sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

BALANÇO DE 2010

Para o comum dos portugueses, é indiscutível que o ano de 2010 foi um ano mau (só não escrevo horrível porque tudo indica que 2011 será pior). Pior do que os sucessivos PECs foi o aumento do desemprego, sadicamente acompanhado da diminuição dos apoios concedidos aos desempregados.
Mas creio que o pior que nos aconteceu foi o ambiente de profunda descrença nas instituições e no futuro que tomou conta de nós. Diz-se – e com comprovada razão – que as futuras gerações viverão pior; regride-se nas leis laborais a níveis semelhantes aos do século XIX; idealizámos uma sociedade mais igualitária mas confrontamo-nos com uma sociedade onde se acentua a desigualdade. E, talvez na base de tudo isto, desacreditamos das instituições políticas: temos um primeiro-ministro conhecido pelo envolvimento em constantes situações pouco claras a serem dirimidas nos tribunais e publicamente definido como uma espécie de mentiroso compulsivo; um ministério da Educação que se preza em não cumprir os acordos que fez com os sindicatos; um presidente da República, tido como um reputado economista, que acha normal que um Banco (ou uma sociedade de investimentos) remunere acções (entre as quais as suas), no espaço de 2 anos, com 140% de lucro – lucros que agora nos custam a todos nós mais de 5 mil milhões de euros; uns submarinos cuja compra (necessária?) está envolta em cenas de requintada e proveitosa corrupção, um líder da oposição, presumivelmente futuro primeiro-ministro, mais neoliberal do que os neoliberais. E a lista poderia continuar.
Mais grave ainda: ninguém consegue vislumbrar o caminho para se sair desta “apagada e vil tristeza.” Contentamo-nos com o irracional desejo de que 2011 não seja pior do que 2010. Ou, pelo menos, que não seja tão mau como tememos.

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