado por Natália Bravo

“As palavras são boas. As palavras são más. As palavras ofendem. As palavras pedem desculpa. As palavras queimam. As palavras acariciam. As palavras são dadas, trocadas, oferecidas, vendidas e inventadas. As palavras estão ausentes. Algumas palavras sugam-nos, não nos largam; são como carraças: vêm nos livros, nos jornais, nos slogans publicitários, nas legendas dos filmes, nas cartas e nos cartazes. As palavras aconselham, sugerem, insinuam, ordenam, impõem, segregam, eliminam. São melífluas ou azedas. O mundo gira sobre palavras lubrificadas com óleo de paciência. Os cérebros estão cheios de palavras que vivem em boa paz com as suas contrárias e inimigas. Por isso as pessoas fazem o contrário do que pensam, julgando pensar o que fazem. Há muitas palavras.
E há os discursos, que são palavras encostadas umas às outras, em equilíbrio instável graças a uma precária sintaxe, até ao prego final do Disse ou Tenho dito. Com discursos se comemora, se inaugura, se abrem e fecham sessões, se lançam cortinas de fumo ou dispõem bambinelas de veludo. São brindes, orações, palestras e conferências. Pelos discursos se transmitem louvores, agradecimentos, programas e fantasias. E depois as palavras dos discursos aparecem deitadas em papéis, são pintadas de tinta de impressão – e por essa via entram na imortalidade do Verbo. Ao lado de Sócrates , o presidente da junta afixa o discurso que abriu a torneira do marco fontanário. E as palavras escorrem, são fluidas como o «precioso líquido». Escorrem interminavelmente, alagam o chão, sobem aos joelhos, chegam à cintura, aos ombros, ao pescoço. É o dilúvio universal, um coro desafinado que jorra de milhões de bocas. A terra segue o seu caminho envolta num clamor de loucos, aos gritos, aos uivos, envolta também num murmúrio manso, represo e conciliador. Há de tudo no orfeão: tenores e tenorinos, baixos cantantes, sopranos de dó de peito fácil, barítonos enchumaçados, contraltos de voz suspensa. Nos intervalos, ouve-se o ponto. E tudo isto atordoa as estrelas e perturba as comunicações, como as tempestades solares.
Porque as palavras deixaram de comunicar. Cada palavra é dita para que não se oiça outra palavra. A palavra, mesmo quando não  afirma, afirma-se. A palavra não responde nem pergunta: amassa. A palavra é a erva fresca e verde que cobre os dentes do pântano. A palavra é poeira nos olhos e olhos furados. A palavra não mostra. A palavra disfarça.
Daí que seja urgente mondar as palavras para que a sementeira se mude em seara. Daí que as palavras sejam instrumento de morte – ou de salvação. Daí que a alavra só valha o que valer o silêncio do acto.
Há também o silêncio. O silêncio, por definição, é o que não se ouve. O silêncio escuta, examina, observa, pesa e analisa. O silêncio é fecundo. O silêncio é a terra negra e fértil, o húmus do ser, a melodia calada sob a luz solar. Caem sobre ele as palavras. Todas as palavras. As palavras boas e as más. O trigo e o joio. Mas só o trigo dá pão”.

José Saramago, “As Palavras” in Deste Mundo e do Outro – Crónicas
Caminho - 1986

sexta-feira, 18 de junho de 2010

OBRIGADA, SARAMAGO

Tinha eu 11 anos, e o meu pai pôs-me um livro nas mãos, com um esgar de gozo nas barbas: "só quando o leres é que és gente". Era o Memorial do Convento, e levei uns 3 anos a passar da primeira página. Quando consegui, finalmente, encher o meu mundo de Blimundas e barcarolas, passei de facto a ser mais gente. Obrigada, Saramago.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

AINDA SOBRE A IMPORTÂNCIA DA VERDADE E DA JUSTIÇA

Várias personalidades da vida pública e cultural espanhola dão voz a 15 vítimas da Guerra Civil de Espanha, executadas pelos franquistas "sem julgamento, advogado ou sentença". Segundo Emílio Silva, presidente da Associação para a Memória Histórica, o vídeo enche de vergonha os juízes que perseguiram Baltasar Garzón e impediram que estes crimes, e tantos outros, fossem investigados.
Não é só em nome da memória das vítimas nem da justiça para as famílias; é também em nome de um presente que não pode ser construído com base em feridas mal saradas, mentiras e impunidade.




quarta-feira, 16 de junho de 2010

THIS SONG IS A REBEL SONG

Importada das lutas pela emancipação na América, era uma das canções mais cantadas pelos manifestantes pelos direitos civis na Irlanda do Norte. Incluindo os que se manifestavam pacificamente em Derry naquele domingo sangrento em 1972. Foram precisos 38 anos para que o governo britânico reconhecesse o que já toda a gente sabia. Sem luta não há justiça. E se não há paz sem perdão, também não há paz sem justiça e sem verdade.

O TEMPO (CALCULISTA) DA VERDADE

Foram precisos 38 anos para que a verdade pudesse vir à luz do dia e reconhecer-se o que, sendo óbvio, pode agora aceitar-se sem que tal tenha qualquer inconveniente: a de que o “domingo sangrento” de Derry (ou Londonderry, na versão colonialista) não foi mais do que uma matança criminosa de inocentes pelo exército britânico. O actual chefe inglês pode acalmar a sua consciência e declarar-se muito pesaroso com o mesmo à vontade com que o chefe de então se vangloriava da acção correcta e firme das suas tropas.
Daqui a alguns anos, um qualquer chefe de Israel reconhecerá, muito pesaroso, que a matança de 9 pessoas e o ferimento de uma centena de cidadãos num barco de apoio humanitário a Gaza foi um acto criminoso das tropas de Israel – o chefe de agora afirmará que se tratou de um acto comedido e necessário à defesa do seu país.
Foram precisas dezenas de anos para que uns tantos defensores acérrimos do apartheid (entre os quais muita dita intelectualidade portuguesa) pudessem reconhecer que tal regime é um atentado à dignidade humana – agora já não perdem os seus lugares ao condená-lo. 
Foram precisos muitos anos para que pudessem ser reconhecidos como crimes várias práticas do estalinismo – até os secretários gerais comunistas de agora o aceitam com a mesma naturalidade com que os de antes o rejeitavam
Baltazar Garçon enganou-se no tempo: ainda não era possível mostrar a verdade sobre os crimes do franquismo. Por isso, tramou-se.
Será que a política é (também) a arte de armazenar e esconder a “verdade” até que ela possa, por inútil, ser “exposta”?

terça-feira, 15 de junho de 2010

CONCURSOS E AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO: UMA VITÓRIA DE QUE O M.E. SE DEVERIA ENVERGONHAR

O triunfo da mesquinhez política

O ministério da Educação  alegou junto do tribunal de Beja que a não inclusão dos efeitos do muito bom e do excelente nos concursos comprometeria irremediavelmente a abertura do próximo ano lectivo por ser necessário refazer o programa. Foi com base nesta pseudo-argumentação que o tribunal, reconhecendo embora as razões da providência cautelar interposta pela FENPROF, decidiu, a contra-senso, a favor do ministério da Educação.
Vale a pena reflectir sobre esta anormalidade.

1. O ministério da Educação (esta equipa segue a senda das anteriores) é useira e vezeira no uso desta táctica: sempre que os cidadãos pretendem denunciar e combater erros e injustiças nos concursos, o ministério invoca o “interesse público” para que, independentemente das razões que os professores possam ter, a solução seja sempre a que a M.E. quer impor. É óbvio que um eventual recurso dos professores ao tribunal é inútil porque a decisão surgirá sempre muito tarde em relação ao que se pretende.

2. Mas neste caso a situação é ainda mais grave. Antes do mais, porque toda a equipa do M.E. e muito particularmente o secretário de Estado Alexandre Ventura, pelas funções que então exercia, conhece a verdadeira fraude  e total incoerência que foi o processo de avaliação de desempenho no biénio 2007-2009. Sabem-no e muitas vezes o disseram em diversas reuniões. Por outro lado, porque foi alertada pelos sindicatos (a FENPROF, mas não só) logo em Janeiro para a necessidade de acautelar esta situação. Manifestou então a equipa do M.E. concordância com as nossas preocupações, dando sempre a entender que a avaliação de desempenho não interferiria neste concurso. Finalmente porque foi afirmado, para quem quis ouvir, por altos responsáveis do M.E., que tinham prontas duas aplicações, uma incluindo as alterações ocasionadas pela contemplação das notas da avaliação de desempenho e outra ignorando esses dados. Ou seja, ou o M.E. mentiu quando reuniu com os sindicatos ou mentiu ao Tribunal de Beja.

3. São de vária índole as consequências deste comportamento dos responsáveis do M. E. Compromete-se a natural confiança entre as partes da negociação, sendo justo duvidar da seriedade das posições que os responsáveis do M.E. venham a assumir ou que anunciem vir a assumir. Mas sobretudo, trata-se da vitória da baixa política, da política manhosa que faz prevalecer os mesquinhos interesses conjunturais sobre a verdade e a justiça. Porque é de justiça que se trata: os responsáveis do ministério da Educação sabem muito bem que, recorrendo à mentira atrás denunciada, levaram o tribunal a decidir que, num processo atrabiliário, incoerente e absurdo, uns tantos professores e educadores se vejam, sem qualquer culpa, ultrapassados nas listas de colocação. Tudo isto em nome de um pretenso objectivo político: vincar bem que quem manda é o governo, mesmo que a “ordem” seja injusta e absurda.

Estes mesquinhos comportamentos mais não fazem do que desacreditar a política e os políticos, que é suposto serem pessoas de bem. Mas é o próprio direito à justiça que é posto em causa.
Finalmente, será que o Tribunal procurou certificar-se de que a ameaça da não abertura do ano lectivo no tempo devido tinha fundamento? Creio que não. Porque, de facto, não tem.   

domingo, 13 de junho de 2010

PRIMAVERA #5















Fotografia de Felizarda Barradas, professora, dirigente do SPGL e fotógrafa. 

sábado, 12 de junho de 2010

AVALIAÇÃO NO CONCURSO DE PROFESSORES: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FALTOU À VERDADE!


Ao contrário do que, alegadamente, terá acontecido com o Ministério da Educação, o SPZS/FENPROF não foi ontem notificado pelo Tribunal Administrativo e Fiscal de Beja sobre qualquer novo acórdão relativo à inclusão, ou não, da avaliação no concurso.
Assim, sobre esse processo, a FENPROF apenas conhece três notificações: a que informa do decretamento provisório da providência cautelar que mandou prosseguir o concurso, mas suspendendo a consideração da avaliação; a que, proferida por um colectivo de juízes, mantém esse decretamento, na sequência de requerimento apresentado pelo ME; a que condena a Ministra da Educação ao pagamento de multa por não ter cumprido a decisão do tribunal.
Face à declaração, ontem, do Secretário de Estado Adjunto e da Educação, dando conta da existência de um novo acórdão, a mandatária do SPZS/FENPROF encontrou-o no sítio electrónico dos Tribunais Administrativos, datado de ontem, dia 11. Confirmou, entretanto, não ter recebido qualquer notificação sobre o mesmo.
Feita a leitura do referido acórdão, conclui-se que o tribunal considera improcedentes as excepções que o ME suscitou ao longo do processo. Afirma, contudo, o tribunal, e assim conclui, que:
“…a concessão de uma providência cautelar depende dum juízo de ponderação dos interesses em jogo na situação concreta, de forma que a providência cautelar deve ser recusada se os danos que se pretendem evitar com a mesma se mostrarem superiores àqueles que podem resultar da sua recusa.
Isto é, quando, como sucede no caso em apreço, o prejuízo resultante para a Entidade Requerida(aquela que por força das suas atribuições e competências, em primeiro lugar compete assegurar o regular funcionamento do sistema de ensino e que alega, concretizando, não conseguir cumprir com o decretamento) se mostre superior ao prejuízo (que, resumidamente, o Requerente alegou como sendo os danos irreparáveis no percurso profissional dos docentes seus associados) que se quer afastar com a providência”.
Resulta esta conclusão, directamente, do facto de o ME ter alegado, como se pode ler na página 22, que “…a decisão que implica a alteração da fórmula da graduação prevista no art. 14.º do Decreto-Lei 20/2006, de 31 de Janeiro, implicaria a alteração profunda do algoritmo por alteração dos factores que constituem a fórmula, impondo a paralisia do procedimento concursal em curso traduzindo-se num impedimento incontornável da publicação dos resultados no dia 30 de Agosto, num grande atraso no início do ano lectivo, com as respectivas implicações e acresceria substancialmente o custo que o Estado tem com o concurso…”
Este argumento utilizado, pelo ME, junto do TAF de Beja é contrariado pela informação que, em 8 de Abril, em reunião realizada na DGRHE, entre o respectivo Director-Geral e as organizações sindicais de professores, o dirigente da administração educativa prestou. Na ocasião, o Director-Geral da DGRHE informou estar tudo preparado para as duas soluções: ser considerada ou não ser considerada a avaliação no concurso. Segundo o mesmo, estariam concluídas duas plataformas informáticas, o que significava que, em nenhum dos casos, daí decorreria qualquer problema para o normal desenvolvimento do concurso. Acrescentou, no entanto, que a decisão política sobre a solução a adoptar não era sua competência, mas sim dos membros da equipa ministerial.
No dia seguinte, 9 de Abril (data de publicação do Aviso de Abertura do Concurso e último dia útil antes do início da fase de candidaturas), em reunião realizada entre o ME e a FENPROF, no âmbito de negociação suplementar sobre avaliação de desempenho, esta questão foi colocada, merecendo registo na acta já assinada pelo Secretário-Geral da FENPROF e pelo Secretário de Estado Adjunto e da Educação:
“No final da reunião, a FENPROF colocou o problema da consideração da avaliação do desempenho no concurso. De acordo com o Secretário-Geral, a DGRHE informara, em reunião realizada na véspera, estar preparada para as duas soluções: contar ou não contar. Contudo, segundo o director-geral, a decisão política não lhe competia, pelo que aguardava que fosse tomada. O Secretário-Geral repetiu, então, as situações criadas com a consideração da avaliação, tendo entregado ao SEAE um documento em que constavam. A FENPROF alertou, ainda, para o facto de a fase de candidaturas se iniciar na segunda-feira, dia 12, e de não se poder aguardar muito mais tempo pela decisão política, reiterando a necessidade de a avaliação não ser considerada neste concurso como, frisou, há muito a FENPROF vinha alertando.

O SEAE agradeceu o documento, referindo ter conhecimento de muitas das questões, e informou não haver ainda uma decisão política sobre a matéria, pedindo à FENPROF que aguardasse mais algum tempo. “ Acrescentaria que o assunto não se encontrava encerrado, mas sendo complexo carecia de análise e reflexão sobre situações que colocavam dificuldades técnicas ou de outra natureza. Compreendiam-se quais: as de natureza política!
Infere-se, portanto, que o Ministério da Educação não falou verdade junto do tribunal, pois alegou com a criação de prejuízos que sabia não existirem. Perante este facto, a FENPROF, através do SPZS, irá recorrer da decisão logo que receba a notificação. Além disso, esta acção ainda se encontra na fase de decisão da providência, pelo que ainda terá de decorrer a acção principal.
Relativamente às restantes acções (intimações e não providências cautelares) interpostas nos TAF de Porto, Coimbra e Lisboa, convém recordar que, em nenhum dos casos, o tribunal se pronunciou sobre a matéria de fundo, apenas se referindo a aspectos de carácter formal que, mesmo assim, a FENPROF refuta, pelo que recorrerá de todas as decisões. Já em relação ao Tribunal do Funchal, talvez o ME não tivesse lido com atenção o processo, pois se o fizesse concluiria que a acção nada tinha a ver com este assunto, mas com o destacamento, para o continente, de professores portadores de doenças graves que o Ministério da Educação, de uma forma perfeitamente insensível, rejeitou.
De resto, a preocupação maior da FENPROF em relação aos professores contratados continua a ser com a difícil possibilidade de, no próximo ano, serem colocados. As medidas que o ME está a tomar (encerramento de escolas, fusão de agrupamentos, integração generalizada de escolas secundárias nos actuais agrupamentos), entre outras que se prepara para anunciar, levarão a que a esmagadora maioria destes docentes fique no desemprego. Essa é a realidade e o problema mais sério com que se debaterão os professores actualmente contratados.

Coimbra, 12 de Junho de 2010

O Secretariado Nacional

1 GOAL – EDUCATION TO ALL –

Muitas das camisolas ostentadas durante o espectáculo de abertura do mundial de futebol na África do Sul ostentavam a mensagem “1 Goal – Education to all”. Como professor e educador que sou com muito orgulho, fiquei satisfeito. O que não me impede, porém, de sublinhar que não basta que se frequente uma escola. Afinal, “Education”, e da chamada superior , tinham-na muitos dos defensores do apartheid (Ainda me recordo a força com que alguns “democratas” de hoje defendiam o valor do regime sul-africano de então que apontavam como modelo aos povos vizinhos)! “Education” de todos os graus tinham-na os dirigentes nazis. E os responsáveis pelos crimes do estalinismo não eram propriamente analfabetos. E não são altamente doutorados em universidades de “nome feito” os economistas para quem a pobreza e a miséria dos povos são efeitos colaterais do sacrossanto mercado?
Não se conclua daqui que sou pela não educação. Bem pelo contrário. Mas à “education to all” deve acrescentar-se: what kind of education? e what for?  

sexta-feira, 11 de junho de 2010

PORTUGAL OU UNIÃO EUROPEIA?

Ontem, 10 de Junho, foi Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades. Já teve nomes mais "esquisitos": o dia da Raça (!).
Será certamente de Camões para quem leu — e tenha gostado — de Os Lusíadas. Das comunidades? Quais — as comunidades portuguesas que tentam na estranja o que cá não conseguiram — uma vida em condições — ou as que, vindas de várias paragens, contribuem para a nossa sobrevivência (nossa e deles, está claro)? É certo que temos uma cultura a preservar, que temos uma história própria, que temos gente que se distinguiu. Mas que sentido fará nos tempos actuais comemorar o dia de um país (seja ele qual for) se tudo indica que a "solução" (se é que a há) para a crise económica e social global parece assentar na dissolução da soberania de cada país numa união política e económica
da Europa, união em que uns (que não Portugal) mandam e outros… fingem que tem opinião?
Dir-me-ão que podem conciliar-se estas duas posições: uma união europeia mantendo o espírito nacional. Parece-me que manter esta ambiguidade, em que se finge que há países soberanos ao mesmo tempo que se finge que há uma união europeia, é o pior dos caminhos. É o caminho da paralisia que leva ao abismo. Um abismo em que uns poucos enriquecem escandalosamente cada vez mais à culpa da maioria, que faz "das tripas coração" para sobreviver. Talvez a estes seja possível impingir o conforto do patriotismo...do Dia da Nação.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

CARVALHO DA SILVA LAPIDAR

“Não temos, neste momento, governação a sério na Europa. O que temos é uma espécie de comissários, malfeitores que interpretam os interesses de meia dúzia de privilegiados” (Carvalho da Silva, TSF, cit. Público de 9 de Junho). Simplesmente brilhante!

terça-feira, 8 de junho de 2010

CONCURSOS: NEM A RADICAL IMAGINAÇÃO CRIADORA SALVA O M.E.!

Por mais voltas que dê, o M.E. não tem saída neste imbróglio do concurso para contratação. Insiste em querer considerar os efeitos do Muito Bom e do Excelente no concurso, apesar da verdadeira "fantochada" que foi o processo de avaliação de desempenho no ano passado. Ontem, ordenou aos Directores das escolas que não tinham utilizado a "plataforma" que "arredondassem" as classificações quantitativas (por exemplo, de 7,5 para 8...) mas mantendo a notação qualitativa (no exemplo dado, apesar de ficar com 8, o docente continuaria a ter apenas BOM (Note-se que 8 implicaria a atribuição de Muito Bom). Alterou a aplicação para que tal "novidade" fosse aceite. Esqueceu-se porém que há uns meses atrás, as escolas que "arredondaram" alteraram também a notação "qualitativa". A disparidade de procedimentos mantém o problema. Até quando imperará a falta de senso e de realismo?

(NOTA: Consta, de fonte fidedigna, que para tentar "ganhar" esta guerra nos tribunais o M. E. contratou advogados externos. A ser assim, é um bom exemplo no combate ao défice!)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

HELENA PAIXÃO E TERESA PIRES

Merecem sempre aplauso os que em defesa dos ideais nobres em que acreditam suportam ignomínias, resistem a pressões ilegítimas e denunciam arbitrariedades. Estas duas mulheres assumiram publicamente a sua homossexualidade, lutaram mais do que qualquer outros pelo direito ao casamento. Pelo que li, a sua frontalidade e coragem custaram-lhes o desemprego, a marginalização, a instabilidade das suas vidas. Elas merecem a honra se serem o primeiro casal homossexual legalizado. Mas a sua vitória só se confirmará quando o casamento entre pessoas do mesmo sexo for tão noticiado como o casamento heterossexual, isto é, quando deixar de ser novidade e portanto deixar de ser notícia.

domingo, 6 de junho de 2010

PEQUENAS NOTAS

Sobre o encerramento de escolas com menos de 20 alunos
O que deveria funcionar como critério era encontrar as formas de superar os casos em que realmente haja elevadas taxas de insucesso. Não é  verdade que todas as escolas com menos de 20 alunos tenham menor sucesso que outras com número mais elevado de alunos. Não é líquido que a  passagem dos alunos para outra escola só porque esta é maior melhore as  aprendizagens.
Haveria que analisar cada uma das situações e não impor uma medida  única, absoluta e meramente administrativa: tem menos de 20, então fecha! 

Hipermegaagrupamentos?
Que um agrupamento possa ter 3000 alunos revela apenas total desprezo  pela qualidade da escola. Se o agrupamento tiver uma secundária com 1000 alunos e uma EB2,3 com outros 1000 (em qualquer dos casos já escolas enormes) terá mais 1000 divididos por não sei quantas escolas do 1.º ciclo e jardins de infância. Daqui resultarão departamentos, grupos  disciplinares e conselhos de docentes com um elevadíssimo número de membros, o que os tornará inoperacionais. Haja limites para a poupança a 
todo o custo!

O bloqueio a Gaza
O bloqueio a Gaza é um crime contra milhões de palestinianos. Que são  pessoas com os mesmos direitos de qualquer outras. A tolerância internacional contra este crime é ela própria um crime. E  uma vergonha. Será que Obama não quer entender?

sábado, 5 de junho de 2010

SORRISOS AMARELOS

Um indisfarçável esgar de amarga ironia é o que nos consegue provocar a soleníssima garantia de Sócrates de que não haverá novos aumentos de impostos nem neste nem no próximo ano. Infelizmente, esta é a confiança que o primeiro-ministro nos merece. Poderá um povo ser governado assim?

quinta-feira, 3 de junho de 2010

AINDA SOBRE A AGRESSÃO DE ISRAEL

“Cegos por Israel” é uma excelente crónica de Rui Tavares inserta no Público de 2 de Junho. Merece uma leitura integral. Mas se para tal não tiver tempo, aqui ficam duas passagens:
“(O governo de israel) É um governo pária que deve ser tratado como qualquer Governo pária.” (Nota minha: o Governo e não o Estado como lamentavelmente eu escrevi ontem neste mesmo blogue).
“Diz-se que os fanáticos s são os piores inimigos de Israel. É verdade. Os fanáticos muçulmanos. Os fanáticos pseudo-amigos de Israel no Ocidente. E, cada vez mais, os fanáticos no próprio Governo israelita.”

terça-feira, 1 de junho de 2010

ISRAEL – A BARBARIDADE IMPUNE

O provérbio popular diz de alguém que impunemente comete crimes ou fraudes ou ilegalidades é que não é por eles condenado que” tem as costas quentes”. Porque “tem as costas quentes” o crime de Israel passará mais uma vez impune para nossa vergonha colectiva. É difícil encontrar um exemplo mais claro do que seja “terrorismo de Estado” do que o ataque de Israel a um “comboio marítimo humanitário”. Pelos vistos, 10 mortos, dezenas de feridos e de detenções são crime pequeno.
Israel – o estado, que não o povo – é bárbaro. Se a comunidade internacional não impuser a Israel sanções efectivas como as que vem infligindo a povos bem menos bárbaros, desacreditar-se-á de forma brutal.
E nós, o que podemos fazer?